Quem realmente inventou o avião: irmãos Wright ou Santos-Dumont?

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

A maior polêmica no mundo da aviação é saber quem inventou o avião. Os Irmãos Wright, americanos, ou nosso brasileiro Santos Dumont? 

Para quem é adepto da tese que foram os Irmãos Wright, o primeiro voo motorizado da história aconteceu no dia 17 de dezembro de 1903, na cidade de Kitty Hawk. Esse primeiro experimento usou uma catapulta e, como o avião não saiu do chão por conta própria, muitos não consideram esse evento como tendo sido o primeiro voo do mundo.

Quem defende a tese de que Santos-Dumont teria sido o pioneiro da aviação, julga que o primeiro voo público foi realizado no dia 23 de outubro de 1906, pelo 14-Bis, no campo de Bagatelle, na França. Foi o brasileiro o primeiro a ser capaz de colocar um avião no ar sem ajuda de qualquer outro recurso (catapulta ou rampa).

Os pioneiros irmãos Wright criaram o primeiro voo motorizado da história

Wright

Os americanos Wilbur e Orville Wright eram dois irmãos que construíam bicicletas e viviam em Dayton. Wilbur, o irmão mais velho, nasceu no dia 16 de abril de 1867, em Indiana. Orville, por sua vez, nasceu no dia 19 de agosto de 1871 em Dayton (Ohio).

Os dois eram filhos de Milton Wright, um religioso, e Susan Catherine Koerner.

Ao contrário de Santos-Dumont, os irmãos Wright estavam fixados na ideia de fazer voar um veículo mais pesado que o ar. Para a criação ter sido bem sucedida foi de fundamental importância o invento ter tido lemes e ser capaz de girar sobre o seu próprio eixo.

Depois de muito trabalho, no dia 17 de dezembro de 1903, a invenção dos norte-americanos, o aeroplano Flyer, decolou na praia da cidade de Kitty Hawk, na Carolina do Norte, com os dois irmãos a bordo.

Haviam poucas testemunhas na ocasião e não foi feito nenhum registro (filmagem). A máquina teria voado 37 metros em 12 segundos com uma velocidade aproximada de 10,9 quilômetros. Os irmãos Wright colocaram o avião no céu com o auxílio de um sistema de trilhos.

O feito não foi divulgado, os irmãos preferiram manter sigilo sobre o projeto aperfeiçoando a tecnologia. Em 1905 o aeroplano conseguiu voar 39 quilômetros, permitindo ao piloto controle total da altura e direção.

Apesar de revolucionária, a invenção ainda precisava de uma catapulta para lançar o aparelho para que ele não dependesse apenas do vento.

O aeroplano Flyer levantou voo pela primeira vez no dia 17 de dezembro de 1903 na praia da cidade de Kitty Hawk, na Carolina do Norte
O aeroplano Flyer levantou voo pela primeira vez no dia 17 de dezembro de 1903 na praia da cidade de Kitty Hawk, na Carolina do Norte

Em 1908 os irmãos Wright levaram o aeroplano Flyer para a Europa para fazerem demonstrações, uma delas organizada pelo Aeroclube da França.

Durante uma das apresentações, Orville Wright levou um convidado, o tenente Thomas Selfridge. A apresentação no Fort Myer teve um final trágico: uma das hélices quebrou, o avião caiu, Orville quebrou a perna e as costelas, e o tenente perdeu a vida. Esse evento produziu a primeira morte da história ligada a aviação.

Wilbur faleceu no dia 30 de maio de 1912 e o irmão no dia 30 de janeiro de 1948, ambos em Ohio.

Que tal ler a biografia completa dos Irmãos Wright?

O visionário Santos-Dumont, o primeiro a pôr um avião no ar sem qualquer suporte

Alberto Santos-Dumont nasceu em berço de ouro, numa família de cafeicultores, no dia 20 de julho de 1873 em Cabangu (Minas Gerais). Se mudou para a França ainda jovem para estudar engenharia. 

A experiência que marcou a sua vida aconteceu em 1898, quando voou de balão e ficou extasiado com a experiência. Por outro lado, apesar do fascínio, se sentiu desanimado por não poder controlar o destino do balão. Foi a partir de então que o criador resolveu inventar uma forma de dirigir os balões.

Santos-Dumont não cogitava, a princípio, colocar no céu um veículo mais pesado do que o ar.

Foi no dia em 19 de outubro 1901 que o brasileiro ganhou um prêmio alemão pela sua criação, o primeiro dirigível da história, chamado número 6. O aparelho contornou a Torre Eiffel numa viagem que durou menos de meia hora.

O dirigível número 6, o primeiro da história. A criação inovadora de Dumont contornou a Torre Eiffel no dia 19 de outubro 1901
O dirigível número 6, o primeiro da história. A criação inovadora de Dumont contornou a Torre Eiffel no dia 19 de outubro 1901

Se a conquista do dirigível já foi de tirar o chapéu, no dia 23 de outubro de 1906 se alcançou um marco para a história: Dumont fez voar o seu 14-Bis, uma máquina mais pesada que o ar.

