Baruch de Espinosa

Filósofo holandês
Por Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Biografia de Baruch de Espinosa

Baruch de Espinosa (1632-1677), também conhecido como Espinoza ou Spinoza, foi um filósofo holandês considerado um dos principais pensadores da linha racionalista, da qual faziam parte os filósofos Leibniz e René Descartes. O pensador se destacou especialmente no estudo da teologia e da política tendo escrito sobre ambos na sua obra mais importante, Ética (1677).

Baruch de Espinosa (1632-1677) nasceu em Amsterdã, na Holanda, no dia 24 de novembro de 1632. 

As publicações de Espinosa

Espinosa publicou poucas obras em vida. Em 1661 começou a escrever o Tractatus de Intellectus Emendatione (em português Tratado da Reforma do Entendimento), onde filosofava sobre a teoria do conhecimento, mas acabou deixando o trabalho não terminado. 

Em 1662 publicou o seu único trabalho em alemão, Korte verhandeling van God, de mensch en deszelfs welstand (em português Breve Tratado de Deus, do Homem e do seu Bem-Estar).

Em 1663 lançou Renati des Cartes Principiorum Philosophiae (em português Princípios da Filosofia Cartesiana). Além dessa obra, que bebeu dos ensinamentos de Descartes, publicou também Principia Philosophiae em 1644.

Durante o período em que se dedicou a essas publicações menores, esteve trabalhando paralelamente em Ética, a sua obra mais importante, que foi publicada postumamente, em 1677.

Deus segundo Espinosa

A reflexão acerca de Deus foi o ponto inicial e norteador de todo o trabalho filosófico de Espinosa. O filósofo foi um crítico da teologia, era considerado por muitos como um antiteólogo, por esse motivo chegou a ser identificado como sendo ateu (acusação feita especialmente pelos teólogos). 

A noção de que Espinosa era ateu, no entanto, é extremamente problemática, até porque o filósofo parte do pressuposto inicial de que Deus existe. 

A questão dos teólogos da geração de Espinosa, que fizeram com que ele fosse rejeitado, era a relação que o pensador estabelecia com as religiões, e não propriamente com o conceito de Deus. 

Para o pensador, as religiões contemplam um conjunto de regras morais (por exemplo: devemos amar o próximo, cumprir com as nossas promessas, etc). Espinosa defende não só a liberdade de pensamento como a liberdade de religião, o que para o seu tempo foi uma reflexão bastante vanguardista.

O conceito de Deus é especialmente desenvolvido na primeira parte da obra Ética. Deus, para Espinosa, não é propriamente o criador do universo, mas é o universo em si, a própria natureza. Deus é também infinito (único) e eterno.

Tudo o que existe no mundo é Deus ou a expressão de Deus - os homens, por exemplo, são uma expressão de Deus. Deus está, portanto, expresso em tudo o que existe na face da Terra. 

Até as nossas próprias decisões individuais - que acreditamos serem regidas pelo nosso livre-arbítrio, estão dentro dos planos de Deus. Por esse motivo, apesar de acreditarmos habitualmente que somos livres, a verdade é que apenas Deus possui a liberdade plena.

O reconhecimento das ideias de Espinosa

O filósofo sofreu muitas perseguições da imprensa e do meio acadêmico. O conservadorismo religioso e filosófico fez com que Espinosa vivesse no ostracismo durante boa parte da sua vida. 

Foi apenas em 1670, com a publicação do livro Tractatus Theologico-Politicus (em português Tratado Teológico Político), que Espinosa teve o trabalho de uma vida inteira mais celebrado.

O grande mérito recebido aconteceu, no entanto, somente no século XX, mais especificamente a partir dos anos sessenta, quando as ideias de Espinosa finalmente passaram a ser mais reconhecidas.

A relação de Espinosa com o judaísmo

Foi numa escola judaica, fundada em 1638, em Amsterdã, que o futuro pensador aprendeu hebraico e as suas primeiras lições filosóficas a partir principalmente dos ensinamentos de Moses Maimonides.

Espinosa viveu numa época em que a Holanda presenciava um grande crescimento econômico. Porém, as suas ideias eram consideradas nocivas pelos teólogos e religiosos. 

Foi acusado de ser blasfemador, ateu e acabou afastado da Sinagoga de Amsterdã em 1656, sendo deserdado pela família. Depois de excomungado, Espinosa mudou o seu nome hebraico Baruch para o nome latino Benedictus. 

A vida de Espinosa fora de Amsterdã e a dedicação ao estudo

Em 1661, Espinosa saiu de Amsterdã e se mudou para a cidade costeira de Rijnsburg, supostamente em busca de sossego e afastamento da comunidade judaica da capital do país para se dedicar exclusivamente aos seus estudos filosóficos. 

O próprio pensador, no entanto, afirmou que resolveu deixar Amsterdã definitivamente depois de ter sido atacado por alguém que tentou matá-lo com uma facada quando saía do teatro. 

Em Rijnsburg, Espinosa viveu recluso imerso num cotidiano modesto. Para se manter financeiramente trabalhou como polidor de lentes.

Em meados de 1660, Espinosa mudou de cidade novamente, dessa vez se estabelecendo em Haia, onde ficou até o final da vida.

A origem familiar de Espinosa

Os pais de Espinosa, Michael e Hannah, eram judeus que foram obrigados a se converterem ao cristianismo. 

Depois de serem condenados e torturados pela inquisição em Portugal, imigraram para Amsterdã. Na capital holandesa Michael se tornou um empresário de renome e virou um dos diretores da sinagoga. Hannah, mãe de Espinoza, faleceu quando o menino tinha apenas seis anos. 

Frases de Espinosa

Não rir, nem lamentar-se, nem odiar, mas compreender.

Não há esperança sem medo, nem medo sem esperança.

O homem livre, no que pensa menos é na morte, e a sua sabedoria é uma meditação, não da morte, mas da vida.

Todo homem gosta mais de dar ordens do que de recebê-las.

Tenho evitado cuidadosamente rir-me dos atos humanos, ou desprezá-los; o que tenho feito é tratar de compreendê-los.

Morte de Espinosa

Baruch de Espinosa faleceu em Haia, na Holanda, no dia 21 de fevereiro em 1677, aos 44 anos, vítima de tuberculose. No mesmo ano, foi publicada a maior parte das suas obras.

Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).
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