10 obras dos grandes artistas do surrealismo

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

1. A persistência da memória, de Salvador Dali (1904-1989)

A persistência da memória, de Salvador Dali (1904-1989)
Salvador Dalí: A persistência da memória, 1931. Kumachenkova/Shutterstock.com

Pintado em 1931, A persistência da memória é provavelmente a obra mais famosa do surrealismo. O complexo quadro é cheio de simbolismo e fala sobre a passagem do tempo e sobre a construção da nossa memória. Os relógios derretidos, distorcidos, simbolizam um tempo que passa de uma forma distinta, diferente dos relógios convencionais. 

O quadro mistura elementos da natureza (como a árvore) com elementos da vida urbana (como os relógios).

Criada pelo espanhol Salvador Dalí em menos de cinco horas, a obra faz parte desde 1934 do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Consta que Dalí, numa noite qualquer, não quis ir ao cinema com a mulher e os amigos. Foi durante esse período, que ficou em casa sozinho, que teria pintado A persistência da memória.

2. Paisagem catalã, o caçador, de Joan Miró (1893-1983)

Paisagem catalã, o caçador, de Joan Miró (1893-1983)
Milão, Itália - 02 de fevereiro de 2021: Pintura de Joan Mirò em selo postal. Shutterstock.com/Spatuletail

Uma das telas mais famosas do pintor espanhol Joan Miró é Paisagem catalã, o caçador, criada em 1923.

A tela, que mistura elementos soltos, aparentemente aleatórios, é dividida ao meio horizontalmente contendo um universo amarelo e um alaranjado. Na ilustração vemos figuras misteriosas, que parecem vindas de um sonho (como a criatura na parte baixa da tela com um rabo em forma de triângulo e um rosto com enormes bigodes). O animal, híbrido, intriga o espectador.

As letras SARD fazem referência a Sardana, música popular catalã. Joan Miró foi uma referência do surrealismo, um dos grandes nomes da tendência abstrata. Vanguardista, ao longo da carreira o pintor foi experimentando vários estilos e várias formas de se expressar.

3. Meu avós, meus pais e eu, de Frida Kahlo (1907-1954)

Meu avós, meus pais e eu, de Frida Kahlo

Com traços surrealistas, a pintora mexicana Frida Kahlo ficou conhecida por suas telas coloridas e cheias de vida. O quadro Meu avós, meus pais e eu foi pintado em 1936 e ilustra a árvore genealógica da pintora. 

A pintora, criança, segura uma fita que nos mostra os seus antepassados. Até a irmã de Frida, em forma de feto ainda com cordão umbilical, comparece na tela. A menina está no pátio de uma casa da família numa pequena vila e a paisagem ilustra os cactos típicos da região mexicana.

Frida Kahlo não foi propriamente uma artista inteiramente surrealista - as suas práticas de pintura transcenderam os movimentos artísticos -, mas muito do seu estilo fantasioso, onírico, surgiu por influência do surrealismo.

4. Os amantes, de René Magritte (1898-1969)

Os amantes, de René Magritte
Representação artística da famosa obra "Os Amantes". Drop of Light/Shutterstock.com

O quadro Os Amantes foi pintado pelo artista francês René Magritte em 1928. A tela, que mostra dois enamorados se beijando cobertos por um pano branco, está repleta de mistério. 

Através do pano podemos ver as silhuetas do casal, mas não somos capazes de saber a identidade dos dois envolvidos na cena.

O espectador se pergunta por qual motivo Magritte fez questão de deixar os dois enamorados no anonimato e o que, de fato, eles escondem. Esconderiam algum segredo um do outro? Ou partilhariam um segredo que prefeririam não dividir com o público?

René Magritte é o nome por trás de uma série de  quadros clássicos do surrealismo. As suas criações brincam com a curiosidade humana e, muitas vezes, desafiam o espectador a pensar sobre os limites da representação.

5. Um cão andaluz, de Luis Buñuel (1900-1983)

O cineasta espanhol Luis Buñuel lançou o filme mais famoso do surrealismo (Un chien andalou) em 1929, na França, em parceria com Salvador Dalí.

O curta-metragem, todo feito a preto e branco, criado em parceria com o pintor, é repleto de símbolos e carrega muito dos principais traços do surrealismo. 

