Afonso II de Portugal

Terceiro rei de Portugal
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Afonso II de Portugal

Afonso II de Portugal (1185-1223) foi o terceiro rei de Portugal. Seu reinado se estendeu por 12 anos, de 1211 até 1223. Deixou um país ainda sem fronteiras definidas, mas com marcas importantes na administração.

Afonso II assumiu o trono português com vinte e seis anos. Era um jovem debilitado fisicamente, com uma variante da lepra, porém essa dificuldade não o impediu de governar de forma inovadora para a época, centralizando em si os destinos do reino.

Afonso II nasceu em Coimbra, Portugal, no dia 23 de abril de 1185. Foi o quarto filho de D. Sancho I, segundo rei de Portugal e de D. Dulce de Aragão. Teve três irmãs nascidas antes dele.

Casamento

Foi D. Sancho I, pai de Afonso, quem pediu a mão de D. Urraca de Castela, filha do rei Afonso VIII de Castela, e de Leonor da Inglaterra. Era descendente de Afonso VI de Leão, o trisavô de Afonso.

Afonso II
D. Urraca

Por ser prima de 5.º grau de Afonso, o casamento realizado no final de 1208 não foi pacífico, pois o bispo do Porto, D. Martinho Rodrigues, recusou participar da cerimônia e de recebê-los na cidade do Porto, causando sério desentendimento entre o clero e o rei.

 Filhos

De seu casamento com D. Urraca, nasceram quatro filhos:

  • D. Sancho (1209-1248) sucedeu seu pai como Sancho II de Portugal
  • D. Afonso (1210-1217) sucedeu seu irmão Sancho II como Afonso III de Portugal
  • Leonor (1211-1231) casou-se com o rei Valdemar III da Dinamarca
  • Fernando de Portugal (1218-1246) senhor de Serpa

As amantes do rei e filhos:

O que se conhece sobre as amantes do rei resume-se a Mor Martins de Riba de Visela, senhora de boa família e mais tarde abadessa no Mosteiro de Arouca, e a amante Teresa Martins.

Quanto a filhos bastardos, relata-se que D. Afonso II teve dois filhos, de mãe desconhecidas: João Afonso, que faleceu em 1234 e foi enterrado no Mosteiro de Alcobaça, e Pedro Afonso que lutou na conquista de Faro em 1249.

Reinado de Afonso II

Afonso II assumiu o trono português no dia 26 de março de 1211, com vinte e seis anos, após a morte de seu pai Sancho I.

Poucos meses depois de ter chegado ao trono, Afonso II convocou uma reunião extraordinária da cúria régia, realizada na cidade de Coimbra, quando surgiram as primeiras leis do reino, que anunciavam o claro propósito de afirmação do poder do soberano.

Afonso IIAfonso II

O conjunto legislativo da política régia de afirmação e de concentração de poder foi elaborada por letrados com formação jurídica, ativos funcionários da Coroa. O Direito Romano, sobretudo o de tradição visigótica, fornecia a doutrina e os argumentos para a consolidação do poder da realeza.

Particular atenção e cuidado mereceram os assuntos relativos à Igreja e o clero, que constava uma autêntica declaração de princípios pela qual o rei se comprometia, a si e seus sucessores, a seguir sempre a vontade de Roma.

Entre essas leis, destaca-se a que decretava a proibição dos mosteiros e ordens religiosas de adquirirem bens fundiários, no que constituiu a primeira proibição desse gênero (lei da desamortização), dessa forma impedia a excessiva centralização do poder nas mãos do clero.

A afirmação e a concentração do poder monárquico provocaram reações por parte dos próprios irmãos do rei, Pedro e Fernando que saíram de Portugal em direção à corte de Leão e a França, respectivamente.

Com as irmãs, o conflito assumiu maiores proporções, uma vez que o rei contestou o testamento deixado pelo pai para Teresa, Sancha e Mafalda, que haviam recebido de herança o título de rainhas e a posse dos castelos de Alenquer, Montemor-o-Velho e Seia, com as respectivas vilas e rendimentos.

