Thiago de Mello
Biografia de Thiago de Mello
Thiago de Mello (1926-2022) foi um poeta e tradutor brasileiro, reconhecido como um ícone da literatura regional. Sua poesia está vinculada ao Terceiro Tempo Modernista.
Thiago de Mello, nome literário de Amadeu Thiago de Mello, nasceu em Porantim do Bom Socorro, município de Barreirinha, no Estado do Amazonas, no dia 30 de março de 1926. Em 1931, ainda criança, mudou-se com a família para Manaus, onde iniciou seus estudos no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e depois, no Ginásio Pedro II. Mais tarde mudou-se para o Rio de Janeiro, onde em 1946 ingressou na Faculdade Nacional de Medicina, mas não chegou a concluir o curso para seguir a carreira literária.
Primeiros Poemas
Em 1947, Thiago de Mello publicou seu primeiro volume de poemas, Coração da Terra. Em 1950 publicou seu poema Tenso Por Meus Olhos, na primeira página do Suplemento Literário do Jornal Correio da Manhã. Em 1951 publicou Silêncio e Palavra, que foi muito bem acolhido pela crítica. Em seguida publicou: Narciso Cego (1952) e A Lenda da Rosa em (1957).
Adido Cultural
Em 1957, Thiago de Mello foi convidado para dirigir o Departamento Cultural da Prefeitura do Rio de Janeiro. Entre 1959 e 1960 foi adido cultural na Bolívia e no Peru. Em 1960 publicou Canto Geral. Entre os anos de 1961 e 1964 foi adido cultural em Santiago, no Chile, onde conheceu o escritor Pablo Neruda, de quem faz a tradução de uma antologia poética.
Estatuto do Homem
Logo depois do golpe militar de 1964, Thiago renunciou ao posto de adido cultural, e em 1965 foi residir no Rio de Janeiro. Sua poesia ganhou forte conteúdo político. Indignado com o Ato Institucional nº. 1 e por ver a tortura ser empregada como método de interrogatório, escreveu o seu poema mais famoso, Os Estatutos do Homem (1977).
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Exílio
Em 1966, Thiago de Mello publicou A Canção do Amor Armado e Faz Escuro Mais Eu Canto (1968). Perseguido pelo governo militar, retornou para Santiago, onde permaneceu exilado durante dez anos. Em 1975 recebeu o Prêmio de Poesia da Associação Paulista de Críticos de Arte, pelo livro Poesia Comprometida Com a Minha e a Tua Vida.
Características da Obra de Thiago de Mello
Thiago de Mello, autor de uma obra vinculada à geração de 1945, tornou-se nacionalmente conhecido na década de 1960 como um intelectual engajado na luta pelos "Direitos Humanos", e manifestou em sua poesia o seu repúdio ao autoritarismo e à repressão.
Depois do exílio político, voltou ao Brasil em 1978. Ao lado do cantor e compositor Sérgio Ricardo, participou do show Faz Escuro Mas Eu Canto, dirigido pelo cronista Flávio Rangel. Ainda em 1978, retorna para a cidade de Barreirinhas, no Amazonas. Em abril de 1985, o poema Os Estatutos do Homem, de 1977, foi musicado por Cláudio Santoro, e abriu a temporada de concertos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Thiago de Mello faleceu em Manaus, Amazonas, no dia 14 de janeiro de 2022.
Poemas de Thiago de Mello
Faz escuro, mais eu canto
Faz escuro, mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada,
vem o sol, quero alegria,
que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão,
trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia. (...)Para os que Virão
Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem. (...)
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