João Cabral de Melo Neto

Poeta brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto (1920-1999) foi um poeta e diplomata brasileiro autor da obra Morte e Vida Severina, poema dramático que o consagrou. Tornou-se imortal da Academia Brasileira de Letras. 

Infância e juventude

João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, Pernambuco, no dia 9 de janeiro de 1920. Filho de Luís Antônio Cabral de Melo e de Carmem Carneiro Leão Cabral de Melo era irmão do historiador Evaldo Cabral de Melo e primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre.

Passou sua infância entre os engenhos da família nas cidades de São Loureço da Mata e Moreno. Estudou no Colégio Marista, no Recife. Amante da leitura lia tudo o que tinha acesso no colégio e na casa da avó.

Em 1941, João Cabral participou do Primeiro Congresso de Poesia do Recife lendo o opúsculo "Considerações sobre o Poeta Dormindo".

Em 1942, o escritor publicou sua primeira coletânea de poemas com o livro "Pedra do Sono". Depois de se tornar amigo do poeta Joaquim Cardoso e do pintor Vicente do Rego Monteiro, mudou-se para o Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, prestou concurso para o funcionalismo público.

Durante os anos de 1943 e 1944, trabalhou no Departamento de Arregimentação e Seleção de Pessoal do Rio de Janeiro. Em 1945, publicou seu segundo livro - O Engenheiro, (custeado pelo empresário e poeta Augusto Frederico Schmidt).

Realizou seu segundo concurso público e, em 1947, ingressou na carreira diplomática passando a viver em várias cidades do mundo como Barcelona, Londres, Sevilha, Marselha, Genebra, Berna, Assunção, Dacar e outras.

Poemas de João Cabral de Melo Neto

Cronologicamente, João Cabral situa-se entre os poetas da Geração de 45, mas trilhou caminhos próprios. Seus primeiros livros apresentam uma poesia hermética, ou seja, de difícil compreensão.

Em Pedra do Sono (1942), sua obra inaugural, apresenta uma inclinação para a objetividade embora predomine aspectos surrealistas.

Pedra do Sono

Meus olhos têm telescópios
Espiando a rua.
Espiando a alma
Longe de mim mil metros.

Mulheres vão e vêm nadando
Em rios invisíveis.
Automóveis como peixes cegos
Compõem minhas visões mecânicas.

Há 20 anos não digo a palavra
Que sempre espero de mim:
Ficarei indefinidamente contemplando
Meu retrato eu morto.

Em seguida, João Cabral introduz em seus versos o rigor semântico, que mostra a luta do poeta com a estética da poesia para encontrar a expressão exata e precisa, como no trecho a seguir:

O Engenheiro

A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água.

O lápis, o esquadro e o papel:
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.

A partir de Cão Sem Plumas (1950) João Cabral passa a abordar temas sociais. Os livros O Rio (1954) e Duas Águas (1956) (onde aparece Morte e Vida Severina) revelam motivos regionais.

Morte e Vida Severina, obra mais popular de João Cabral, é um auto de Natal do folclore pernambucano. Nesse trecho, o retirante explica quem é e a que vai:

Morte e Vida Severina

— O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias. (...)
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia.

Numa terceira etapa, João Cabral desvencilha o poema de todo e qualquer artifício, sua poesia é desenvolvida mediante a preocupação com os aspectos formais da poesia.

Nesse período aparecem obras-primas como Uma Faca só Lâmina, Terceira Feira e A Educação Pela Pedra.

Educação Pela Pedra

Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
e de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

Obras de João Cabral de Melo Neto

  • Pedra do Sono, 1942
  • O Engenheiro, 1945
  • Psicologia da Composição, 1947
  • O Cão Sem Plumas, 1950
  • O Rio, 1954
  • Morte e Vida Severina, 1956
  • Paisagens com Figuras, 1956
  • Uma Faca Só Lâmina, 1956
  • Quaderna, 1960
  • Dois Parlamentos, 1960
  • Terceira Feira, 1961
  • Poemas Escolhidos, 1963
  • A Educação Pela Pedra, 1966
  • Museu de Tudo, 1975
  • A Escola das Facas, 1980
  • Poesia Crítica, 1982
  • Auto do Frade, 1984
  • Agrestes, 1985
  • O Crime na Calle Relator, 1987
  • Sevilha Andando, 1989

Características

As obras literárias de João Cabral de Melo Neto são marcadas pelo uso da metalinguagem (muitos dos seus trabalhos falam sobre a própria criação literária). Seus poemas também contêm imagens surrealistas e influência da cultura popular.

Em termos de formato, João Cabral primou pela rigidez formal com rimas fixas, ritmo e versos rimados. 

Frases

  • "O amor comeu minha identidade."
  • "A vida não se resolve com palavras."
  • "Tu és a antecipação do último filme que assistirei."
  • "Escrever é estar no extremo de si mesmo."

Prêmios recebidos

João Cabral de Melo Neto recebeu o Prêmio da Poesia do Instituto Nacional do Livro, o Prêmio Jabuti da Academia Brasileira do Livro e o Prêmio da União Brasileira de Escritores pelo livro Crime na Calle Relator.

Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras para a cadeira n.º 37, tomando posse em 6 de maio de 1969.

Vida Pessoal

João Cabral de Melo Neto foi casado com Stella Maria Barbosa de Oliveira, com quem teve cinco filhos. Casou pela segunda vez com a poetisa Marly de Oliveira. Em 1992, começou a sofrer de cegueira progressiva, doença que o levou à depressão.

João Cabral de Melo Neto faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de outubro de 1999, vítima de ataque cardíaco.

Já que está aqui, que tal ler também o artigo Os 27 escritores brasileiros que você deveria conhecer?

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
Veja também as biografias de: