Álvaro de Campos

Heterônimo do poeta Fernando Pessoa
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Álvaro de Campos

Álvaro de Campos é um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa, que foi vários poetas ao mesmo tempo.

Além de Álvaro de Campos, Fernando pessoa foi Alberto Caeiro, Ricardo Reis e o prosador Bernardo Soares. Tendo sido “plural”, como se definiu, Fernando Pessoa criou personalidades e elaborou com minúcias os respectivos dados biográficos, ideias e convicções.

Álvaro de Campos é um dos mais importantes heterônimos de Fernando Pessoa. Foi criado em 1915, nasceu em Tavira, no extremo sul de Portugal, no dia 15 de outubro de 1890. Estudou Engenharia Naval, na Escócia. No entanto, não exerceu a profissão por não poder suportar viver confinado em escritórios.

Características

Álvaro de Campos é um poeta moderno, aquele que vive as ideologias do século XX. Engenheiro de profissão vê o mundo com a inteligência concreta de um homem dominado pela máquina. De temperamento rebelde e agressivo, seus poemas reproduzem a revolta e o inconformismo, manifestados através de uma verdadeira revolução poética:

“Dentro de mim estão presos e atados ao chão
Todos os movimentos que compõem o universo,
A fúria minuciosa e dos átomos,
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,
A espuma furiosa de todos os rios que se precipitam.”

Álvaro de Campos é um homem de espírito inconformado com o tempo, é completamente inadaptado ao mundo que o rodeia, vive marginalizado, sendo uma personalidade do não. No poema "Ode Triunfal", ele situou a relação do homem com o mundo mecanizado

Ode Triunfal

"À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ò rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espanto retido dos maquinismos em fúria!
Era fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!" (...)

Pela voz de Álvaro de Campos, o poeta observa o que “se vê fazendo”, e revela sua “verdadeira fisionomia de artista”. No momento da criação elabora uma análise crítica de si mesmo para compreender o caos em que vive a humanidade. Os versos da “Tabacaria” expressam a consciência infeliz do homem moderno:

Tabacaria

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade na parede e cabelos brancos nos homens,
Com o destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada." (...)

Entre os heterônimos que assinam a poética de Fernando Pessoa, como se fossem personagens de seu criador, cada qual com uma ótica diferente daquilo que os angustiava ou encantava, estão: Alberto Caeiro e Ricardo Reis

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Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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