As principais ideias de Karl Marx e sua crítica ao capitalismo

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Karl Marx (1818-1883) foi um dos mais importantes pensadores de todos os tempos do mundo ocidental.

O intelectual, que viveu em meados do século XIX, estudou especialmente as áreas das ciências políticas, da economia, da filosofia e da sociologia.

Longe de ser apenas teórico, Marx foi também um ativista e acreditava que todos deveriam ser agentes transformadores da sociedade para que fosse possível haver uma mudança concreta.

Teoria e prática são inseparáveis

Para o pensador, a sua filosofia era também a prática, isto é, a prática não deveria ser separada de forma nenhuma do ato de pensar.

Marx ficou conhecido por dar uma enorme importância a Práxis, as ideias que se traduziam em ação.

Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas formas; o que importa é modificá-lo.

Para Marx era necessário atuar e não ficar apenas no plano das ideias. Apesar de ter escrito muito material teórico e de ter pensado sobre a sociedade de uma forma mais acadêmica e formal, Marx sempre manteve em paralelo a sua versão ativista, mobilizando trabalhadores e procurando imprimir na sociedade aquilo que acreditava. 

O intelectual foi redator de uma gazeta, participou da Liga dos Comunistas e ajudou a formar a Primeira Internacional (uma reunião de trabalhadores internacionais).

Como militante e ativista, escreveu livros, mas também colocou em prática o seu pensamento.

Existe um eterno conflito entre as classes sociais

Para Karl Marx era impossível pensar numa sociedade capitalista sem que existisse também uma luta de classes entre proprietários e não proprietários, operários e patrões.

Marx acreditava que o proletariado - os trabalhadores - vendiam a sua força de trabalho para os burgueses, que queriam obter cada vez mais lucro diminuindo os salários e aumentando as jornadas de trabalho. Em outras palavras, os donos dos meios de produção procuravam ao máximo aumentarem os lucros, mesmo que isso significasse tornar a vida dos seus operários pior. 

A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história da luta de classes. (...) A sociedade divide-se cada vez mais em dois campos opostos, em duas grandes classes em confronto direto: a burguesia e o proletariado.
(Manifesto do Partido Comunista, 1848)

Marx criticava a acumulação típica do capitalismo, que criava um abismo entre as classes sociais cada vez maior.

O teórico refletiu nas suas obras sobre as diferenças sociais e o embate entre as camadas mais ricas e mais pobres da sociedade ao longo da história. 

Karl Marx enxergou a luta de classes não como um problema do seu tempo, mas sim como uma questão que existia desde o princípio da sociedade capitalista.

A união dos trabalhadores é fundamental

No Manifesto Comunista (1848), escrito em parceria com Engels, Marx relembra a longa história dos operários, defendendo a união dos trabalhadores e criticando o capitalismo. 

Os autores relembram que a história escrita de todas as sociedades que já existiram é uma história de conflitos, de lutas de classes (opressores versus oprimidos, trabalhadores versus proprietários). 

Na sociedade contemporânea de Marx essa tensão se percebe nos confrontos entre a burguesia e o proletariado. O Estado, nesse contexto, segundo o intelectual, nada estava fazendo além de ser um comitê para gerir os interesses da classe burguesa. E os burgueses tinham como compromisso típico defender os seus próprios interesses: explorar, estabelecer negócios cada vez mais rentáveis e expandir os lucros para outros territórios.

A burguesia teria concentrado em poucas mãos o lucro e centralizou os meios de produção, tendo também subordinado o campo a cidade. Com esse tipo de sociedade também se criou o proletariado, pessoas que só vivem enquanto têm trabalho e só têm trabalho enquanto seu trabalho aumenta o capital. 

Marx e Engels também abordaram no Manifesto as consequências das entradas das máquinas na produção, impactando o tipo de trabalho realizado pelo proletariado e o seu custo.

Como o Manifesto Comunista foi escrito para os operários lerem, ele possuía uma linguagem acessível, de modo a transparecer informação para os trabalhadores que tinham tido pouco acesso ao ensino.

O Manifesto Comunista foi um texto tão importante que rapidamente foi publicado em inglês, francês, alemão, italiano, flamengo e dinamarquês de modo a se tornar compreensível para um grande número de trabalhadores.

É tempo de os comunistas exporem, abertamente, ao mundo inteiro, seu modo de ver, seus objetivos e suas tendências, opondo um manifesto do próprio partido à lenda do espectro do comunismo.

No Manifesto Comunista se expõe de maneira bastante simplificada as ideias centrais de Marx destacando especialmente a luta de classes ao longo da história desde a sociedade feudal até os dias que viviam. 

Além de fazer esse apanhado do passado, o pensador convoca os leitores do Manifesto a mudarem o futuro se mobilizando no presente. 

A sociedade capitalista gera problemas

Karl Marx dedicou toda a sua carreira a pensar no modo de produção capitalista. Especialmente na coletânea O capital (1867), Marx refletiu sobre a forma de produção e distribuição da riqueza que gera a luta de classes não só na Alemanha e na Europa como, de uma forma geral, no mundo ocidental exposto ao capitalismo.

