Oswald de Andrade

Escritor brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Oswald de Andrade

Oswald de Andrade (1890-1954) foi um escritor e dramaturgo brasileiro. Fundou, junto com Tarsila do Amaral, o "Movimento Antropófago". Foi uma das personalidades mais polêmicas do Modernismo.

Através de romances, poemas, manifestos, artigos, ensaios, conferências e obras filosóficas, revolucionou não só a arte, mas também os costumes, as instituições e a vida social como um todo.

José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo, no dia 11 de janeiro de 1890. Filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e Inês Henriqueta Inglês de Souza Andrade fez seus primeiros estudos no Ginásio de São Bento, onde ouviu de um professor que ia ser escritor. Passou a comprar livros e a escrever.

Início da carreira

Oswald de Andrade estreou como jornalista, em 1909, no Diário Popular, que publicou seu primeiro artigo, “Penando”, uma reportagem da excursão do presidente Afonso Pena aos estados do Paraná e Santa Catarina. Nesse mesmo ano, iniciou-se como crítico teatral.

Em 1911 fundou a revista semanal “O Pirralho”, que ele mesmo dirigiu junto com Alcântara Machado e Juó Bananère. O semanário contava, entre outros colaboradores, com o pintor Di Cavalcanti.

Em 1912, Oswald de Andrade fez sua primeira viagem à Europa. De volta a São Paulo alugou um apartamento na Rua Líbero Badaró. O local era frequentado por muitos intelectuais, entre eles: Monteiro Lobato, Guilherme de Almeida e Mário de Andrade.

Oswald voltou da Europa trazendo as novidades de vanguarda como o “Manifesto Futurista” de Marinetti. Revolucionário acima de tudo, procurou sempre agitar o meio artístico defendendo os propósitos inovadores da pintura expressionista de Anita Malfatti.

Em 1917 sua revista o Pirralho foi fechada. Nesse mesmo ano em sua coluna no Jornal do Comércio defendeu Anita Malfatti das críticas de Monteiro Lobato. Em 1918, Oswald de Andrade formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo, mas nunca advogou.

Semana de Arte Moderna

Oswaldo de Andrade prometera para 1922 – ano do centenário da Independência, uma ação para promover a arte moderna. Nessa época iniciou uma amizade com Mário de Andrade, e juntos representaram as principais lideranças no processo de implantação e definição da literatura modernista no Brasil.

Ao lado da pintora Anita Malfatti, do escritor Mário de Andrade e de outros intelectuais, Oswald organizou a Semana de Arte Moderna de 1922. A Semana ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo com artistas do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Oswaldo de Andrade participou intensamente da Semana de Arte Moderna de 22 atuando sobre o desenrolar dos fatos e contaminando seus contemporâneos com o entusiasmo vibrante e, às vezes irreverente. Era irônico e gozador, teve uma vida atribulada, foi militante político e o idealizador dos principais manifestos modernistas.

Manifesto Pau-Brasil

Oswald de Andrade lançou em 18 de março de 1924 um dos mais importantes manifestos do Modernismo o "Manifesto Pau-Brasil", publicado no Correio da Manhã.

Explicando o nome do manifesto o autor disse: "Pensei em fazer uma poesia de exportação. Como o pau-brasil foi a primeira riqueza brasileira exportada denominei o movimento Pau-Brasil".

Em 1925 em Paris, Oswald de Andrade lançou o livro de poemas “Pau-Brasil” ilustrado pela pintora Tarsila do Amaral. A obra foi o despertar da consciência de brasilidade em Oswaldo de Andrade. Trata-se de uma proposta de escrever poeticamente a história do Brasil.

O livro de poesias “Pau-Brasil” foi considerado uma obra totalmente modernista, pois os temas versam sobre aspectos da vida colonial ou reproduzem os assuntos tratados pelos primeiros cronistas, como Pero Vaz de Caminha. Os textos apresentam uma linguagem coloquial e muito humor, como na poesia a seguir:

Pero Vaz Caminha

a descoberta
Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E Houvemos vista da terra

os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase havia medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados (...)

Movimento Antropofágico

Em 1927, radicalizando o movimento nativista, Oswald e Tarsila fundaram – na literatura e na pintura – o “Movimento Antropofágico” no qual propõe que o Brasil devore a cultura estrangeira e crie uma cultura revolucionária própria. É um grito de “basta à autenticidade enlatada e à filosofia de importação”.

O Manifesto Antropofágico foi publicado em maio de 1928 na Revista Antropofágica n.º 1, fundada por Raul Bopp e Antônio de Alcântara Machado. O Manifesto traz um desenho de Tarsila, “Abapuru” que foi passado para a tela no ano seguinte.

