14 frases de Paulo Freire explicadas para entender suas ideias

Laura Aidar
Laura Aidar
Formada em Comunicação

Paulo Freire (1921-1997) foi um reconhecido educador e pensador, o mais importante pedagogo brasileiro do século XX.

Nascido em Pernambuco, o professor acreditava em um método de ensino em que a aprendizagem se dá a partir da realidade dos educandos e educandas, valorizando a prática e orientando-os a desenvolver uma leitura crítica do mundo.

Prestigiado no mundo inteiro, Paulo Freire se tornou referência para pensar a educação de uma maneira efetiva e inclusiva, que prioriza a classe trabalhadora e explorada.

Seus pensamentos podem ser lidos em diversos livros publicados, entre eles Educação como prática da liberdade (1967), Pedagogia do oprimido (1968) e Pedagogia da autonomia (1997), só para citas alguns.

1. Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.

Essa é talvez a citação mais famosa de Paulo Freire. Na frase, presente em Pedagogia do Oprimido, ele reitera a importância de uma educação que, além de ensinar conceitos básicos como a capacidade de escrever e ler, alfabetize o povo para uma interpretação reflexiva do seu entorno. 

Dessa forma, buscando a liberdade e entendendo que as opressões vêm de uma estrutura social complexa de exploração, as pessoas tendem a se identificar com um sentimento de luta e solidariedade, e não de inveja e competição.

2. A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa.

Essa frase expressa a necessidade de realizar uma troca verdadeira entre educando(a) e educador(a). 

É preciso tratar os assuntos de maneira corajosa e transparente, mesmo que, algumas vezes, sejam temas desconfortáveis ou polêmicos.

3. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.

Aqui, percebemos como o educador acreditava ser possível uma revolução social através da união entre a educação e outras políticas públicas e coletivas.

4. Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.

Outro ponto relevante em seu pensamento é a ideia de que o ensino se aprofunda quando as pessoas têm as ferramentas certas para isso. Dessa forma, o próprio educando ou educanda se torna também responsável por seu próprio aprendizado.

5. O educador se eterniza em cada ser que educa.

Essa é uma reflexão poderosa que traz esperança e acalento aos educadores e educadoras, pois nos lembra que, por mais difícil que seja, a prática de lecionar tem um propósito e alcance muito maior do que podemos imaginar.

Os ensinamentos e as trocas que ocorrem no processo educacional reverberam nos alunos, muitas vezes transformando suas vidas e fazendo parte de uma grande teia de sabedoria que transpassa nosso entendimento.

6. O que presta no capitalismo, no meu entender, não é ele. Para mim, ele é uma malvadeza em si mesma. Se se pensa na excelência do capitalismo no Brasil, eu me pergunto: que excelência é esta que produz 33 milhões de famintos?

Paulo Freire era um homem declaradamente a favor dos direitos humanos, da classe trabalhadora e da grande massa de explorados.

Suas ideias eram baseadas em conceitos marxistas, que pregavam o fim da desigualdade e questionavam o sistema capitalista vigente, que prioriza o lucro de poucos em detrimento da qualidade de vida de muitos.

7. Não existe docência sem discência.

A palavra docência é usada para se referir ao ato de ensinar, enquanto a discência está relacionada ao aprendizado. 

Ao traçar uma linha entre esses dois conceitos, Paulo Freire quer dizer que eles se complementam e se mesclam. Aquele que ensina também aprende, tanto consigo mesmo, no ato de ensinar, quanto com seus aprendizes. Isso porque a troca de experiências entre todos os envolvidos se faz essencial no seu método de ensino.

8. Descobri que o analfabetismo era uma castração dos homens e das mulheres, uma proibição que a sociedade organizada impunha às classes populares.

O educador mais uma vez sublinha seu posicionamento político e social ao afirmar que o analfabetismo existe não por falta de condições de saná-lo, mas sim porque faz parte de um projeto de sociedade. 

Ele acredita que a elite tem interesse que os pobres sigam analfabetos e miseráveis, tanto de bens quanto de conhecimento, pois assim o status quo se mantém e não há questionamento ou luta por justiça.

9. É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática.

Essa é uma fala que carrega em si o conceito da chamada práxis, ou seja, a necessidade da coerência entre o que se realiza praticamente e o que se prega.

Dessa maneira, Freire se coloca como um intelectual que não fica só no campo das ideias, mas sim que toma atitudes, em ações concretas junto à coletividade.

10. Não se pode falar de educação sem amor.

O trabalho de Freire era imbuído em um sentimento amoroso em relação às pessoas. Quando afirma ser preciso ter amor ao ensinar, o pedagogo não diz isso de forma "piegas" ou sugerindo que os educadores e educadoras não devam ser bem remunerados. 

O que ele quer dizer é que o magistério deve ter empatia e solidariedade, valorizando as pessoas e todas as suas particularidades, considerando o lugar de onde vêm e suas histórias de vida.

11. Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.

Paulo Freire valoriza o saber amplo. Ele não prioriza um tipo específico de conhecimento, como o literário ou intelectual. 

Podemos entender a inteligência de maneira abrangente. Como, por exemplo, uma pessoa que não sabe ler e escrever, mas sabe cuidar da terra ou conhece plantas medicinais.

Ou ainda alguém que não tem educação escolar formal, mas aprendeu a arte de conviver e se comunicar de maneira assertiva.

Enfim, são muitos os exemplos e tipos de conhecimento. Só precisamos ter abertura e compreensão de mundo para saber enxergar.

12. A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.

Assim como um artista constrói sua obra e se emociona nesse processo criativo, a educação também deve valorizar os momentos de construção do conhecimento.

A fruição (o deleite, o aproveitamento) de aprender precisa ser inseparável nessa jornada, tornando o aprendizado agradável e sólido.

13. Ninguém liberta ninguém. As pessoas se libertam em comunhão.

É essencial compartilhar os sucessos que ocorrem no processo de aprendizagem, tirando o professor(a) do status de "mártir" ou de salvador.

Afinal, a liberdade é algo almejado por aqueles que aprendem e aqueles que ensinam. Todos estão juntos numa mesma procura por transformação e autonomia, mesmo que de maneiras distintas.

14. Não basta saber ler que "Eva viu a uva". É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.

Paulo Freire tinha a preocupação de ensinar de forma a levar os aprendizes a refletir. Para isso, se torna imprescindível a contextualização das lições oferecidas.

Ele acreditava ser importante dar as ferramentas que permitiriam uma leitura não apenas das palavras, mas das situações e conjunturas de suas realidades e, num sentido mais amplo, do mundo.

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Laura Aidar
Laura Aidar
Formada em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.