10 obras para conhecer Monteiro Lobato
Monteiro Lobato (1882-1948) é o maior nome da literatura infantil brasileira de todos os tempos. Para se ter noção da importância do escritor, até hoje o Dia Nacional do Livro Infantil é celebrado no dia 18 de abril, data de nascimento de Monteiro Lobato.
Cerca de metade das histórias criadas por Lobato foram dirigidas ao público infantil. As aventuras passadas no sítio do Picapau Amarelo atravessaram gerações e marcaram o imaginário coletivo. Muitas dessas produções literárias do autor foram adaptadas para o cinema, o teatro e a televisão.
1. O picapau amarelo (1939)
Em O picapau amarelo os personagens do mundo real (como dona Benta, Narizinho, Pedrinho e a avó), convivem com criaturas fantásticas como princesas, fadas e personagens importantes da nossa cultura como o saci.
Esses textos mais famosos do escritor foram inspirados nos livros que Monteiro Lobato leu quando ainda era criança, na biblioteca do avô, o Visconde de Tremembé.
Lobato foi alfabetizado em casa, pela própria mãe, e sempre teve gosto pela leitura e pela escrita. Mas foi depois do nascimento dos filhos que decidiu se dedicar ao universo da literatura infantil.
Monteiro Lobato é um nome incontornável da nossa literatura, ele foi o primeiro autor de literatura infantil que ousou usar personagens locais como a cuca.
Uma curiosidade sobre a obra: o sítio do Picapau Amarelo existiu na vida real, ele estava situado em Taubaté, São Paulo.
2. Reinações de Narizinho (1931)
Muitas das histórias infantis de Lobato foram inventadas para serem contadas para os próprios filhos: Rute (1916), Guilherme (1912), Edgar (1910) e Marta (1909).
O primeiro livro infantil publicado por Monteiro Lobato foi A menina do narizinho arrebitado, lançado em 1921, que alcançou a impressionante marca de 50 mil livros vendidos. Depois dele vieram outros títulos infantis que, em 1931, foram reunidos num único livro chamado As reinações de Narizinho.
Nas páginas da obra lemos as pequenas aventuras vividas por personagens do mundo real (como a menina Narizinho) que interagem com criaturas do mundo da imaginação (como princesas e fadas).
No mesmo ano do lançamento de Reinações de Narizinho, Monteiro Lobato fundou, ao lado de colegas, a Companhia Petróleos do Brasil, que se dedicava à extração de petróleo no nosso país. Por mais contraditório que possa parecer, o lado artístico de Lobato foi sendo desenvolvido em paralelo com o seu trabalho formal no setor petrolífero.
3. O saci (1921)
O saci foi lançado no princípio da carreira literária de Monteiro Lobato, logo depois do lançamento de A menina do narizinho arrebitado.
A obra infantil apresenta para as crianças um dos mais importantes personagens da cultura nacional: o saci pererê. O menino negro de uma perna só, cheio de energia, provoca a curiosidade especialmente em Pedrinho, que segue as pistas dadas pelo tio Barnabé para conhecer a criatura mítica no meio da floresta.
Nessa produção estão reunidas 28 histórias tradicionais populares que Monteiro Lobato adaptou porque poderiam ser, a princípio, assustadoras para as crianças. O seu projeto era, através das crianças, ajudar a divulgar a cultura tradicional do nosso país.
O livro infantil foi resultado de uma pesquisa extensa que Lobato havia realizado anos antes. Já em 1918 o escritor havia publicado no jornal O Estado de São Paulo um inquérito intitulado O Sacy-Pererê.
4. A chave do tamanho (1942)
Em sintonia com o momento do mundo, A chave do tamanho tem como pano de fundo a dura realidade da guerra.
A obra infantil mistura ficção e realidade e apresenta o conflito para as crianças através do olhar de Emília. A jovem boneca de pano deseja encontrar a casa das chaves para poder desligar a chave da guerra e assim salvar uma série de pessoas.
O princípio dos anos quarenta foi particularmente difícil para o escritor. Lobato foi preso em março de 1941 tendo sido condenado, por motivos políticos, a seis meses de prisão. A pena acabou caindo pela metade, mas ainda assim Monteiro Lobato ficou encarcerado.
De toda forma, o escritor entrou num período depressivo e com poucas produções literárias, a única exceção foi A chave do tamanho. Em termos financeiros, durante esse período, o intelectual passou a viver exclusivamente de traduções.