O Manifesto Antropofágico tornou-se uma das principais obras do Movimento Modernista e um dos textos mais polêmicos de Oswald de Andrade.

Veja um trecho do Manifesto Antropofágico:

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os indivíduos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de Paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com e enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.
O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande. (...)

Poesia de Oswald de Andrade

Como poeta, Oswaldo de Andrade revolucionou os conceitos tradicionais, aboliu todo e qualquer princípio conservador e reformulou a estrutura da poesia mediante a liberdade métrica e rítmica dos versos, o que gerou várias polêmicas.

Oswald de Andrade sempre foi irônico e crítico, pronto para satirizar os meios acadêmicos ou a própria burguesia, classe da qual se originou. Sem ser ingênuo e ufanista, defendia a valorização de nossas origens, do passado histórico-cultural, mas de forma crítica.

Uma das propostas mais importantes do projeto artístico de Oswald era a ruptura com os padrões da língua literária culta e a busca de uma prosódia brasileira, que incorporasse todos os erros gramaticais, vistos por ele como uma contribuição para a definição da nacionalidade, como no poema “Pronominais”:

"Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Na sua visão de Brasil, procura captar a natureza e as cores próprias do país, flagra igualmente as contradições moderno-primitivista de nossa realidade, como no poema “Bucólica”:

“Agora vamos correr o pomar antigo
Bicos aéreos de patos selvagens
Tetas verdes entre folhas
E uma passarinhada nos vaia
Num Tamarindo
Que decola para o anil
Árvores sentadas
Quitandas vivas de laranjas maduras
Vespas”

Prosa e Teatro

O romance foi o gênero de prosa que mais despertou o interesse de Oswald de Andrade. O autor estreou na prosa em 1922, com o romance Os Condenados, primeiro volume da intitulada Trilogia do Exílio, que incorpora ainda os volumes Estrela do Absinto (1927) e Escada Vermelha (1934).

As principais expressões da prosa do escritor são os romances Memórias Sentimentais de João Miramar (1924), Serafim Ponte Grande (1933) e o romance “Marco Zero”, concebido para ser lançado em cinco volumes, deveria constituir uma síntese da história do Brasil na primeira metade do século XX a partir de São Paulo. Dos cinco livros, apenas dois foram lançados: “Marco Zero I – A Revolução Melancólica” (1943) e “Marco Zero II – Chão” (1946), que se tornaram as mais importantes obras do autor.

Foi no teatro que Oswald de Andrade estreou na literatura em 1916, com as peças Leur Âme e Mon Coeur Balance. No teatro nacional lançou três importantes textos dramáticos: O Homem e o Cavalo (1934), O Rei da Vela (1937) e A Morta (1937).

Vida Amorosa

Em 1912, Oswald de Andrade fez sua primeira viagem à Europa, de onde voltou com a estudante francesa Kamiá, a primeira de suas várias mulheres e mãe de seu primeiro filho nascido em 1914.

Em 1926, Oswald de Andrade iniciou um relacionamento com a pintora Tarsila do Amaral que se prolongou até 1929.

No mesmo ano filiou-se ao Partido Comunista e conheceu a escritora e militante política Patrícia Galvão, a Pagu, com quem se casou em 1931. Juntos fundam o jornal “O Homem do Povo”, que pregava a luta operária e que durou até 1945. Da união com Pagu nasce seu segundo filho.

Em 1944, mais um casamento, desta vez com Maria Antonieta D'Aikmin, com quem teve duas filhas e permaneceu casado até o fim de sua vida.

Oswald de Andrade faleceu em São Paulo, no dia 22 de outubro de 1954.

Obras de Oswald de Andrade

  • Os Condenados, romance, 1922
  • Memórias Sentimentais de João Miramar, romance, 1924
  • Manifesto Pau-Brasil, 1925
  • Pau-Brasil, poesias, 1925
  • Estrela de Absinto, romance, 1927
  • Primeiro Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade, 1927
  • Manifesto Antropófago, 1928
  • Serafim Pontes Grande, romance, 1933
  • O Homem e o Cavalo, teatro, 1934
  • Escada Vermelha, romance, 1934
  • O Rei da Vela, teatro, 1937
  • A Morta, teatro, 1937
  • Marco Zero I - A Revolução Melancólica, romance, 1943
  • A Arcádia e a Inconfidência, ensaio, 1945
  • Ponta de Lança, ensaio, 1945
  • Marco Zero II - Chão, romance, 1946
  • A Crise da Filosofia Messiânica, 1946
  • O Rei Floquinhos, teatro, 1953
  • Um Homem Sem Profissão, memórias, 1954
  • A Marcha das Utopias, 1966 (edição póstuma)
  • Poesias Reunidas, (edição póstuma)
  • Telefonemas, crônicas, (edição póstuma)
Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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