16 frases de Van Gogh comentadas para entender o artista

Laura Aidar
Laura Aidar
Formada em Comunicação

O famoso artista holandês Vincent van Gogh foi um dos grandes mestres da pintura no Ocidente.

Sua vida conturbada se misturou à grande paixão pela arte, nos deixando um legado grandioso e emocionante.

O pintor tinha o hábito de escrever muitas cartas ao seu irmão Theo, o que nos permite entrar em contato com suas reflexões sobre a vida e a criação.

Assim, selecionamos algumas frases e citações de Van Gogh para conhecer mais a fundo sua vivência e sua arte.

1. Há leis de proporção, de luz, de sombra e de perspectiva, que é preciso conhecer para desenhar um motivo; se essa ciência nos falta, arriscamos travar eternamente uma luta estéril e não conseguimos nunca criar.

Nessa citação de Van Gogh fica evidente o quanto o pintor levava à sério a arte. Mais do que pintar, Vincent tinha um trabalho anterior de analisar o motivo que seria transferido para tela. 

Apesar de transgressor em seu tempo, ultrapassando os limites do que era considerado uma arte fiel à realidade, com cores marcantes e distorções, Van Gogh preocupava-se também com questões tradicionais do desenho e da pintura, dominando a técnica e utilizando-a da melhor forma para expressar seus sentimentos.

A frase foi escrita em uma carta para seu irmão e grande amigo Theo, em 1880.

2. Os quadros mais bonitos são aqueles com que sonhamos quando fumamos cachimbo na cama, mas que jamais pintamos.

Van Gogh valorizava muito a potência imaginativa. O pintor trabalhava incansavelmente, fazendo da pintura seu refúgio. Mesmo produzindo bastante, quando não estava pintando continuava pensando em seu ofício e buscava sempre se superar.

3. Uma luz que, na falta de palavra melhor, não posso denominá-la de outro modo, senão amarela.

A cor amarela era de longe a mais usada nas telas do artista. Vincent nutria uma predileção pelos tons amarelados, presentes em obras famosas como na série Os girassóis, na tela A casa amarela, em paisagens e nos inúmeros autorretratos que fez.

A casa amarela, de Van Gogh
A casa amarela (1888)

4. Tanto na vida como na pintura, posso muito bem ficar sem Deus; mas não posso, sem sofrer, ficar sem algo que é maior do que eu, que significa a minha vida inteira: a força de criar.

Antes de se dedicar completamente à pintura, Van Gogh entregou-se à vida religiosa e foi pastor, convivendo com pessoas humildes e trabalhadoras na Bélgica e sacrificando sua vida para ajudá-las. Vincent, porém, era considerado transgressor e sua permissão para continuar como pastor não foi renovada.

Foi então que se voltou para a arte e fez dela uma espécie de religião, a qual poderia exercer de maneira solitária e devota.

5. Eu trato de estar alegre, mas minha vida também está ameaçada em suas mesmas raízes e meus passos são igualmente vacilantes.

Atormentado pelos conflitos internos, o pintor tinha uma saúde mental delicada. Nessa frase, percebemos como sua instabilidade emocional o atrapalhava, mesmo que ele se esforçasse para manter-se otimista.

6. São vastas extensões de trigo sob céus tempestuosos e não tive dificuldades para expressar a tristeza e a extrema solidão.

Nessa fala de Van Gogh se torna evidente a essência do movimento expressionista, lançado anos depois de sua morte e que teve no artista uma grande influência.

Seu objetivo era conseguir expressar seus sentimentos mais profundos através da pintura e, nesse caso, se apoiando na natureza como símbolo de suas aflições.

Campo de trigo com corvos, de Van Gogh
Campo de trigo com corvos (1890)

7. Mauve me censurava por ter dito: 'Eu sou um artista'. Mas não me retrato, porque é evidente que essa palavra carrega de modo implícito o significado de procurar sempre sem encontrar jamais a perfeição. É precisamente o contrário de já sei, já encontrei. Eu busco, eu persigo e o faço com todo meu coração.

Anton Mauve era um artista, primo de segundo grau de Vincent, e em determinado momento foi seu professor, incentivando-o a usar a aquarela e o carvão.

Os dois se desentenderam e cortaram relações em 1882, aparentemente porque o professor não concordava com a maneira que Vincent criava.

Em carta ao irmão Theo, Van Gogh relata que havia sido criticado por se declarar artista. Ele então explica que sua concepção de "artista" estava muito mais relacionada à busca e investigação do que à perfeição.

8. Tratei de expressar com o vermelho e o verde as terríveis paixões humanas (...) o café é um lugar onde as pessoas podem se arruinar, enlouquecer ou cometer um crime.

A frase se refere à obra O café de noite (1888), que retrata um bar com mesas nos cantos e uma grande mesa de sinuca no centro. Os clientes estão sentados e as luzes amarelas do local cintilam.

A perspectiva é bem trabalhada e os tons vermelhos e verdes, complementares e contrastantes, revelam a intensidade emocional que o artista buscava retratar.