O aparelho se sustentou numa altura entre 2 e 3 metros por longos 60 metros fora do chão durante uma exibição pública feita no campo de Bagatelle, na França. A exibição durou 7 segundos e foi testemunhada por mais de mil pessoas, tendo sido, inclusive, filmada.

Apresentação pública do avião 14-Bis, que ganhou os céus sem o uso de nenhum recurso no campo de Bagatelle, na França, sob o olhar de cerca de mil testemunhas
Apresentação pública do avião 14-Bis, que ganhou os céus sem o uso de nenhum recurso no campo de Bagatelle, na França, sob o olhar de cerca de mil testemunhas

Dumont não usou nenhum recurso a rampa ou catapulta, o aparelho saiu do chão com recursos próprios.

Dono de uma mente inquieta, em 1907, Dumont criou o primeiro ultraleve da história, que deu o nome de Demoiselle.

O brilhante inventor retornou de vez para o Brasil em 1928, tendo na ocasião sido recebido como um herói nacional.

santos dumont

Santos-Dumont faleceu no dia 23 de julho de 1932 em Guarujá (São Paulo).

Leia a biografia completa de Santos Dumont.

Outros nomes importantes na história da aviação

Além de Santos-Dumont e dos irmãos Wright, outros nomes de inventores contribuíram com a evolução da aviação.

Bartolomeu de Gusmão: o "padre voador" que fez subir um balão em 1783

Bartolomeu Gusmão

O brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu em Santos, no dia 18 de dezembro de 1685 e se ordenou padre na Capitania da Baía.

O jovem virou padre, se tornou inventor e mostrou para a corte portuguesa a subida do primeiro balão de ar quente. Quando ainda estava no Seminário de Belém, muito interessado em física, criou uma máquina de elevação de água que alcançou 100 metros de altura.

No ano de 1701 se mudou pela primeira vez para Portugal, tendo regressado ao Brasil pouco tempo depois. Foi em 1708 que se estabeleceu de vez na Europa, onde foi estudar na Universidade de Coimbra.

Em 19 de abril de 1709 escreveu para o então rei D.João V dizendo que havia desenvolvido "um instrumento para se andar pelo ar da mesma sorte que pela terra e pelo mar". Nesse mesmo ano fez então uma série de apresentações para a corte com os seus balões aquecidos - a primeira delas aconteceu no dia 5 de agosto de 1709.

A primeira apresentação falhou - o balão pegou fogo e não voou. Mas a exibição feita a seguir (não se sabe se no dia 7 ou 8) resultou, impressionando a plateia que testemunhou a subida de cerca de quatro metros do balão feito com papel pardo.

Quatro anos mais tarde, Bartolomeu se mudou para a Holanda onde continuou desenvolvendo o seu projeto inovador que lhe rendeu a fama de "padre voador".

Apesar de a ideia do balão de ar quente ter tido origem no padre, foram os irmãos franceses Montgolfier que conseguiram, em setembro 1783, que o primeiro voo tripulado subisse aos céus levando três animais sobre os céus de Paris. O segundo voo dos irmãos, ocorrido em novembro, levou a bordo duas pessoas.

Tenha acesso à biografia de Bartolomeu Gusmão na íntegra.

Otto Lilienthal, o homem voador que ganhou os céus em 1891

Otto Lilienthal

Otto Lilienthal, o engenheiro mecânico alemão nascido no dia 23 de maio de 1848, na Prússia, fez experimentos com planadores entre 1891 e 1896. 

O inventor, que criou as suas primeiras parafernálias quando tinha 14 anos ao lado do irmão, Gustav, acoplava asas no próprio corpo e sobrevoava vales. A inspiração dos dois, segundo relatos, veio após a observação do mundo das aves.

Os irmãos eram fascinados pelo voo das cegonhas e por aerodinâmica. Otto chegou a escrever um livro chamado O voo das aves como fundamento da arte de voar (1889), que é até hoje considerado como uma obra de base no contexto da aviação.

Os Lilienthal conceberam uma série de planadores diferentes e Otto realizou milhares de voos com as suas asas. O primeiro deles aconteceu no verão de 1891 perto de Potsdam. Com o passar do tempo realizou mais de 3 mil voos, com mais de 16 tipos de planadores e em algumas ocasiões saltou até oitenta vezes num único dia. 

Nem todas as aterragens, no entanto, corriam bem, e Otto teve uma série de vezes os braços e pernas torcidos os fraturados - mas nada que o fizesse desistir.

No dia 9 de agosto de 1896, Otto fez o seu último voo no monte Gollenberg (a 60 quilômetros de Berlim), a bordo de um dos aparelhos que havia planejado. O seu mecânico, Paul Beylich, ainda tentou abortar o voo porque havia possibilidades de ventania, mas nada fez Otto desistir da sua missão. 

O invento perdeu a sustentação após saltar de um penhasco, o motivo teria sido rajadas de ventos inesperadas que fizeram o aparelho despencar por uma altura de mais de 15 metros. 

O criador ficou paraplégico logo após o acidente e veio a falecer no dia a seguir, em um hospital em Berlim, aos 48 anos. 

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).