Fagundes Varela

Poeta brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Fagundes Varela

Fagundes Varela (1841-1875) foi um poeta brasileiro. Sua poesia apresenta características da segunda e da terceira geração de poetas românticos do Brasil.

Além de apresentar temas sobre a natureza, a angústia, a solidão, a melancolia e o desengano, apresenta também temas sociais e políticos. É patrono da cadeira n.º 11 da Academia Brasileira de Letras.

Fagundes Varela (Luís Nicolau Fagundes Varela) nasceu na Fazenda Santa Clara, em Rio Claro, no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1841. Filho do Magistrado e fazendeiro Emiliano Fagundes Varela e de Emília de Andrade passou a infância junto à natureza.

Em 1860 mudou-se para São Paulo, ingressou na Faculdade de Direito no Largo São Francisco e participou da vida boêmia da cidade.

Noturnas

Em 1861, Fagundes Varela publicou seu primeiro livro de poesias "Noturnas", com apenas 32 páginas, com influência de Lord Byron e dos poetas românticos que lhe antecederam, como no poema "Arquétipo":

Ele era belo! Na espaçosa fronte
O dedo do Senhor gravado havia
O sigilo do Gênio: em seu caminho
O hino da manhã soava ainda,
E os pássaros da selva gorjeando
Saudavam-lhe a passagem neste mundo. (...)

Cântico do Calvário

Em 1862, Fagundes Varela conheceu Alice Guilhermina Luande, filha do proprietário de um circo que estava instalado em São Paulo. Seguiu para Sorocaba e lá casou-se com ela, no dia 28 de maio.

Em 1863 nasceu seu filho Emiliano, que morreu em dezembro, com apenas três meses de vida. A morte do filho lhe inspirou seu mais famoso poema "Cântico do Calvário", um dos momentos mais sublime de sua produção literária:

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia 
O ramo da esperança!... Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro!
Eras a messe de um dourado estio!
Eras um idílio de um amor sublime!
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! – Ah! No entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto - caíste! Crença - já não vives! (...)

Últimos Anos de Fagundes Varela

Em 1865, Fagundes Varela mudou-se para o Recife e ingressou na Faculdade de Direito, quando presenciou a onda de nacionalismo ali desencadeada. Nesse mesmo ano, com a morte da esposa, voltou para São Paulo.

Em 1866 retornou para a Faculdade de Direito de São Paulo, mas pouco frequentou as aulas. Nessa ocasião, Fagundes renunciou aos estudos definitivamente e voltou para a sua casa paterna.

Em 1869 casou-se com sua prima Maria Belisária Lambert. Da união nasceram duas filhas, Lélia e Rute. Seu terceiro filho, também chamado Emiliano, não sobreviveu. Fagundes levava uma vida boemia e era visto muitas vezes embriagado.

Fagundes Varela faleceu precocemente, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, no dia 18 de fevereiro de 1875, com apenas 33 anos.

Geração Romântica

Fagundes Varela é considerado o poeta da natureza, é o autor que melhor a reproduz nos versos da literatura brasileira. Sua obra é repleta de um lirismo bucólico.

Sua obra poética, embora ainda presa a certas atitudes ultrarromânticas, da segunda geração, como o pessimismo, a solidão e a morte, aponta novos rumos, que conduzem à geração seguinte.

 A poesia de Fagundes Varela além de ser um lamento sentimental ou uma queixa amorosa passa a ser também um grito de protesto ou de reivindicação social. É considerado o precursor da poesia social e abolicionista.

Poemas de Fagundes Varela

A obra de Fagundes Varela pode ser separada de acordo com os temas abordados:

Sofrimento: a dor confere a Fagundes Varela uma notável inspiração poética, como no poema “Cântico do Calvário”, dedicado ao filho e publicado na obra “Cantos e Fantasias”. Sua alma solitária é retratada no poema “Tristeza”:

Minh’alma  é como o deserto
De dúbia areia coberto,
Batido pelo tufão;
É como a rocha isolada,
Pelas espumas banhadas,
Dos mares na solidão.

Nem uma luz de esperança,
Nem um sopro de bonança
Na fronte sinto passar!
Os invernos me despiram
E as ilusões que fugiram
Nunca mais hão de voltar! (...)

Natureza: Fagundes Varela destacou-se por suas poesias de cunho lírico associado à natureza, publicadas obra “Cantos Meridionais”, como no poema "Flor do Maracujá":

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!
Por tudo que o céu revela!
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está! ...
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

Religiosidade: o espírito religioso de Fagundes Varela quase atinge a contemplação mística como na obra “Anchieta ou O Evangelho na Selva” na qual se observa a mais pura inspiração bíblica. Nela, Varela relata a narração feita pelo missionário, aos índios, sobre a vida e a paixão de Cristo. É dele o poema "A Dança de Salomé":

Ela volteia, a doida bailarina!
Na dança figurada, aos ágeis passos
Mistura os mais garridos movimentos,
Os gestos ais lascivos. Arquejante,
Às vezes para do salão no centro,
Suspira e cerra os olhos... Vai quem sabe?
Sucumbir de cansaço! Mas engano!
Reanima-se, ri, levanta os braços. (...)

Obras de Fagundes Varela

  • Noturnos (1861)
  • Cântico do Calvário (poema 1863)
  • O Estandarte Auriverde (1863)
  • Vozes da América (1864)
  • Cantos e Fantasias (1865)
  • Cantos Meridionais (1869)
  • Cantos do Ermo e da Cidade (1869)
  • Anchieta ou Evangelho na Selva (1875)
  • Cantos Religiosos (1878)
  • Diário de Lázaro (1880).
Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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