Gregório de Matos
Biografia de Gregório de Matos
Gregório de Matos (1636-1696) foi o maior poeta barroco brasileiro. Desenvolveu uma poesia amorosa e religiosa, mas se destacou por sua poesia satírica, constituindo uma critica a sociedade da época, recebendo o apelido de "Boca do Inferno".
Gregório de Matos foi uma das figuras mais importantes da poesia da época colonial, pois além de sua grande poesia, fez também um trágico retrato da vida e da cultura baiana do século XVII.
Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador, então capital do Brasil, na Bahia, no dia 23 de dezembro de 1636. Filho de pai português e de mãe brasileira foi criado no meio de uma família rica e influente de senhores de engenho. Foi aluno do Colégio da Companhia de Jesus onde estudou Humanidades.
Formação em Portugal
Ao terminar o curso de Humanidades, em 1652, Gregório de Matos seguiu para Portugal. Em 1653 ingressou na Universidade de Coimbra onde cursou Direito Canônico.
Depois de formado em Direito, Gregório exerceu o cargo de curador de órfãos e em 1661 habilitou-se a um cargo na magistratura portuguesa. Em 1663 foi nomeado Juiz de Alcácer de Sal, no Alentejo. Nessa época escreveu seus primeiros poemas satíricos.
Graças ao casamento com Micaela de Andrade, de família ilustre, em 1671, foi nomeado juiz do cível em Lisboa. Em 1678 ficou viúvo e recorreu ao arcebispo da Bahia para voltar ao Brasil.
Apelido "Boca do Inferno"
Em 1681, Gregório de Matos estava de volta a Salvador como procurador da cidade, junto à Corte portuguesa. Levava uma vida boêmia e escrevia versos e sátiras gozando de todos, sem poupar as autoridades civis e eclesiásticas da Bahia, recebendo o apelido de Boca do inferno.
Embora Gregório não fosse padre, o arcebispo D. Gaspar Barata fez dele vigário-geral da Bahia a fim de ocupar o cargo de tesoureiro-mor da Sé, uma forma de dar maior compostura ao bacharel Gregório, já que sua língua virulenta criava terríveis inimigos.
Depois da morte de D. Gaspar, em 1686, Gregório se negou a receber ordens sacras e a vestir o hábito religioso, acabou perdendo o cargo de tesoureiro-mor e voltou a exercer a advocacia.
Casou-se então com Maria dos Povos com quem teve um filho. Em 1694, por suas críticas às autoridades da Bahia, foi deportado para Angola na África.
Em Angola, Gregório de Matos tornou-se conselheiro do governo e, como recompensa por serviços prestados obteve autorização para voltar ao Brasil, não mais para a Bahia.
Em 1694 estava de volta ao Brasil indo viver no Recife, Pernambuco, longe das perseguições que lhe moviam na Bahia, embora proibido judicialmente de fazer suas sátiras.
Gregório de Matos faleceu na cidade do Recife, no dia 26 de novembro de 1696. Arrependido e reconciliado com a igreja, na hora da morte compôs:
Soneto a Jesus Cristo
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,
em cuja lei protesto de viver,
em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro.Neste lance, por ser derradeiro,
pois vejo a minha vida anoitecer,
é, meu Jesus, a hora de se ver
a brandura de um pai, manso cordeiro.Mui grande é o vosso amor e o meu delito,
porém pode ter fim todo o pecar,
e não o vosso amor, que é infinito.Essa razão me obriga a confiar,
que, por mais que pequei, neste conflito
espero em vosso amor de me salvar.
Obras e Características
Gregório de Matos deixou uma obra poética vasta, mas não teve nenhum livro publicado em vida. Como não havia imprensa no Brasil-Colônia, seus poemas tiveram circulação escrita e oral, o que lhe incentivou a forma agressiva e debochada de suas sátiras.
Suas poesias foram publicadas em VI volumes, entre 1923 e 1933, com o título: Obras de Gregório de Matos. Em 1970 foi publicado Poemas Escolhidos.
A produção poética de Gregório de Matos pode ser dividida em três linhas:
- A Poesia Satírica de Gregório de Matos constitui uma crítica à sociedade baiana, da qual ele se sentia um censor e uma vítima. Sua linguagem é livre, espontânea e às vezes agressiva.
- Da crítica ferina, não escapa ninguém: a corte, clero, colonos, os lusos que vinham para o Brasil e aqui enriqueciam, todos eram ridicularizados, como na poesia:
Sátira aos Sebastianistas
Estamos em noventa, era esperada
De todo o Portugal, e mais conquistas,
Bom ano para tantos Bestianistas,
Melhor para iludir tanta burrada.Vê-se uma estrela pálida, e barbada,
E deduzem agora astrologistas
A vinda de um rei morto pelas listras,
Que não sendo dos Magos é estrelada.Oh quem a um Bestianista pergunta,
Com que razão, ou fundamento, espera
Um rei, que em guerra dÁfrica acabara?E se com Deus me dá, eu lhe dissera:
Se o quis restituir, não o matara,
E se o quis não matar, não o escondera.
- A Poesia Lírica Amorosa de Gregório de Matos expressa o idealismo amoroso revelando uma sensualidade ora grosseira, ora de rara fineza, como no soneto dedicado a Maria dos Povos:
Maria dos Povos
Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca, o Sol e o dia:Enquanto com gentil descortesia,
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança brilhadora,
Quando vem passear-te pela fria:Goza, goza da flor da mocidade
Que o tempo trata a toda ligeireza
e imprime em toda a flor sua pisada.
Ó não aguardes que a madura idade,
Te converta essa flor, beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
- A poesia religiosa de Gregório de Matos é sempre a poesia do pecador que se ajoelha diante de Deus, com um forte sentido de culpa, como no soneto:
Soneto a Nosso Senhor
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido,
Porque quanto mais tenho delinquido
Vos tem a perdoar mais empenhado.Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
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