Guimarães Rosa
Biografia de Guimarães Rosa
Guimarães Rosa (1908-1967) foi uma das principais expressões da literatura brasileira. O romance "Grandes Sertões: Veredas" é sua obra prima. Fez parte do 3.º Tempo do Modernismo, caracterizado pelo rompimento com as técnicas tradicionais do romance.
Renovador da moderna literatura, tomou por base o regionalismo mineiro e criou sua própria linguagem literária, a partir de termos em desuso, da criação de neologismos e da construção sintática e melódica das frases.
Guimarães Rosa foi também médico e diplomata.
Infância, juventude e formação
João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, pequena cidade do interior de Minas Gerais, no dia 27 de junho de 1908. Filho de um comerciante da região, aí fez seus estudos primários, seguindo em 1918, para Belo Horizonte, para casa de seus avós, onde estudou no Colégio Arnaldo.
Cursou Medicina na Faculdade de Minas Gerais, formando-se em 1930. Datam dessa fase seus primeiros contos, publicados na revista O Cruzeiro.
Depois de formado, Guimarães Rosa foi exercer a profissão em Itaguara, município de Itaúna, onde permaneceu por dois anos. Culto, sabia falar mais de nove idiomas.
Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, voltou para Belo Horizonte para servir como médico voluntário da Força Pública. Posteriormente, atuou como oficial médico no 9.º Batalhão de Infantaria em Barbacena.
Em 1936, Guimarães Rosa participou de um concurso ao Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, com uma coletânea de contos chamada "Magma", conquistando o primeiro lugar, mas não publicou a obra.
Diplomata
Em 1934, o domínio de vários idiomas levou Guimarães Rosa para o Rio de janeiro onde prestou concurso para o Itamaraty, conquistando o segundo lugar.
Em 1938 já era cônsul adjunto na cidade de Hamburgo, na Alemanha. Quando o Brasil rompeu aliança com a Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, Guimarães, junto com outros brasileiros, foi preso em Baden-Baden, em 1942.
Libertado no fim do ano, seguiu para Bogotá como secretário da Embaixada Brasileira. Entre 1946 e 1951, residiu em Paris, onde consolidou sua carreira diplomática e passou a escrever com maior assiduidade.
Sagarana (primeira obra)
Em 1937, Guimarães Rosa começou a escrever Sagarana, composta de 9 contos que retratam a paisagem mineira, a vida das fazendas, dos vaqueiros e dos criadores de gado. Com a obra, participou de um concurso ao Prêmio Humberto de Campos, perdendo o primeiro lugar para Luís Jardim.
Em 1946, depois de refazer a obra, e reduzir de 500 para 300 páginas, publicou Sagarana. O estilo era absolutamente novo, a paisagem mineira ressurgia viva e colorida, as personagens expressavam o pitoresco de sua vida regional. Sucesso de crítica e público, seu livro de contos recebeu o Prêmio da Sociedade Felipe d'Oliveira, esgotando-se, no mesmo ano as duas edições.
Alguns dos contos de Sagarana são obras-primas, como O Burrinho Pedrês, Duelo, Conversa de Bois, Sarapalha e A Hora e a Vez de Augusto Matraga (mais tarde adaptado para o cinema por Roberto Santos e Luíz Carlos Barreto).
No trecho do conto Sarapalha, de Sagarana, o autor mostra o conhecimento minucioso sobre a vegetação e a linguagem regional:
Aí a beldroega, em carreirinha indiscreta ora-pro-nobis! ora-pro-nobis! apontou caules ruivos no baixo das cercas das hortas, e, talo a talo, avançou. Mas a cabeça-de-boi e o capim-mulambo, já donos da rua, tangeram-na de volta, e nem pôde recuar, a coitadinha rasteira, porque no quintal os joás estavam brigando com o espinho-agulha e com o gervão em flor.
Andanças pelo Sertão mineiro
Em busca de material literário, em maio de 1952, Guimarães Rosa iniciou uma empreitada pelo sertão mineiro. Acompanhando oito vaqueiros e, levando 300 cabeças de gado, percorreu em dez dias os 240 quilômetros que separam Araçaí e Três Marias, na região central de Minas Gerais.
O médico, diplomata e escritor levava pendurada no pescoço uma caderneta onde anotava tudo que via e ouvia as conversas com os vaqueiros, as sensações, as dificuldades e tudo que vivenciou naquele mundo, o que marcaria sua vida e sua obra.
No dia 16 de maio, a caravana chegou à fazenda Sirga, de seu primo Francisco Moreira, em Três Marias. Seguindo a viagem, percorreu várias fazendas e vilarejos da região vivendo o dia a dia dos vaqueiros. Próximo a Cordisburgo, sua cidade natal, Guimarães se reuniu com uma equipe da revista O Cruzeiro, que cobria a viagem.