O café a noite, Van Gogh
O café de noite (1888)

9. No quadro Os comedores de batata quis dedicar-me conscientemente a expressar a ideia de que, essa gente, sob essa luz e que come suas batatas com as mãos, também trabalhou a terra. Meu quadro exalta, portanto, o trabalho manual e o alimento que eles mesmos ganharam tão honestamente.

A tela Os comedores de batatas (1885) é uma das mais famosas do artista e revela uma faceta de Van Gogh solidária, empática e preocupada com misérias humanas.

Foi pintada em Amsterdã enquanto o pintor estava bastante envolvido com o trabalho religioso e voluntário em prol dos necessitados. 

Os comedores de batatas, Van Gogh
Os comedores de batatas (1885)

10. Gostaria de pintar retratos que daqui a cem anos aparecessem como uma revelação (...) não por fidelidade fotográfica, mas antes (...)pela valorização dos nossos conhecimentos e do nosso gosto presente na cor, como meio de expressão e exaltação do caráter.

Aqui vemos mais uma vez a valorização que o artista dava à cor e à expressividade em suas telas.

Diferente dos impressionistas, por exemplo, Van Gogh buscava uma comunicação com o público onde os sentimentos e das emoções saltassem aos olhos, não se preocupando apenas com um rigor estético.

11. Do meu trabalho resultam telas feitas velozmente, uma depois da outra, mas bem calculadas de antemão. E quando se diz que é coisa feita demasiadamente rápido, poderá responder que viu demasiadamente rápido.

Vincent tinha consciência de que seus quadros causavam certo espanto e incompreensão devido à maneira enérgica que eram feitos. Tanto que, apesar de ser uma figura conhecida entre outros artistas e ter algum reconhecimento, o pintor não conseguiu vender quase nada em vida. 

De qualquer maneira, ele estava convicto de sua arte e não alterou a forma de pintar para agradar, pois, acima de tudo, buscava na criação uma forma de libertação e satisfação de seus desejos mais profundos.

12. Para atingir esse elevado tom de amarelo a que cheguei nesse verão, tive que superar limites.

Mais uma fez o artista se refere à cor amarela e ressalta a importância dessa tonalidade em seus quadros. 

Ele já investigava essa cor em Paris, mas foi em Arles (no sul da França) que aperfeiçoou e equilibrou a mistura de amarelos e ocres, trazendo uma personalidade única em suas telas.

13. Eu tenho um pouco de girassol.

Van Gogh se encantou por girassóis e em 1888 fez quatro telas com esse tema. Ele fez as telas quando estava em Arles para decorar sua casa e receber Gauguin, um colega pintor que foi morar com ele.

Esses trabalhos foram considerados pelo artista como dos mais importantes, motivo de orgulho e satisfação, pois foram realizados em tons monocromáticos, usando apenas o amarelo.

Os girassóis, Van Goh
Os girassóis (1888)

14. Tenho uma sensação de confiança quando faço retratos, pois sei que esse tipo de trabalho é o mais rico, embora talvez esta não seja a palavra adequada, quem sabe seja mais apropriado dizer que é o meio de cultivar o melhor e o mais sério que existe em mim.

Outra característica marcante em sua obra foram os retratos e, sobretudo, os autorretratos que pintou.

Ele criou diversos quadros com sua figura (assim como a mexicana Frida Kahlo), inclusive um em que se exibe com curativos na orelha, mutilada por ele mesmo em uma crise de loucura.

Era uma maneira de se revelar de maneira honesta e extravasar um pouco de suas angústias.

Autorretrato com orelha cortada, Van Gogh
Autorretrato com orelha cortada (1888)

15. Invejo os japoneses pela extraordinária, límpida claridade que tem todos seus trabalhos. Nunca é a aborrecido e nunca parece ser feito muito à pressa. É tão simples como respirar; e desenham uma figura com um par de traços seguros, com ta leveza, como se fosse assim tão simples, como abotoar os botões de seus casacos.

Vincent era apaixonado pela arte japonesa e foi influenciado por ela, o que pode ser visto em algumas de suas telas que retratam motivos nipônicos.

Na segunda metade do século XIX houve uma época em que elementos da cultura oriental se tornaram conhecidos no Ocidente, inspirando diversos artistas além de Van Gogh, como Seraut, Matisse, Gauguin e Manet. Essa corrente foi chamada de "japonismo".

16. Eu confesso não saber a razão, mas olhar as estrelas sempre me faz sonhar.

Em seus últimos anos de vida, os temas noturnos tomaram conta de várias obras de Vincent, sendo a tela A noite Estrelada (1889) a sua mais famosa.

O artista era um homem sensível e se aproximou desse tema e das estrelas como uma forma de expressar melancolia, fantasia e imaginação.

Outras telas em que ele retrata toda a profundidade da noite são Terraço do Café na Praça do Fórum e Noite Estrelada sobre Ródano.

A noite estrelada, Van Gogh
A noite estrelada (1889)

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Laura Aidar
Laura Aidar
Formada em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.