Na coletânea de Marx se sublinha como o trabalhador - o proletariado - é explorado, de forma ao proprietário obter um lucro cada vez maior. Em O capital, produção mais teórica e de compreensão mais densa se comparada ao Manifesto, o pensador apresenta conceitos chave como a mais-valia, a acumulação primitiva e o impacto das inovações tecnológicas nos meios de produção. 

Marx também pensa o funcionamento do mundo e da sociedade ocidental capitalista, refletindo sobre o que vem sendo cada vez mais valorizado (o mundo do ter) e cada vez mais deixado de lado (o mundo do ser):

A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas.

Para Marx, o capitalismo continha momentos de crise recorrentes, ao contrário do que achava Adam Smith, que julgava que o capitalismo se autorregulava. O que Marx apontou, sobre as crises serem sazonais, foi depois denominada pelos economistas de períodos de recessão que, de fato, se revelaram típicos do sistema capitalista.

Para Marx, o capitalismo não era sustentável e acabaria por enterrar a si mesmo com o tempo (segundo o intelectual, o capitalismo gera o seu próprio coveiro). A alternativa que propôs foi a revolução social feita pelos trabalhadores. 

As principais críticas à sociedade capitalista foram resumidas no primeiro volume da obra O Capital, publicada em 1867.

Os trabalhadores são capazes de mudar a sociedade

Marx chegou à conclusão que os trabalhadores são os agentes transformadores da sociedade, que podem se rebelar devido às condições econômicas desfavoráveis a que são submetidos.

O pensador acreditava que, se os trabalhadores se unissem, eram capazes de criarem uma sociedade sem classes. A esse grande momento de mudança Marx deu o nome de Revolução Socialista. Depois dela, segundo ele, seria possível se estabelecer uma nova ordem social mais justa e igualitária.

Em 28 de setembro de 1864 foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores, que se reuniu pela primeira vez em Londres, e foi baseada nos valores de Marx tendo o intelectual como um importante articulador do movimento.

Proletários de todos os países, uni-vos

A ideia era reunir trabalhadores de diversas classes para se pensar nos problemas comuns e nas possíveis soluções em termos coletivos. Os ativistas defendiam, por exemplo, o direito à greve e a solidariedade entre os trabalhadores. 

Durante a Primeira Internacional também foi levantada a necessidade de se reduzir a jornada de trabalho de mulheres e crianças, de estimular a organização de sindicatos para defenderem os trabalhadores e de se promover o trabalho cooperativo. 

Foi igualmente discutida uma jornada de trabalho internacional de 10 horas. O conselho geral da Primeira Internacional era formado por um representante da Alemanha, um da Itália, um da Polônia, um da Suíça e um da França.

A organização fez sucesso e cresceu para outros pontos da Europa, tendo tido algumas divisões internas. Em 1870 teve os trabalhos interrompidos devido à guerra, mas em 1889 voltou a se organizar no Congresso de Paris dando origem a Segunda Internacional.

A sociedade ideal imaginada por Marx não teria desigualdade social e econômica

A princípio, o Estado seria comandado por uma espécie de ditadura do proletariado, que controlaria a sociedade. Nesse contexto, não haveria mais propriedade privada. Em um segundo momento, seria possível diluir o próprio Estado. 

O Estado, como conhecemos hoje, que acaba por exercer domínio sobre uma classe social, seria substituído por uma sociedade igualitária, sem exploradores e explorados. Nessa sociedade ideal não haveria qualquer tipo de desigualdade social ou econômica e todos os trabalhadores seriam livres e teriam direito aos bens essenciais. 

Para Marx: As revoluções são a locomotiva da história e Os trabalhadores não têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes.

Quem foi Karl Marx

O filósofo e socialista alemão Karl Marx foi um revolucionário que nasceu em 1818, faleceu em 1883, e dedicou a sua carreira intelectual a refletir sobre o capitalismo.

Grande crítico do sistema, os seus estudos foram fundamentais para uma série de áreas como a sociologia, a economia, a filosofia, o direito e a política. 

Filho de um advogado e conselheiro da justiça (Herschel Marx), Karl também fez direito e, durante a graduação cursada na Universidade de Bonn, começou a se envolver com o movimento estudantil. 

Depois de transferir a sua graduação para o curso de filosofia na Universidade de Berlim, começou a se alinhar cada vez mais com a esquerda procurando refletir sobre as questões sociais não só na Alemanha, mas também no contexto ocidental. 

Apesar de ter feito doutorado (na Universidade de Jena), não conseguiu dar aulas na instituição por motivo de divergência ideológica. Marx sofre também com a censura, muda de país, mas em nenhum momento da vida deixa de estudar e divulgar aquilo que o inquietava. 

Ativista, Marx não foi só um pensador e teve participação ativa na sociedade tanto através dos seus textos - ele chegou a ser diretor do jornal Gazeta Renana - como também organizando uma série de eventos procurando unir os trabalhadores para reivindicarem melhores condições de vida.

Defensor da causa operária, foi perseguido e convidado a se retirar de uma série de países de Europa.

Como intelectual foi autor de obras importantes como o Manifesto Comunista (1848) e O Capital (1867).

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).