Castro Alves

Poeta brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Castro Alves

Castro Alves (1847-1871) foi um poeta brasileiro, representante da Terceira Geração Romântica no Brasil. "O Poeta dos Escravos" expressou em suas poesias a indignação aos graves problemas sociais de seu tempo. É patrono da cadeira n.º 7 da Academia Brasileira de Letras.

Infância e juventude

Antônio Frederico de Castro Alves nasceu na vila de Curralinho, hoje cidade de Castro Alves, Bahia, em 14 de março de 1847. Era filho de Antônio José Alves, médico e também professor, e de Clélia Brasília da Silva Castro.

Em 1854 sua família mudou-se para Salvador, pois seu pai foi convidado para lecionar na Faculdade de Medicina. Em 1858 ingressou no Ginásio Baiano onde foi colega de Rui Barbosa.

Demonstrou vocação apaixonada e precoce pela poesia. Em 1859 perdeu sua mãe. No dia 9 de setembro de 1860, com 13 anos, recitou sua primeira poesia em público em uma festa na escola.

No dia 24 de janeiro de 1862, seu pai se casou com a viúva Maria Ramos Guimarães. No dia 25, o casal, o poeta e seu irmão José Antônio partiram no vapor Oiapoque para a cidade do Recife onde o jovem iria fazer os preparatórios para ingressar na Faculdade de Direito. 

A Faculdade de Direito e as Ideias Abolicionistas

Castro Alves chegou no Recife em uma época que a capital pernambucana efervescia com os ideais abolicionistas e republicanas. Cinco meses depois de chegar, publicou o poema “A Destruição de Jerusalém”, no Jornal do Recife, recebendo muitos elogios. Na tentativa de entrar na Faculdade de Direito, Castro Alves foi reprovado duas vezes. 

No Teatro Santa Isabel, que se tornou quase um prolongamento da faculdade, realizavam-se verdadeiros torneios entre os estudantes. Nesse ambiente, em março de 1863, durante uma apresentação da peça Dalila, de Octave Feuillet, Castro Alves se encantou com a atriz Eugênia Câmara.

Em 17 de maio publicou no jornal “A Primavera” sua primeira poesia sobre a escravidão:

Lá na última senzala, 
Sentado na estreita sala, 
Junto ao braseiro, no chão, 
Entoa o escravo seu canto 
E ao cantar correm-lhe em pranto 
Saudades do seu torrão.

Um mês depois, enquanto escrevia uma poesia para Eugênia, os sintomas da tuberculose começaram a aparecer. Em 1864 faleceu seu irmão. Mesmo abalado, foi finalmente aprovado no curso de Direito.

Castro Alves participava ativamente da vida estudantil e literária. Publicava suas poesias no jornal “O Futuro”. No 4.º número, publicou uma sátira à academia e aos estudos jurídicos.

A doença e o caso de amor

No dia 7 de outubro, provou o gosto da morte. Uma dor no peito e uma tosse incontrolável o fez lembrar, da mãe e dos poetas que morreram com a doença. No ímpeto, escreveu “Mocidade e Morte”.

No mesmo ano, voltou para a Bahia, faltando aos exames e perdendo o ano na faculdade. Em Salvador, na casa da Rua do Sodré, procurava repousar. Em março de 1865 ele retornou ao Recife e ao curso de Direito. Isolado no bairro de Santo Amaro, vivia com a misteriosa Idalina.

Ao visitar o amigo Maciel Pinheiro, condenado à prisão escolar, no térreo do Colégio das Artes, por haver criticado a academia em um artigo no Diário de Pernambuco, escreveu o poema “Pedro Ivo”, exaltando o revolucionário da Revolução Praieira e o ideal republicano:

República!... Voo ousado/ Do homem feito condor! Novamente a palavra o condor aparece em sua poesia, simbolizando a liberdade. Mais tarde, foi chamado de Poeta Condoreiro.

No dia 11 de agosto de 1865, na abertura solene das aulas, a sociedade pernambucana se reuniu no salão nobre da faculdade para ouvir os discursos e saudações das autoridades, professores e alunos.

Castro Alves foi um deles: “Quebre-se o cetro do Papa,/ Faça-se dele uma cruz!/ A púrpura sirva ao povo/ Para cobrir os ombros nus. (...)”. Os mais velhos olhavam admirados e os mais jovens deliravam.

No dia 23 de janeiro de 1866 morreu seu pai, deixando cinco filhos menores de 14 anos. A responsabilidade ficou com a viúva e com Castro Alves, então com 19 anos.

Nessa época, Castro Alves iniciou um intenso caso de amor com Eugênia Câmara, dez anos mais velha que ele. Em 1867 partiram para a Bahia, onde ela iria representar um drama em prosa, escrito por ele "O Gonzaga ou a Revolução de Minas".

Em seguida, Castro Alves partiu para o Rio de Janeiro onde conheceu Machado de Assis, que o ajudou a ingressar nos meios literários. Em seguida, foi para São Paulo e conclui o Curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.

Em 1868 rompeu com Eugênia. De férias, em uma caçada nos bosques da Lapa, feriu o pé esquerdo com um tiro de espingarda, resultando na amputação do pé. Em 1870 voltou para Salvador onde publicou Espumas Flutuantes, único livro editado em vida, no qual apresenta uma poesia lírica, exaltando o amor sensual e a natureza, como no poema Boa Noite.

Boa-noite

Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio...
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!... E tu dizes – Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não me digas descobrindo o peito,
– Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve.. a calhandra
já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
...Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."

É noite ainda! Brilha na cambraia
– Desmanchado o roupão, a espádua nua –
o globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...

É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas...
– São as asas do arcanjo dos amores.

A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...

Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
– Boa noite! –, formosa Consuelo...

Castro Alves faleceu em Salvador, no dia 6 de julho de 1871, vitimado pela tuberculose, com apenas 24 anos de idade.

Características da Obra de Castro Alves

Castro Alves é a maior figura do Romantismo. Desenvolveu uma poesia sensível aos problemas sociais de seu tempo e defendeu as grandes causas da liberdade e da justiça.

Denunciou a crueldade da escravidão e clamou pela liberdade, dando ao Romantismo um sentido social e revolucionário que o aproximava do Realismo. Sua poesia era como um grito explosivo a favor dos negros, sendo por isso denominado “O Poeta dos Escravos”.

Sua poesia é classificada como “Poesia Social”, que aborda o tema do inconformismo e da abolição da escravatura, através da inspiração épica e da linguagem ousada e dramática como nos poemas: Vozes d’África e Navios Negreiros, da obra Os Escravos (1883), que ficou inacabada.

      Navios Negreiros

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri! 

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
        Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
        E ri-se Satanás!... 

Como “Poeta do Amor” ou “Poeta Lírico”, a mulher não aparece distante, sonhadora, intocada como se apresenta em outros românticos, mas uma mulher real e sensual. Foi também o “Poeta da Natureza”, como se observa nos versos de “No Baile na Flor” e “Crepúsculo Sertanejo”, quando enaltece a noite e o Sol, como símbolos da esperança e liberdade.

Poesias de Castro Alves

  • A Canção do Africano
  • A Cachoeira de Paulo Afonso
  • A Cruz da Estrada
  • Adormecida
  • Amar e Ser Amado
  • Amemos! Dama Negra
  • As Duas Flores
  • Espumas Flutuantes
  • Hinos do Equador
  • Minhas Saudades
  • O "Adeus" de Teresa
  • O Coração
  • O Laço de Fita
  • O Navio Negreiro
  • Ode ao Dois de Julho
  • Os Anjos da Meia Noite
  • Vozes d'África
Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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