Delmiro Gouveia

Industrial brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Delmiro Gouveia

Delmiro Gouveia (1863-1917) foi um industrial brasileiro, pioneiro na instalação de uma fábrica nacional independente no Nordeste brasileiro. A Fábrica de Linhas Estrela era um modelo para a época. Explorou o potencial energético da Cachoeira de Paulo Afonso com a construção da primeira usina hidrelétrica de Paulo Afonso.

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia nasceu na Fazenda Boa Vista, em Ipu, Ceará, no dia 5 de junho de 1863. Filho de Delmiro Porfírio de Farias e Leonila Flora da Cruz Gouveia. Seu pai lutou como voluntário na Guerra do Paraguai e não mais voltou. Sua mãe foi para o Recife onde casa-se com o advogado Meira Vasconcelos, seu patrão.

Primeiros trabalhos

Em 1878, Delmiro ficou órfão de mãe e com quinze anos arranjou seu primeiro emprego, como condutor e bilheteiro do bonde que ia do bairro de Apipucos para o centro do Recife. Em 1881, muda de profissão e vai para o comércio ser caixeiro viajante.

Em 28 de agosto de 1883, casa-se com a filha do tabelião da cidade de Pesqueira, interior de Pernambuco, Anunciada Cândida (Iaiá), com apenas treze anos de idade. A festa durou oito dias.

Delmiro volta com a esposa para o Recife, mas os negócios não vão bem e o casal vai para a casa de um tio da esposa. Resolve então entrar para o comércio de couro. Começou viajando pelo norte, de onde trazia peles para exportar através do porto do Recife para exportação. Levava produtos manufaturados e vendia nas fazendas por onde passava.

Em 1889, passa a trabalhar para o curtume Keen Sutterly, que se instalou no Recife, sob a gerência do americano John Sanford. Logo aprendeu inglês e se tornou o melhor empregado do curtume.

Sem os resultados esperados, a filial é transferida para Fortaleza. Delmiro vai aos Estados Unidos e na volta assume a gerência. Mais uma vez, a empresa não conseguiu o lucro esperado e terminou fechando.

Delmiro viaja novamente para a Filadélfia e adquiriu as instalações do escritório e dos armazéns, e em 1895 volta como patrão. A empresa prospera e Delmiro é chamado de rei das peles do Nordeste.

Mercado-modelo do Derby

Em 1898, Delmiro assina um contrato com a prefeitura do Recife para instalar um Mercado-Modelo, no Recife, em um terreno comprado ao Derby Club. A exploração duraria 25 anos, com isenção de impostos municipais. Findo o prazo, o mercado passaria para o domínio municipal.

No dia 7 de setembro de 1899 o Mercado-Modelo do Derby é inaugurado. A área tem 129 metros de comprimento por 28 de largura, dezoito portões, 112 janelas e 264 boxes com balcão de mármore.

Delmiro
Mercado-Modelo do Derby - Recife - 1899

A novidade que mais agradava o povo eram os preços baixos. A área em volta do mercado vai se urbanizando. Constrói-se um hotel de luxo no local. Delmiro manda erguer um palacete perto do mercado e vai ali morar.

Na época, o poder político em Pernambuco estava nas mãos de Rosa e Silva, vice-presidente da República, que representava os grandes interesses agrícolas. Desligado dos políticos dominantes, Delmiro era visto como ameaça aos grandes interesses estabelecidos.

Constantemente Delmiro tinha suas mercadorias apreendidas e recebia ameaça de morte. Vai ao Rio de Janeiro, se entender com Rosa e Silva, que condiciona a pacificação à exigência de apoio por parte de Delmiro e de seus amigos que hostilizavam o governo.

No dia 2 de janeiro de 1900, seu mercado é incendiado e reduzido a cinzas. Delmiro é preso, por ter agredido o vice-presidente. No dia seguinte um habeas corpus restitui sua liberdade. Em 1901, Iaiá abandona o palacete do Derby e retorna a casa dos pais, em Pesqueira.

Pioneiro na Industrialização do Sertão

Delmiro Gouveia volta ao comércio de couro e constitui nova firma a Iona & Krause. Quase quarentão, no dia 21 de setembro de 1902, foge com uma jovem menor de idade e se escondem na Usina Beltrão. No dia 2 de outubro a jovem é resgatada pela polícia e Delmiro foge num vapor e desembarca em Penedo, Alagoas.

Em Alagoas, Delmiro dirige-se para os lados da Cachoeira de Paulo Afonso e chega à região chamada de Pedra, região seca, mas com extensa cultura algodoeira e uma estação da Estrada de Ferro Paulo Afonso.

Mesmo com poucos recursos Delmiro inicia a construção de um império.  Manda buscar a jovem que havia raptado Carmélia Eulina do Amaral Gusmão. Com ela tem três filhos, Noêmia (1904), Noé (1905) e Maria (1907).

Em 1907, instala sua firma a Iona & Krause. Troca dezenove bois por uma fazenda. Sua firma prospera, a Estação da Pedra transforma-se num grande entreposto comercial de peles de bode e carneiro. Eulina resolve deixar Delmiro e voltar para Pernambuco.

Fabrica de Linhas Estrela

Delmiro Gouveia parte para o próximo passo, a exploração do potencial energético da Cachoeira de Paulo Afonso. Foram dois anos de trabalho intenso e em 1913, é inaugurada a primeira Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso. Em janeiro, a força elétrica aciona a bomba que conduz água diretamente do rio até Pedra.

Delmiro contrata técnicos europeus e no dia 5 de junho de 1914, sua fábrica inicia a produção de fios e linhas Estrela. Foram abertas estradas, construída uma vila operária, escolas e seus funcionários recebiam vários benefícios.  Em pouco tempo exportava para o Peru e Chile.

Delmiro Gouveia
Fábrica Estrela - Penedo - Alagoas - 1914

Morte de Delmiro

A Fábrica de Linhas Estrela era um modelo para a época, empregava mil operários só na produção, mas o poderio econômico de Delmiro estava ameaçado pela poderosa fábrica inglesa, a Machine Cottons. Operando no mesmo ramo da Fábrica Estrela, a fábrica propôs a Delmiro a compra de suas instalações. Delmiro reage bem à sua maneira e amplia a fábrica, instalando 2000 teares para a produção de tecidos.

A segunda ameaça de Delmiro eram os “coronéis” apegados à exploração da terra sem melhorias ou benefícios para a população. A intriga política foi o terceiro problema para Delmiro que se agravou com sua indicação do coronel Aureliano Gomes de Menezes para chefe político do município.

No dia 10 de outubro de 1917, Delmiro Gouveia estava na varanda de seu chalé, perto da Fábrica da Pedra, quando foi assassinado com três tiros. O processo, cheio de dúvidas, coações e ameaças, acabou condenando a trinta anos de prisão, os executores do crime.

Os filhos de Delmiro conseguiram manter a fábrica, porém em 1929, a Machine Cotton adquire a indústria brasileira e aos poucos vai substituindo a marca Estrela pela Corrente. Começam então a destruir uma por uma as máquinas da Fábrica da Pedra.

Delmiro Gouveia faleceu em Pedra, Alagoas, no dia 10 de outubro de 1917.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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