Cassiano Ricardo

Poeta brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Cassiano Ricardo

Cassiano Ricardo (1895-1974) foi um poeta, ensaísta, jornalista, funcionário público e advogado brasileiro. De poesia marcadamente nacionalista, buscou inspiração nos motivos folclóricos e históricos brasileiros.

Cassiano sempre soube assimilar a estética poética dominante do seu tempo e escreveu poemas segundo os mais variados estilos

Cassiano Ricardo Leite Machado nasceu em São José dos Campos, São Paulo, no dia 26 de julho de 1895. Passou a infância na propriedade rural da família. Com 16 anos escreveu seus primeiros versos ainda na escola, no ginásio em Jacareí.

Carreira Literária e Formação

Ao concluir o ensino médio, Cassiano mudou-se para São Paulo e ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Nessa época, publicou seu primeiro livro de poemas “Dentro da Noite” (1915), com a estética do neo simbolismo.  

Em seguida, mudou-se para o Rio de Janeiro onde concluiu o curso de Direito. Em 1917, ajustado ao rigor Parnasiano de Alberto de Oliveira, publicou “A Flauta de Pan”, recebendo elogios de Olavo Bilac.

Cassiano Ricardo e Menotti Del Picchia foram alguns dos colaboradores da revista “Paraíba” fundada por Monteiro Lobato, em 1917.

cassiano ricardo
Menotti Del Picchia, Monteiro Lobato e Cassiano Ricardo

Entre os anos de 1920 e 1923, atuou como advogado em São Paulo e depois no Rio Grande do Sul. De volta a São Paulo, se integrou aos dissidentes do Movimento Modernista e aliou-se ao “Grupo Verde e Amarelo” quando produziu obras de entusiasmo ufanista, como “Borrões de Verde a Amarelo” (1925).

Em seguida, publicou “Vamos Caçar Papagaios” (1926), “Martim Cererê” (1928) e “Deixa Estar, Jacaré” (1931). Em todos esses livros o pitoresco visual de um Brasil primitivo e emblemático funciona como força motivo sob a ótica nacionalista, como na estrofe do poema Manhã de Caça:

Conferenciavam, graves, os tucanos
Saltavam rãs e gafanhotos,
junto a meus pés, a meus sapatos rotos.
O caipora acendia o fogo do cachimbo.
A mãe-d’água – se é que a mãe-d’água existe -
saltava como louca, a face oculta
em seu cabelo verde – se é verdade
que o seu cabelo é verde.

Funcionário público e jornalista

Cassiano Ricardo abandonou a advocacia e entrou para o funcionalismo público quando sucessivamente ocupou diversos cargos. Em 1932 assumiu o cargo de secretário do interventor de São Paulo, Pedro Toledo. Nesse mesmo ano, foi preso por apoiar a Revolução Constitucionalista, e passou dois meses na prisão.

Academia Brasileira de Letras

No dia 9 de setembro de 1937 foi eleito para a cadeira n.º 31 da Academia Brasileira de Letras, e aí começou uma campanha em prol da valorização da poesia modernista.

Décadas entre 40 e 70

A partir de 1940, Cassiano passou a dirigir o jornal “A Manhã”, quando criou o suplemento “Autores e Livros”. Publicou o ensaio “Marcha Para o Oeste” (1940). Com ideias ultranacionalistas explorou a figura do bandeirante.

Em 1943, o pós-guerra passou a ser explorado e batizado pelo poeta como “um mundo de condições atômicas”, em que a máquina comanda a vida humana. Publicou o poema “O Sangue das Horas” (1943).

Com o advento do formalismo de 45 (o 3.º tempo do Modernismo), Cassiano caprichou no verso, tornou-se meditativo e melancólico, conforme se pode ver no poema A Graça Triste:

Não te dei o desgosto
de ter partido antes.
Não te gelei o lábio
com o frio do meu rosto.
O destino foi sábio,
entre a dor de quem parte
e a maior – de quem fica -
deu-me a que, por mais longa,
eu não quisera dar-te.

Entre 1953 e 1955, Cassiano residiu na Europa, onde trabalhou como diretor do Escritório Comercial Brasileiro em Paris.

Em 1960, a poesia de Cassiano Ricardo aliou-se aos mais ousados vanguardistas. É dessa época: “A Montanha Russa” (1960), “Poesia Completa” (1960) e “Jeremias Sem Chorar” (1964), na qual se destaca o poema Rotação:

A esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
         a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
de novo a esperança
        na esfera (...)

Seu último livro: “Os Sobreviventes” (1971), Cassiano mostra uma franca adesão ao Concretismo e à Poesia Praxis.

Cassiano Ricardo faleceu no Rio de Janeiro, no dia 14 de janeiro de 1974.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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