O filme não tem uma trama linear e leva para a tela imagens que parecem brotar do inconsciente, aparentemente de forma desconexa, apresentadas de forma sequencial. Sabe-se que a produção foi inspirada nos sonhos dos dois artistas que foram dos maiores representantes do movimento Surrealista. 

6. Urutu, de Tarsila do Amaral (1886-1973)

Urutu

Tarsila do Amaral foi uma das artistas mais talentosas do Brasil e o seu trabalho passou por diferentes fases, inclusive uma mais surrealista. O quadro Urutu é um exemplo desse período.

A obra, criada em 1928, é um dos mais marcantes símbolos do Movimento Antropófago. Pintada com cores e elementos simples, a imagem destaca um enorme ovo que permite múltiplas interpretações possíveis: seria ele o símbolo de uma nova era? Representaria a gênese da nossa própria cultura? 

Urutu, o nome da tela, é também o nome de uma espécie de cobra encontrada no Brasil. A cobra, que está ao redor do ovo, é também um símbolo importante para os modernistas porque significa deglutição. Os modernistas brasileiros pregavam que a nossa cultura deveria devorar a cultura estrangeira, e dando origem a algo que fosse genuinamente nosso, resultado desse caldeirão de influências. 

Urutu é uma obra que consegue, a partir de poucos elementos, simbolizar alguns desses aspectos caros ao movimento. Tarsila, através de poucos traços e formas simples, é capaz de dar voz a um dos mais caros movimentos das artes brasileira. 

7. O triunfo do surrealismo, de Max Ernst (1891-1976)

Pintada em 1937, a tela de Max Ernst inicialmente tinha o nome O anjo da lareira e do lar (tendo mudado de título no ano a seguir) e foi criada especialmente para a Exposição Internacional do Surrealismo que aconteceu na Galerie de Beaux-Arts. A exposição acontecida em Paris em 1938 foi fundamental para ajudar a divulgar o movimento.

A tela faz referência a uma delicada situação vivida na Europa e alude à derrota dos republicanos durante a Guerra Civil Espanhola. A imagem perturbadora de Ernst fala, portanto, da destruição e é assustadora, apesar das cores fortes e vibrantes com que foi pintada.

Os quadros de Ernst, de modo geral, foram muito influenciados pelos estudos de Freud, e abordam a questão do inconsciente e dos sonhos.

8. Aniversário, de Marc Chagall (1887-1985)

Aniversário, de Marc Chagall (1887-1985)

A tela pintada em 1915 por Marc Chagall é bastante característica do surrealismo e mostra um casal numa posição completamente inusitada, com um namorado retorcido, a voar, para beijar a amada que carrega um buquê de flores. 

A pintura de interior tem um estilo completamente diferente e brinca com a gravidade. Especialistas no autor dizem que a mulher retratada na tela seria a primeira esposa de Chagall (Bella Rosenfeld). 

9. Irmãos, de Paul Klee (1879-1940)

Irmãos, de Paul Klee (1879-1940)

O pintor suíço-alemão Paul Klee vagou entre o expressionismo e o surrealismo tendo obras importantes para os dois movimentos artísticos. Irmãos, pintada em 1930, é uma tela exemplar da sua fase surrealista feita propositalmente com traços infantis. 

A tela, que em inglês é chamada Brother and Sister, mostra dois irmãos criados a partir de símbolos incomuns - não se sabe bem onde começa o corpo de um e onde termina o corpo do outro. Ambos carregam formas nada usuais, caminham no mesmo sentido e partilham um único coração. O fundo simples, a amarelo, destaca os contornos originais do artista.

Paul Klee chegou a ser considerado pelos seus pares como o pai da pintura abstrata.

10. Manifesto surrealista, de André Breton (1896-1966)

Manifesto surrealista, de André Breton (1896-1966)

Muito inspirado na obra de Freud A interpretação dos sonhos, o escritor francês André Breton registrou no manifesto surrealista, que escreveu em 1924, as principais doutrinas do movimento artístico que ajudou a criar.

Nascido em Paris, o Surrealismo pregava uma verdadeira renovação estética e acabou deixando as suas marcas não só nas artes plásticas como também na literatura, no cinema e no teatro. 

O manifesto, escrito a mão, tem vinte e uma páginas, e procura sistematizar os princípios que moviam os artistas daquela geração revolucionária. André Breton, autor da obra, ficou muito conhecido pelo processo de escrita automática, onde deixava fluir os pensamentos livremente, transparecendo para o leitor o fluxo de consciência que se passava na sua cabeça.

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).