Cruz e Sousa

Poeta brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Cruz e Sousa

Cruz e Sousa (1861-1898) foi o mais importante poeta simbolista brasileiro. Com os livros: Missal (poemas em prosa) e Broquéis (versos) inaugurou oficialmente o Simbolismo no Brasil.

João da Cruz e Sousa nasceu em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, Santa Catarina, no dia 24 de novembro de 1861. Filho de escravos alforriados nasceu livre.

Foi criado como filho adotivo do Marechal de Campo, Guilherme Xavier de Sousa e Clarinda Fagundes de Sousa. Por ter nascido no dia de São João da Cruz, recebeu o nome do santo, e o sobrenome da família que o criou.

Em 1865 aprendeu a ler com sua protetora. Com sete anos, Cruz e Souza escreveu seus primeiros versos. Em 1869 entrou para uma escola pública. Nessa época já declamava em salões e teatrinhos. Em 1871, com dez anos, foi matriculado no colégio Ateneu, onde estudou francês, latim, matemática e ciências naturais.

Carreira literária

Amante das letras, em 1877, Cruz e Sousa começou a publicar seus versos em jornais da província e já dava aulas particulares. Empenhado na campanha abolicionista, durante vários anos, redigiu para o jornal Tribuna Popular. Sofreu perseguições por ser negro.

Em 1881 fundou com Virgílio Várzea o jornal “Colombo”. Juntou-se a uma companhia teatral e percorreu o País, na qualidade de ponto. Em 1883 voltou para o Sul e participou ativamente da campanha abolicionista. Tornou-se a figura central da vida literária de sua província.

Em 1885, Cruz e Sousa estreou na literatura com o livro de poemas em prosa: Tropos e Fantasias, em parceria com Virgílio Várzea, no qual se reconhecem algumas características marcantes do "Simbolismo". Nesse mesmo ano, assumiu a direção do jornal "O Moleque", cujo título se deve à sua rebeldia contra o preconceito de cor, de que sempre foi alvo.

Em 1888, fugindo do preconceito, o poeta foi para o Rio de Janeiro e passou a colaborar no jornal Cidade do Rio, de José do Patrocínio. Trabalha também como arquivista na Central do Brasil.

Nesse mesmo ano, com a ajuda do editor, Cruz e Sousa conseguiu publicar os livros: Missal (poemas em prosa) e Broquéis (poesias), que se tornaram suas principais obras. Com eles, Cruz e Sousa rompeu com o Parnasianismo e introduziu oficialmente o Simbolismo no Brasil. Segue um trecho de um poema da obra Broquéis:

            Clamando

As minhas carnes se dilaceram
E vão, das ilusões que flamejaram,
Com o próprio sangue fecundando as terras.

Fases da Obra de Cruz e Sousa

Cruz e Sousa transformou em poesia seus dramas e angústias. Sua obra passa por três fases distintas:

"Na primeira fase" de sua obra, espelhada por Broquéis, Cruz e Sousa canta o estigma de sua raça e se deixa seduzir por tudo que sugere brancura, como na estrofe abaixo:

             Antífona

Ó Formas alvas, brancas, Formas Claras
de luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...

"A segunda fase" da trajetória do poeta manifesta-se com a publicação de Faróis, em 1900. Nela, o poeta transmite maior profundidade da vida, experimenta toda sorte de tragédia, sofrendo com a loucura da esposa. E dessa fase o poema:

           Música da Morte

A música da morte, a nebulosa,
estranha, imensa, música sombria,
passa a tremer pela minh’alma e fria
gela, fica a tremer, maravilhosa...

"A terceira fase" da poesia de Cruz e Sousa é marcada com sua obra Últimos Sonetos (1905). Nela, o poeta mostra uma resignação, a sublimação da dor e das misérias humanas. O poema “Piedade” é dessa fase:

           Piedade

O coração de todo ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade,
Ficar mais doce o eterno desengano.

Características da obra de Cruz e Sousa

O Simbolismo foi um movimento Literário que teve sua origem na França em 1870. Verlaine, Mallarmé e Rimbaud formam a famosa tríade do Simbolismo francês. No Brasil, Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens são os dois nomes mais significativos do Simbolismo.

O simbolismo apresenta uma linguagem carregada de simbolismos, em clara oposição à literatura de linguagem mais impessoal. Suas características são: musicalidade, subjetividade, espiritualidade e sugestão.

Os poemas de Cruz e Sousa estão repletos de senso exaltado da melodia da palavra, do poder de criar imagens de grande beleza e de uma linguagem requintada. Por outro lado, o senso do trágico é o reflexo de sua vida difícil.

Os temas de sua obra giram em torno do transcendental, do nebuloso, do cósmico, do contrate entre a carne e o espírito e o bem e o mal.

No fim da vida, Cruz e Sousa desenvolveu uma poesia de tendência religiosa, carregada de sofrimento, de renúncia e de denúncia social, como no poema:

    Litania dos pobres

Os miseráveis, os rotos
São as flores dos esgotos
São espectros implacáveis
Os rostos, os miseráveis
São prantos negros de furnas
Caladas, mudas, soturnas (...)

Família e filhos

Em 1893, Cruz e Sousa casou-se com Gavita Rosa Gonçalves. Amargurado pelo preconceito de cor e trabalhando em empregos miseráveis, sua mulher enlouquece e dois de seus filhos morrem antes dele.

Doença e Morte

Conhecido como o “poeta negro”, Cruz e Sousa viveu seus últimos anos numa luta contra a miséria e a infelicidade, quando poucos reconheciam seu valor como poeta.

Vítima da tuberculose, em 1898, muda-se para a cidade de Sítio, em Minas Gerais, à procura de alívio para o mal, mas falece logo depois.

Cruz e Sousa faleceu na cidade de Sítio, em Minas Gerais, no dia 14 de março de 1898. Seu corpo foi transladado para o Rio, num vagão de transporte de animais.

Homenagens

Em 1905, seu grande amigo e admirador, Nestor Vítor, prestou uma homenagem a Cruz e Sousa zelando por sua imagem e incentivando a publicação, em Paris, da maior obra do poeta: Últimos Sonetos. A crítica francesa o considerou um dos mais importantes simbolistas da poesia ocidental.

Em 1961, sua obra, Cruz e Sousa, Obra Completa foi publicada num volume de mais de oitocentas páginas, em comemorações do centenário de seu nascimento.

Obras de Cruz e Sousa

Poemas em Prosa

  • Tropos e Fantasias, 1885, em colaboração com Virgílio Várzea.
  • Missal, 1893
  • Evocações, 1898

Poesias

  • Broquéis, 1893
  • Faróis, 1900
  • Últimos Sonetos, 1905
Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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