5. Histórias de Tia Nastácia (1937)
Tia Nastácia era uma empregada negra que vivia no sítio do Picapau amarelo e que sempre tinha muita sabedoria popular para partilhar. O livro, publicado em 1937, reúne 43 contos que são narrados por ela.
Muitos pesquisadores leem Tia Nastácia como uma personagem que representa a sabedoria popular coletiva. Ela simboliza, de uma certa forma, uma camada social que não teve tanto acesso à educação e que Lobato escolheu dar voz nos seus livros.
Com o Estado Novo, em novembro de 1937, o escritor reduziu o seu trabalho com a exploração de petróleo e começou a se dedicar exclusivamente à produção da literatura infantil. Histórias de Tia Nastácia é justamente desse período em que o autor resolveu escrever livros a tempo integral.
6. Fábulas (1922)
Monteiro Lobato relembra uma série de histórias clássicas no seu livro de fábulas, onde faz uma releitura dos grandes clássicos infantis.
O escritor brasileiro retoma, por exemplo, as fábulas de Esopo e La Fontaine e, além de recontar e adaptar para o público brasileiro as ricas fábulas, ele aproveita para tecer comentários e algumas críticas autorais suas em cada texto.
7. Caçadas de Pedrinho (1933)
Caçadas de Pedrinho conta as aventuras do menino corajoso na região do sítio do Picapau amarelo. Depois de encontrar pegadas na região, o jovem garoto convoca os amigos para irem à procura do animal feroz que anda às voltas do sítio.
A obra, que foi lançada em 1933, chegou a fazer parte do Programa Nacional Biblioteca na Escola, do Ministério da Educação.
Essa é provavelmente a publicação mais polêmica de Monteiro Lobato, que precisou passar por uma recente adaptação feita por Regina Zilberman e Maurício de Souza para continuar sendo lida pelas crianças. No livro original havia algumas passagens bastante problemáticas no que toca ao tema do racismo e da agressão contra os animais.
8. Memórias da Emília (1936)
Nessa obra infantil centrada na boneca de pano Emília lemos uma série de reflexões filosóficas que são adaptadas para o vocabulário infantil.
Ao contrário de um livro de memórias tradicional, que reúne experiências vividas, nessa publicação de Lobato encontramos um registro diferente, que pretende misturar a experiência do real com a inventada:
Dona Benta: Em memórias a gente só conta a verdade, o que houve, o que se passou. Você nunca esteve em Hollywood (...). Como então se põe a inventar tudo isso?
Minhas Memórias explicou Emília são diferentes de todas as outras. Eu conto o que houve e o que devia haver.
Então é romance, é fantasia
São memórias fantásticas. Quer ler um pedacinho?
No mesmo ano que publicou Memórias de Emília, Monteiro Lobato lançou para o público adulto a obra O escândalo do petróleo, um livro que acabou sendo censurado pelo Governo de Getúlio Vargas.
9. Ideias de Jeca Tatu (1918)
A obra Ideias de Jeca Tatu reúne 35 textos - a maior parte deles publicados em jornais e revistas - e tem como traço comum o sentimento nacionalista que movia o escritor.
Em muitos desses ensaios vemos um Monteiro Lobato provocador, polêmico, que contestava, por exemplo, a modernização da arte brasileira.
Antenado com o que estava passando no Brasil e no mundo, o escritor foi também um visionário e antecipou uma série de conflitos políticos e sociais que se passariam nos anos a seguir.
Jeca Tatu foi um personagem fundamental não só para a literatura como também para a sociedade brasileira. Através dele, Monteiro Lobato protagonizou uma série de campanhas para conscientizar os brasileiros sobre a necessidade de se haver saneamento básico no Brasil.
10. Urupês (1918)
Urupês foi o livro de estreia de Monteiro Lobato na literatura e reúne histórias reais e fictícias da região paulista. Essas histórias foram inspiradas nos enredos que ouvia enquanto vivia no interior.
Foi em Urupês que surgiu pela primeira vez o personagem Jeca Tatu, que representa o sertanejo brasileiro. A figura do caboclo ignorante já havia aparecido rapidamente numa carta chamada Velha Praga, que enviou para o Jornal O Estado de São Paulo e acabou sendo publicada.
Urupês esgotou no primeiro mês de vendas e causou enorme polêmica na sociedade. Influente, Monteiro Lobato foi promotor e, ao mesmo tempo, muito ativo na sociedade tendo escrito para uma série de revistas e jornais.
Aproveite para conhecer também a biografia completa de Monteiro Lobato.