As cadernetas de Guimarães, foram reunidas em dois diários que o autor chamou de A Boiada 1 e A Boiada 2. Hoje, elas fazem parte do acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.
As anotações foram utilizadas como elementos de duas obras-primas: Corpo de Baile (1956) e Grandes Sertões: Veredas (1956). A obra Corpo de Baile foi publicada em dois volumes, mais tarde dividida em três: Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do Sertão.
Dentro da mesma experiência, Guimarães Rosa publicou: Primeiras Estórias (1962) e Tutaméia Terceiras Estórias (1967).
Grandes Sertões: Veredas
Grandes Sertões: Veredas é uma das obras-primas de Guimarães Rosa e um dos mais importantes romances da literatura brasileira. Riobaldo, seu narrador-protagonista, agora um velho e pacato fazendeiro, faz um relato de sua vida a um interlocutor, um doutor que nunca aparece na história, mas cuja fala é sugerida pelas respostas de Riobaldo.
De um lado, a narração, em verdade, é um longo monólogo em que o narrador traz à tona suas lembranças sobre as lutas sangrentas de jagunços, perseguições e emboscadas nos sertões de Minas Gerais e sul da Bahia, como também suas aventuras amorosas.
Do outro lado, Riobaldo relata as preocupações metafísicas que sempre marcaram sua vida, entre elas, destaca a existência ou não do diabo. Para ele uma questão primordial, pois fizera um pacto com o demônio a fim de vencer Hermógenes, chefe do bando inimigo.
Riobaldo relata três amores na história: o envolvimento com Otacília, moça recatada, o amor sensual de Nhorinhá, uma prostituta, e o amor impossível de Diadorim, nome íntimo de Reinaldo, valente jagunço e melhor amigo de Riobaldo.
A descoberta do amor por Diadorim surpreendeu Riobaldo, que nunca tivera nenhum traço homossexual. Apesar disso, o amor crescia incontrolável:
Mas Diadorim, conforme diante de mim estava parado, reluzia no rosto, com uma beleza ainda maior, fora de todo comum. Os olhos vislumbre meu que cresciam sem beira, dum verde dos outros verdes, como o de nenhum pasto. [...] De que jeito eu podia amar um homem, meu de natureza igual. Macho em suas roupas e suas armas, espalhado rústico em suas ações?! Me franzi. Ele tinha a culpa? Eu tinha a culpa?
A linguagem de Guimarães Rosa
A linguagem de Guimarães Rosa não tem uma intenção realista de retratar a língua do sertão mineiro exatamente como ela é. Sua preocupação é tomar por base a língua regional e recriar a própria língua portuguesa, a partir de termos em desuso, da criação de neologismos, do emprego de palavras tomadas de outras línguas e da exploração de novas estruturas sintáticas.
Além disso, sua narrativa faz uso de recursos mais comuns à poesia, como o ritmo, as metáforas, as imagens, resultando em uma prosa altamente poética, nos limites entre a poesia e a prosa.
Vida pessoal
Em 27 de junho de 1930, com apenas 22 anos, Guimarães Rosa casou-se com Lígia Cabral Penna, de apenas 16, com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. O casamento durou poucos anos.
No início da carreira diplomática, no cargo de cônsul adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, Guimarães Rosa conheceu Aracy Moebius de Carvalho, futura Aracy Guimarães Rosa, funcionária do Itamaraty.
Aracy era chefe da seção de passaportes do consulado brasileiro em Hamburgo. Ela facilitou a concessão de centenas de vistos para as famílias de judeus escaparem da morte nos campos de concentração de Hitler.
Ela desafiou o antissemitismo velado nos bastidores do governo de Getúlio Vargas. Aracy e Guimarães Rosa foram investigados pelas autoridades do Brasil e da Alemanha.
ABL e Morte
Em 1963, Guimarães Rosa foi eleito por unanimidade para a Academia Brasileira de Letras (ABL), mas somente tomou posse em 16 de novembro de 1967. Três dias depois da posse, sofreu um infarto.
João Guimarães Rosa morreu no Rio de Janeiro, no dia 19 de novembro de 1967. Aracy morreu em 2011, aos 102 anos
Obras de Guimarães Rosa
- Sagarana (1946)
- Corpo de Baile (1956)
- Grandes Sertões: Veredas (1956)
- Primeiras Estórias (1962)
- Tutaméia - Terceiras Histórias (1967)
- Estas Estórias (1969) (Obra póstuma)
- Ave, Palavra (1970) (Obra póstuma)
- Magma (1997) (Obra póstuma)
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