Jorge de Lima

Poeta brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Jorge de Lima

Jorge de Lima (1895-1953) foi um poeta brasileiro. Fez parte do Segundo Tempo Modernista. Foi também, ensaísta, biógrafo, historiador, prosador, médico, pintor e fotógrafo.

Infância e Formação

Jorge Mateus de Lima, conhecido como Jorge de Lima, nasceu em União dos Palmares, Alagoas, no dia 23 de abril de 1895. Filho de senhor de engenho, mudou-se para Maceió, em 1902. Estudou no Colégio Diocesano de Alagoas. Com apenas 14 anos, escreveu o poema "O Acendedor de Lampiões", com características parnasianas, que recebeu elogios. Posteriormente, mudou-se para Salvador e ali iniciou o curso de Medicina, concluído no Rio de Janeiro em 1914.

Estreia na Literatura

Jorge de Lima estreou na literatura, em 1914, com "XIV Alexandrinos", obra poética com características da escola parnasiana. Em 1915 retorna para Maceió e passa a exercer a Medicina. Leciona História Natural e literatura na Escola Normal. Foi também diretor da saúde pública do estado. Em 1926 foi eleito deputado estadual.

Fases dos Poemas de Jorge de Lima

A carreira poética de Jorge de Lima foi múltipla, passou por várias fases temáticas, iniciou-se no Movimento Parnasiano, e no final da década de 20 acercou-se de técnicas do Modernismo, em especial do verso livre.

Nessa fase cultivou temas relacionados à paisagem nordestina, como o folclore, a flora e a fauna local, a infância, a miséria do povo e a consciência social. Esse poema é um exemplo típico da preocupação social do autor:

        Mulher Proletária

Mulher proletária – única fábrica
que o operário tem, (fábrica de filhos)
            tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o  Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
                         Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar teu proprietário.

Em seguida o poeta se converteu ao catolicismo e em 1935, sua obra se volta para a defesa da causa cristã. Valeu-se da religiosidade como forma de sustentação ideológica. Procura dar aos poemas religiosos uma superior qualidade estética, deixando muitos leitores insatisfeitos. Entre seus poemas religiosos destaca-se:

           A Divisão de Cristo

Dividamos o mundo em duas partes iguais:
uma para portugueses, outra para espanhóis:
Vêm quinhentos mil escravos no bojo das naus:
A metade morreu na viagem do oceano:
Dividamos o Mundo entre as pátrias.
Vêm quinhentos mil escravos no bojo das guerras:
A metade morreu nos campos de batalha.
Dividamos o mundo entre as máquinas:
Vêm Quinhentos mil escravos no bojo das fábricas
a metade morreu na escuridão, sem ar.
Não dividamos o mundo.
Dividamos Cristo:
todos ressuscitarão iguais.

Na fase seguinte Jorge de Lima se dedicou à celebração da cultura negra, seus ritmos e costumes. Chegou a apropriar-se de um linguajar afro-brasileiro. O poema “Essa Nega Fulô” louva o sensualismo das escravas e virou peça antológica:

     Essa Nega Fulô

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no banguê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada nega Fulô.

Essa nega Fulô!
essa nega Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
-Vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar a minha roupa, Fulô!

A Invenção de Orfeu

A última obra de Jorge de Lima “Invenção de Orfeu” (1952) é uma espécie de epopeia modernista, estruturada em dez cantos, tendo como tema “o homem em busca de uma plenitude espiritual”, como se pode perceber nestes versos:

Era um cavalo todo feito em lavas
recoberto de brasas e de espinhos.
Pelas tarde amenas ele vinha
e lia o mesmo livro que eu folheava.

Depois lambia a página, e apagava
a memoria dos versos mais doridos,
então a escuridão cobriu o livro,
e o cavalo de fogo se encantava. (...)

Jorge de Lima faleceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de novembro de 1953.

Obras de Jorge de Lima

  • XIV Alexandrinos, poesia, 1914
  • O Mundo do Menino Impossível, poesia, 1925
  • Poemas, 1927
  • Novos Poemas, 1927
  • Salomão e as Mulheres, romance, 1927
  • Poemas Escolhidos, 1932
  • O Anjo, romance, 1934
  • Calunga, romance, 1935
  • Tempo e Eternidade, 1935 (em colaboração com Murilo Mendes)
  • Quatro Poemas Negros, 1937
  • A Túnica Inconsútil, poesia, 1938
  • A Mulher Obscura, romance, 1939
  • Poemas Negros, 1947
  • Livro de Sonetos, 1949
  • Guerra Dentro do Beco, romance, 1950
  • A Filha da Mãe D'Água, teatro
  • As Mãos, teatro
  • Ulisses, teatro
  • Os Retirantes, cinema
  • Obra Poética, 1950
  • Invenção de Orfeu, 1952
Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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