Alzira Soriano
Biografia de Alzira Soriano
Alzira Soriano (1896-1963) foi uma política brasileira, a primeira mulher a ser eleita prefeita não só de um município do Brasil como também da América Latina. A eleição ocorreu em 1928 graças a uma lei estadual que autorizava a participação das mulheres na política do Rio Grande do Norte.
Luiza Alzira Teixeira Soriano, conhecida como Alzira Soriano, nasceu em Jardim de Angicos, um distrito de Lages, pequeno município no interior do Rio Grande do Norte, no dia 29 de abril de 1896.
Integrante de uma família rica e tradicional de Jardim de Angicos, era a filha mais velha do coronel da Guarda Nacional, Miguel Teixeira de Vasconcelos e de Margarida de Vasconcelos. O casal teve 22 filhos, mas poucos sobreviveram. A família vivia na Fazenda Primavera, onde seu pai hospedava as principais reuniões políticas da região.
Alzira casou-se cedo com o promotor de justiça pernambucano Thomaz Soriano, com quem teve três filhas: Sônia, Ismênia e Ivonilde. Em janeiro de 1919 ficou viúva com apenas 22 anos, pois seu marido foi vítima da Gripe Espanhola. Na época Alzira estava grávida de sua quarta filha.
Após a morte do marido, Alzira voltou a viver com seus pais em Jardim de Angicos, onde começou a lidar com a administração da propriedade rural da família, a Fazenda Primavera.
Primeira prefeita do país
Alzira começou a se interessar por política sob a influência do pai, um líder influente da região. Quando resolveu se candidatar à prefeitura de Lages, recebeu o apoio do governador Juvenal Lamartine, sucessor de Bezerra de Medeiros.
Alzira era uma ativista política de vanguarda e seu nome era forte na região, e contava com o apoio, simpatia e respeito das mulheres e dos homens. Sabia também mediar conflitos quando envolvia mulheres.
A candidatura de Alzira Soriano ocorreu graças a uma lei estadual que autorizava a participação das mulheres na política do Rio Grande do Norte.
Diz o texto da Lei Estadual 660, de 25 de outubro de 1927, conforme registro no Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte: No Rio Grande do Norte poderão votar e ser votados, sem distinção de sexo, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas por essa lei.
A eleição de Alzira implicou em um desafio ao marco jurídico da época, que vedava direitos políticos às mulheres. O voto feminino nacional só seria instituído após a aprovação do Código Eleitoral de 1932, pelo presidente Getúlio Vargas.
Para justificar o fato de uma lei estadual conseguir sobrepor ao sistema eleitoral nacional, o governador José Augusto Bezerra de Medeiros se amparou na lei atenta da Constituição vigente na época, a de 1891, que não fazia distinção entre homens e mulheres em relação ao direito ao voto.
No mesmo ano da entrada em vigor da Lei 660, a professora Celina Guimarães Viana, da cidade de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, registrou seu título eleitoral, tornando-se a primeira eleitora brasileira.
A eleição de Alzira enfrentou problemas típicos de uma sociedade patriarcal e regida pelas oligarquias da República Velha. Não faltaram críticas e ofensas pessoais feitas pelos adversários políticos.
Com 32 anos, Alzira concorreu à prefeitura de Lages pelo Partido Republicano em 8 de setembro de 1928 e venceu a eleição com 60% dos votos válidos sobre seu concorrente, Sérvulo Pires Neto Galvão. A prefeita eleita recebeu o apoio da líder feminista Bertha Lutz, uma das pioneiras do feminismo no Brasil que visitou o Rio Grande do Norte em 1928.

A notícia foi publicada no jornal The New York Times e chamava a atenção para o fato de Alzira ser a primeira mulher eleita prefeita em um país que aprovaria o sufrágio feminino apenas quatro anos depois.
Assumindo o cargo em 1929, a primeira providência de Alzira foi fazer uma verdadeira revolução na prefeitura. A prefeitura estava sem dinheiro e não tinha móveis. Com recursos próprios, ela comprou os móveis e todo material necessário para começar a administração.
A nova prefeita fez diversas melhorias em Lajes, entre elas: a abertura de estradas, construção de escolas, um mercado municipal e a substituição da energia movida a querosene por elétrica.
Na eleição presidencial de 1930, Alzira apoiou Júlio Prestes para a sucessão do presidente Washington Luís. Porém, a Revolução de 1930 levou Getúlio Vargas à presidência, e os prefeitos de todo o país passaram a ser substituídos por interventores. Alzira foi sucedida por Adauto de Sá Leitão.
Apesar de ser convidada a permanecer governando a cidade, Alzira não aceitou o cargo de interventora municipal e decidiu renunciar por não concordar com a ascensão de Getúlio Vargas.
Em 1932, Alzira mudou-se para Natal, a capital do estado, com o objetivo de oferecer melhores opções de escolas para suas filhas. Permaneceu em Natal até 1939, quando voltou a morar na Fazenda Primavera. Com a morte do pai, assumiu com os irmãos a administração da fazenda.
Vereadora
Alzira só voltou à política após a redemocratização do país, em 1945, elegendo-se vereadora de Lages pela União Democrática Nacional (UDN), e foi escolhida para presidir a Câmara Municipal. Exerceu o cargo por três mandatos ficando na Câmara até 1959. Nessa época, enfrentou oposição de seu irmão caçula, Paulo, que foi eleito prefeito.
Em 1961, Alzira descobriu um câncer de útero e foi para o Rio de Janeiro em busca de tratamento, mas a doença já estava em estado avançado. Faleceu em Natal, no dia 28 de maio de 1963, com 66 anos de idade.
Homenagens
Em 2018, Alzira Soriano recebeu, em homenagem póstuma, o Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós, da Câmara dos Deputados. A homenagem é concedida a mulheres que tenham contribuído para o pleno exercício da cidadania e para a defesa dos direitos da mulher e das questões de gênero no Brasil.
A Câmara de Deputados do município de Lages também outorgou um feriado municipal em sua homenagem, na data de seu nascimento.
Na Bandeira do município de Jardim de Angicos, Alzira está representada no Brasão, no canto superior esquerdo.
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