Tomás Antônio Gonzaga

Poeta português
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Tomás Antônio Gonzaga

Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) foi um poeta português. Seu livro "Marília de Dirceu" é uma obra poética em que relata seu amor por Maria Doroteia. Por seu envolvimento na Inconfidência Mineira, foi preso e deportado para a África.

Seus versos reunidos sob o título "Marília de Dirceu, tornaram Gonzaga um dos maiores poetas do Arcadismo brasileiro.

Infância e Formação

Tomás Antônio Gonzaga nasceu em Porto, Portugal, no dia 11 de agosto de 1744. Filho de  mãe portuguesa e pai brasileiro, ficou órfão de mãe no primeiro ano de vida.  Em 1751 mudou-se com o pai para Pernambuco, e depois para a Bahia, onde estudou no Colégio dos Jesuítas.

Em 1761, com 17 anos, foi estudar na Universidade de Coimbra. Já formado em Direito, redigiu uma tese para habilitar-se ao cargo de professor, hoje publicada como "Tratado de Direito Natural”.

Arcadismo

Em 1782, Tomás Antônio Gonzaga retornou ao Brasil como Ouvidor de Vila Rica, Minas Gerais, o principal centro econômico do país no século XVIII, em razão da descoberta de ouro e diamantes.

Ao chegar a Vila Rica fez amizade com um grupo de poetas do "Arcadismo brasileiro" – um novo estilo poético que reagia contra a linguagem rebuscada e as preocupações religiosas do Barroco.

O novo estilo propunha uma linguagem mais simples da vida do campo e os prazeres do amor. Entre esses poetas destacavam-se Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto.

Tomás Antônio Gonzaga e Maria Doroteia

Em Vila Rica, Tomás Antônio Gonzaga conheceu Maria Doroteia Joaquina de Seixas, a quem chamou “Marília”, jovem mineira de 17 anos, por quem se apaixonou.

Eles ficaram noivos e o poeta dedicou versos com o pseudônimo árcade de "Dirceu". Era um costume dos poetas do arcadismo adotarem pseudônimos gregos e latinos e se referirem a personagens da mitologia clássica (ninfas, deuses etc.).

Marília de Dirceu

Com o nome poético de “Dirceu”, Tomás Antônio Gonzaga escreveu poemas para sua amada Maria Doroteia, a quem chamou de “Marília”.

Na primeira parte de seus poemas, "Marília de Dirceu", publicados ainda em Vila Rica, o poeta fala do amor. Ele canta também as delícias de uma vida simples em contato com a natureza ao lado de seus amigos pastores e de sua pastora "Marília".

Esse ideal, descrito no poema estava bem de acordo com as convenções do "Arcadismo" e era, na verdade, o oposto da vida levada pelo poeta, sempre envolvido com livros e processos jurídicos. Segue um trecho do poema:

Eu tenho um coração maior que o mundo!
Tu, formosa Marília, bem o sabes:
Um coração..., e basta,
Onde tu mesma cabes.

Na segunda parte do livro "Marília de Dirceu" são encontradas as poesias que Gonzaga escreveu na cadeia, na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro.

Na ocasião, ele estava preso por seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Nesses textos, o tom é outro, com o poeta lamentando-se do destino, afirmando sua inocência e queixando-se da saudade de Marília e da liberdade.

Que diversas que são, Marília, as horas,
Que passo na masmorra imunda, e feia,
Dessas horas felizes, já passadas
Na tua pátria aldeia!

Prisão

Em 1786, Tomás Antônio Gonzaga foi nomeado desembargador da relação da Bahia, mas adiou o quanto pode essa transferência, pois estava apaixonado e já havia marcado o casamento com Maria Doroteia, mas Gonzaga não chegou a se casar, nem a assumir o cargo de desembargador, pois foi acusado de participar da Inconfidência Mineira. 

A conspiração contra a coroa portuguesa, tinham como objetivo libertar a colônia do domínio econômico português. A Inconfidência Mineira foi realizada por pessoas da elite econômica,  se destacava a presença de padres e letrados.

Tomás Antônio Gonzaga foi preso e levado para a Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, onde ficou até 1792 e depois foi extraditado para Moçambique, na África, onde pode refazer sua vida. 

Em Moçambique, Gonzaga trabalhou como juiz de alfândega e casou-se com Juliana de Sousa Mascarenhas, filha de um rico mercador de escravos de apenas 19 anos. Juntos tiveram um casal de filhos.

Sem esquecer da doce Marília, ele a eternizou em suas "liras", como no trecho a seguir:

Lira XIV

Com os anos, Marília o gosto falta,
e se entorpece o corpo já cansado,
triste, o velho cordeiro está deitado
e o leve filho, sempre alegre, salta.
A mesma formosura
é dote que só goza a mocidade:
rugam-se as faces, o cabelo alveja,
mal chega a longa idade.

Cartas Chilenas

O poeta escreveu também "Cartas Chilenas", uma sátira manuscrita, em versos, que circulou anonimamente em Vila Rica. Através de estudos, confirmou-se que era de Gonzaga. Nele, a figura do governador da capitania de Minas, Luís da Cunha Meneses, é ridicularizado por suas arbitrariedades.

O nome das pessoas e dos lugares são trocados. Minas Gerais é Chile, Vila Rica é Santiago, o autor é Critilo e o destinatário das cartas é Doroteu.  A obra só foi publicada em 1845.

Tomás Antônio Gonzaga morreu em Moçambique, África, no ano de 1810.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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