A dimensão do confronto ultrapassou as fronteiras do reino, uma vez que as irmãs solicitaram ao papa Inocêncio III a confirmação das disposições testamentárias de Sancho I e com a invasão de Portugal pelas tropas de Afonso IX de Leão, em 1212.

As dificuldades só foram ultrapassadas pela ação pacificadora de Afonso VIII de Castela e do papa, que acordaram o pagamento de uma indenização e a obrigação do rei de cuidar das irmãs e zelar para que nada lhe faltassem.

A partir de 2016, Afonso II mandou reconhecer os donos das terras enviando mandatários que deveriam requerer a confirmação dos registros de propriedades. As “Inquirições Gerais” lançadas em 1220 permitiram a elaboração do primeiro registro cadastral das terras e dos direitos da Coroa feito em Portugal.

A confirmação dos registros das terras não conquistou simpatias das classes privilegiadas – a nobreza e o clero – pois estas viriam a ser despojadas de propriedades que consideravam suas por direito.

O bispo de Braga, a primeira figura eclesiástica da época, liderou uma contestação e não só defendeu as terras dos clérigos, como ainda acusou publicamente o rei de preferir as amantes à rainha.

Conquistas territoriais para o reino

O rei Afonso II esteve mais preocupado em organizar o poder real e administrativo do que conquistar territórios aos mouros, porém, em 1212 enviou tropas portuguesas que junto com os reinos de Leão, Castela, Navarra e Aragão venceram os muçulmanos na batalha de Navas de Tolosa, abrindo uma nova expansão dos reinos cristãos para o sul.

Os avanços militares cristãos tiveram lugar nos anos seguintes por toda a Península Ibérica, e em Portugal se concretizaram na tomada definitiva de Alcácer do Sal em 1217. A ideologia de cruzadas ganhou terreno no extremo ocidental da Cristandade.

A Ordem de Cister, em que se filiava o Mosteiro de Alcobaça, se distinguiu pela defesa das cruzadas e pela sua forte ligação com a Ordem Militar dos Templários. Assim, Afonso II teve uma política de apoio e de concessão de territórios às ordens religiosas-militares presentes em Portugal, tanto para a organização da defesa, como para novas conquista.

Afonso II
Mosteiro de Alcobaça

A Ordem do Templo recebeu amplas doações na região da Beira Baixa (à época uma zona de fronteira sujeita às incursões muçulmanas que partiam de Cárceres e Badajoz) e os freires de Évora obtiveram Avis, onde passou a sediar a sede da ordem, com responsabilidade de defesa e de conquista a sul do rio Tejo.

A Ordem de Santiago recebeu Alcácer do Sal, onde estabeleceu a sua sede após a reconquista definitiva da província em 1217, quando aproveitando a passagem pela costa portuguesa de uma armada que deveria se juntar à Quinta Cruzada e que do Norte da Europa se dirigia à Terra Santa, que culminando com o cerco a Alcácer e sua definitiva conquista.

A ação das ordens militares revelou-se decisiva durante o reinado de Afonso II. O rei não participou pessoalmente de nenhuma das expedições organizadas para conquistar territórios dos muçulmanos. As razões das ausências podem ter sido pela sua condição física e pela sua doença.

No reinado de Afonso II também forma conquistadas dos Mouros as províncias de: Vieiros, Monforte, Borba, Vila Viçosa e Moura, conquistas que contaram com a ajuda de um grupo de nobres liderados pelo bispo de Lisboa.

Morte e sucessão

Afonso II, que recebeu o cognome de o Gordo, faleceu em Coimbra, Portugal, no dia 25 de março de 1223, em consequência da lepra, com apenas 37 anos. Seus restos mortais foram sepultados no Mosteiro de Alcobaça.

Afonso II foi sucedido por seu filho Sancho II que tinha apenas 14 anos quando herdou o trono. Reinou 25 anos até ser deposto por seu irmão Afonso III em 1248.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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