Nelson Mandela

Político sul-africano
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Nelson Mandela

Nelson Mandela (1918-2013) foi presidente da África do Sul entre 1994 e 1999. Foi o líder do movimento contra o Apartheid - legislação que segregava os negros no país. Condenado em 1964 à prisão perpetua foi libertado em 1990 depois de grande pressão internacional. Em julho de 1994 foi eleito o primeiro presidente negro de seu país.

Mandela recebeu o “Prêmio Nobel da Paz”, em dezembro de 1993, por sua luta contra o regime de segregação racial. Foi reconhecido como um dos maiores líderes políticos de todos os tempos.

Infância e juventude

Nelson Mandela nasceu em Mzevo, África do Sul, no dia 18 de julho de 1918. Foi um dos treze filhos de Nkosi Mandela, chefe do povo Thembu, com sua terceira mulher, Noqaphi Nosekeni. Descendente de uma família de nobreza tribal da etnia Xhosa e membro do clá Madiba, recebeu o nome de Rolihiahia Dalibhunga Mandela.

Em 1925 ingressou na escola primária, quando passou a ser chamado pela professora com o nome de Nelson, em homenagem ao Almirante Nelson, seguindo um costume de dar nomes ingleses a todas as crianças que frequentavam a escola.

Com nove anos de idade, após a morte do seu pai, Mandela foi levado para a vila real onde ficou aos cuidados do regente do povo Thembu.

Ao terminar sua formação elementar, Mandela entrou na escola preparatória, Clarkebury Boarding Institute, um colégio exclusivo para negros, onde estudou a cultura ocidental. Em seguida, ingressou no Colégio Healdtown, no regime de internato.

Em 1939, Mandela ingressou no curso de Direito da Universidade de Fort Hare, a primeira Universidade da África do Sul a ministrar cursos para negros.

Por se envolver em protestos junto com o movimento estudantil, contra a falta de democracia racial na instituição, ele foi obrigado a abandonar o curso. Mudou-se para Joanesburgo, onde se deparou com o regime de terror imposto à maioria negra.

Em 1943 concluiu o bacharelado em Artes pela Universidade da África do Sul. Continuou os estudos de Direito, por correspondência, na universidade de Fort Hare. (Mais tarde recebeu o título de "Doutor Honoris Causa", na tentativa de compensar a sua expulsão).

O Apartheid e a prisão de Mandela

Em 1944, junto com Walter Sisulo e Oliver Tambo, Mandela fundou a “Liga Jovem do Congresso Nacional Africano” (CNA), que se tornou o principal instrumento de representação política dos negros.

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Mandela - 1944

Entre as heranças deixadas pelos colonizadores europeus na África o mais brutal foi o racismo da África do Sul, resultado da colonização pelos holandeses e em seguida, pelos ingleses. 

Apoiados nas ideias de superioridade racial do branco, o homem europeu instituiu leis que sustentaram o regime de “apartheid” (separação), que começou a ser instalado na África do Sul em 1948, pelo Partido Nacional. 

Ao todo, O Partido Nacional criou 148 leis para restringir os direitos dos negros. A proibição de casamentos inter-raciais entrou em vigor em 1949. Era obrigado o registro da raça na certidão. Foi instituída a segregação em lugares e serviços públicos. Os negros só podiam circular com visto, como se fossem estrangeiros dentro de seu próprio país.

A segregação racial, a falta de direitos políticos e civis e o confinamento dos negros em regiões determinadas pelo governo branco provocou uma série de massacres e mortes da população negra.

Em 1952, Mandela e Oliver Tambo abriram o primeiro escritório de advocacia a defender os direitos dos negros. Em 1956, Mandela foi preso pela primeira vez, acusado de conspiração. Em 1958 tornou-se conhecido ao longo do seu primeiro julgamento, quando foi absolvido.

Os negros, que representavam 80% da população, revoltaram-se contra as imposições e foram reprimidos. Em 21 de março de 1960, a polícia sul-africana abriu fogo contra um protesto pacífico na cidade de Sharpeville, deixando 69 mortos, entre os quais mais de 40 mulheres e crianças, e 180 feridos.

Mandela e outros concluíram que a solução era a de enveredar pela luta armada. Em 1962, Mandela viajou para Adis-Abeba, na Etiópia, para obter treinamento de guerrilha para o Umkhonto we Siswe (Lança da Nação), ou MK, o braço militar do CNA que ele próprio idealizou e presidia. Entre 1961 e 1963, o MK foi responsável por 134 ações violentas.

Mandela foi preso pela segunda vez em junho de 1964, acusado de tentar derrubar o governo de minoria branca que comandava a África do Sul na época. Acusado de traição e sabotagem, foi condenado à prisão perpétua em Robben Island, onde funcionava o primeiro dos três presídios nos quais permaneceu encarcerado.

Em 1983, quando Mandela completava 21 anos na cadeia, os membros de sua milícia detonaram um carro com 40 quilos de explosivos em frente à sede administrativa da Força Aérea Sul-Africana, na Church Street, em Pretória. Dezenove pessoas morreram e mais 200 ficaram feridas.

