Lupicínio Rodrigues

Compositor e cantor brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Lupicínio Rodrigues

Lupicínio Rodrigues (1914-1974) foi um importante compositor e cantor brasileiro, autor dos sucessos: Se Acaso Você Chegasse, Nervos de Aço e Vingança.

Lupicínio Rodrigues nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 16 de setembro de 1914. Foi o primeiro filho homem e o quarto de uma série de 21 filhos de Francisco Rodrigues e Abigail Rodrigues.

Infância e juventude

Seu pai era funcionário da Escola de comércio (anexa à Faculdade de Direito de Porto Alegre) e, valorizava muito o estudo dos filhos.Quando Lupicínio fez cinco anos, foi levado para o Liceu Porto-alegrense, mas o menino ficou pouco tempo na escola, pois só queria brincar e cantarolar.

Ao completar sete anos, voltou para a escola e começou o curso primário no Colégio São Sebastião de propriedade dos Irmãos Maristas. Lupicínio lembrava com carinho dos professores de música, mas o único instrumento que tocava era uma caixa de fósforo.

Para futuramente ajudar nas despesas da casa, seu pai o levou para ser aprendiz nas oficinas da Companhia Carres Porto-alegrense (empresa de bondes) e, mais tarde na oficina Micheletto, onde carregou peso e fez parafusos e porcas.

O que Lupicínio gostava mesmo de fazer era compor samba. Com 12 anos já fazia músicas para os blocos carnavalescos de seu bairro. Conforme crescia, mostrava interesse nos encontros no bar de seu Belarmino, na Praça Garibaldi, onde ficava bebendo e cantando até a madrugada

Para afastá-lo da boemia, em 1931, seu pai levou o filho como voluntário ao Exército. A rígida disciplina entrou em choque com o espírito boêmio do jovem Lupicínio.

Mesmo servindo ao Sétimo Batalhão de Caçadores de Porto Alegre, ele não desistiu da música, pois assumiu o posto de cantor do conjunto musical formado pelos soldados e continuava compondo para os blocos carnavalescos e vencendo concursos.

Em 1933, o cabo Lupe, como era chamado, foi transferido para servir em Santa Maria. Foi lá, no Clube União Familiar que ele conheceu Iná, a namorada para quem ele fazia versos apaixonados.

Em 1935, Lupe deu baixa no Exército e voltou para Porto Alegre com uma ideia fixa: conseguir um emprego e casar com Iná. No fim do ano, consegue uma vaga de bedel na Faculdade de Direito. Logo depois, Iná veio com a família para a capital e, apesar de algumas brigas, o noivado foi concretizado.

Dividido ente a música, os amigos, os bares, as serenatas e o noivado, tudo acabava em discussões com Iná, que insatisfeita rompeu o noivado. Esse grande amor fracassado serviu de inspiração para a maioria de suas músicas.

Carreira Musical

Em 1935, Lupe entrou no concurso de música popular instituído pela Prefeitura para animar as comemorações do centenário da Revolução Farroupilha. A música que Lupicínio escreveu, feita em parceria com o cantor Alcides Gonçalves, da Rádio Farroupilha, intitulada “Triste História”, foi a vencedora de um bom prêmio em dinheiro.

Em julho de 1938, o cantor Ciro Monteiro gravou o samba “Se Acaso Você Chegasse”, que se tornou o primeiro grande sucesso de Lupicínio, e um dos primeiros discos de projeção de Ciro:

Se Acaso Você Chegasse

Se acaso você chegasse
No meu chatô e encontrasse
aquela mulher
que você gostou.
Será que tinha coragem
de trocar nossa amizade
por ela que já
lhe abandonou...

O sucesso de “Se Acaso Você Chegasse” levou Lupicínio para o Rio de Janeiro, em 1939, onde passou a frequentar os bares da Lapa e o Café Nice, em companhia de Ataulfo Alves, Germano Augusto, Wilson Batista e Kid Pepe.

Década de 40 e 50

Em 1947, o Quarteto Quitandinha gravou  “Felicidade”, de autoria de Lupicínio, que se tornou mais um sucesso do compositor gaúcho:

Felicidade

Felicidade foi-se embora
e a saudade no meu peito
ainda mora.
E é por isso que eu gosto lá de fora
porque eu sei que a falsidade não vigora.
A minha casa fica lá de trás do mundo
onde eu vou em um segundo
quando eu começo a cantar...

Ainda em 1947, Lupe iniciou um vasto ciclo de criações “dor-de-cotovelo”, depois de se encontrar com Iná acompanhada do seu marido. No mesmo ano, escreveu “Nervos de Aço”, sucesso na voz de Francisco Alves. Trinta anos depois, a música foi gravada por Paulinho da Viola:

Nervos de Aço

Você sabe o que é ter um amor,
meu senhor?
Ter loucura por uma mulher
e depois encontrar esse amor,
meu senhor,
nos braços de um outro qualquer...

Em 1948, Lupe escreveu o samba-canção “Esses Moços, Pobres Moços”, onde alerta os jovens sobre as inconveniências do amor. Gravada por Francisco Alves, foi depois, em 1970, gravada pelo próprio Lupicínio.

Apesar da qualidade de suas músicas, não era fácil conseguir gravá-las. Vivia em Porto Alegre, longe das gravadoras e dos grandes cantores.

A solução do problema surgiu com um acordo feito com Felisberto Martins, diretor artístico da Odeon, que se intitulava parceiro de algumas músicas de Lupe e começou a divulga-las pelo Rio de Janeiro. Lupe só veio conhecer Felisberto depois de muitas gravações.

Em 1951, o samba-canção “Vingança”, gravado pelo Trio de Ouro e por Linda Batista, no auge de sua carreira, bateu todos os recordes de venda:

Vingança

Eu gostei tanto,
tanto quando me contaram
que lhe encontraram chorando e bebendo
na mesa de um bar
e que quando os amigos do peito
por mim perguntaram
um soluço cortou sua voz
não lhe deixou falar...

Depois de Vingança, Lupicínio não precisava mais de parceiros, sua música passou a ser requisitada por cantores famosos – Isaura Garcia (Nunca), Nora Ney (Aves Daninhas) e outras. Ele mesmo gravou dois álbuns de seis discos com suas composições.

Vida familiar

Em 1949, com 35 anos, Lupicínio casou com Cerenita, que foi sua vizinha quando ele morou em Santa Maria. Na época, era uma menina de três anos com seus cachinhos dourados. Com ele teve um menino lourinho de olhos azuis, Lupicínio Rodrigues Filho.

Lupicínio já havia casado com Juraci, quando ela estava prestes a morrer, para legalizar a situação de sua filha Teresa, mais tarde adotada por Cerenita.

Lupicínio Rodrigues faleceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 27 de agosto de 1974.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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