A pressão internacional pelo fim da segregação era intensa, com as grandes potências aprovando sanções comerciais contra a África do Sul. O governo pensou na reação nacional e internacional caso Mandela morresse no cárcere e decidiu transferi-lo para presídios cada vez menos insalubres.

Até a libertação de Mandela, em 1990, 63 pessoas morreram pelas mãos do MK, na maioria civis. Mandela nunca se arrependeu de ter apoiado a luta armada, e mesmo depois de sua libertação só se comprometeu a interrompê-la quando a realização de eleições democráticas estava garantida.

O desmonte institucional do Apartheid coube ao presidente Frederik Willen de Klerk, um político do Partido Nacional que, nos seus tempos de ministro da Educação, havia defendido a existência de universidades exclusivas para brancos.

Sem consultar o próprio partido, em um pronunciamento na TV, ele tirou o CNA e outros grupos políticos da clandestinidade, aboliu as leis racistas e anunciou a libertação de Mandela.  No dia 11 de fevereiro de 1990, depois de 26 anos, o presidente da África do Sul libertou Mandela.

Nos dois anos que se seguiram, o presidente e Mandela comandaram tensas negociações para a formulação de uma nova Constituição e para a convocação de eleições, ao mesmo tempo que tentavam conter os confrontos entre diferentes facções da população negra e a ação de radicais brancos.

Ao sair da prisão, Mandela fez um discurso chamando o país para a reconciliação:

“Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Eu tenho prezado pelo ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas possam viver juntas em harmonia e com iguais oportunidades. É um ideal pelo qual eu espero viver e que eu espero alcançar. Mas caso seja necessário, é um ideal pelo qual eu estou pronto para morrer”.

Em 1993, Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz, honraria que dividiu com Frederik Willem, o último presidente do antigo regime.

Presidente da África do Sul

Após longas negociações, com o presidente Frederik, em abril de 1994, Mandela conseguiu a realização das eleições multirraciais. Seu partido saiu vitorioso e Mandela foi eleito o primeiro presidente democrático da África do Sul

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Mandela - presidente da África do Sul - 1994

Finalmente, seu governo conquistou a maioria no parlamento e acabou com o longo período de opressão, aprovando importantes leis em favor dos negros. Em 1995 seu governo estabeleceu a Comissão de Verdade e Reconciliação, para analisar as violações de direitos humanos cometidas durante o apartheid.

Foram esclarecidos os episódios de violência cometidos pelos agentes do apartheid até a atuação da mulher de Mandela, Winnie, no período em que    esteve preso. Os integrantes do Clube de Futebol Mandela, fundado por ela, cometeram diversos assaltos, sequestros e assassinatos entre agosto de 1988 e fevereiro de 1989.

Mandela, que governou até 1999, armou a população com o sentimento da conciliação nacional até eleger o seu sucessor. Em 2006 foi premiado pela Anistia Internacional por sua luta em favor dos direitos humanos.

Passar a maior parte da vida adulta atrás das grades realizando trabalhos forçados, não foi suficiente para calar esse verdadeiro guerreiro da liberdade. Mandela mostrou que o sonho de Martin Luter King é possível em qualquer lugar.

Casamentos e filhos

Em 1944, Mandela casou-se com a enfermeira Evelyn Mase, com quem teve duas filhas e dois filhos. Evelyn o acusou de violência doméstica. Em 1958 o casal se separou.

No mesmo ano, casou-se com a militante antiapartheid, Winnie Madikizela, com quem teve duas filhas. Acuda de usar o poder do marido em benefício próprio, o casal se separou dois anos após a libertação do marido.

Em 1998 casou-se com Graça Machel, viúva do presidente moçambicano Samora Machel. Em 1999, quando deixou a presidência, Mandela foi morar com Graça em seu pequeno vilarejo de Qunu onde criou uma fundação em defesa dos direitos humanos.

Últimos anos e morte

Pouco antes da final da Copa do Mundo em Johannesburgo, na África do Sul, em julho de 2010, Nelson Mandela desfilou no estádio Soccer City sentado em um carrinho de golfe, acenando para 85 mil torcedores. Foi reverenciado ao som das vovuzelas e a gritos de “Madiba”, o apelido que remete ao nome de seu clã. Aquele foi o último evento público do qual participou.

Desde que contraiu tuberculose na prisão, Mandela sofria com a deterioração dos seus pulmões. Aos 95 anos, ele não resistiu a uma infecção pulmonar e morreu em sua casa, onde era mantido vivo com a ajuda de aparelhos durante três meses.

Nelson Mandela faleceu em Joanesburgo, África do Sul, no dia 5 de dezembro de 2013. Seu enterro foi realizado no domingo 15, em Qunu - localidade onde passou a infância, como foi o seu desejo.

Livro: “Cartas da Prisão de Nelson Mandela”

Os quase 27 anos que permaneceu preso por sua luta contra o apartheid, Mandela sofreu toda forma de violência moral e psicológica. Tão logo foi detido, começou a escrever cartas para sua família e seus amigos, apesar da tentativa de isolá-lo de todo o contato exterior.

O imenso volume de mais de 200 cartas que reúnem o importante acervo escrito nas penitenciárias, foi publicado em julho de 2018, para comemorar o centenário do seu nascimento.

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Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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