Ataulfo Alves
Biografia de Ataulfo Alves
Ataulfo Alves (1909-1969) foi um compositor e cantor brasileiro, autor dos sucessos: Ai, Que Saudade da Amélia, Mulata Assanhada, Atire a Primeira Pedra e Laranja Madura.
Ataulfo Alves de Sousa nasceu na fazenda Cachoeira, em Miraí, Minas Gerais, no dia 2 de maio de 1909. Filho de Severino de Sousa e de Matilde de Jesus, cresceu em uma família de sete irmãos.
Infância e juventude
Seu pai trabalhava na lavoura e era também violeiro, sanfoneiro e repentista conhecido em toda a região. Com oito anos, Ataulfo já respondia aos improvisos do pai.
Ataulfo tinha dez anos quando seu pai faleceu e a família teve que sair das terras dos Alves Pereira indo morar na Rua do Buraco, 23. O menino fazia de tudo para ajudar no sustento da casa, foi moleque de recados, engraxate e plantador de café, arroz e milho.
Ataulfo estudava no Grupo Escolar Dr. Justino Pereira, mas em 1927, com dezoito anos, foi convidado pelo Dr. Afrânio Resende e partiu para o Rio de Janeiro buscando apenas melhores oportunidades na cidade grande. Sozinho na grande cidade, Ataulfo passou a trabalhar no consultório do Dr. Afrânio. À noite, ia para a casa do médico e fazia os serviços domésticos. Insatisfeito dizia: Não foi para isso que eu vim para o Rio de Janeiro.
Ao ler no Jornal do Brasil o anúncio de emprego de lavador de vidros em uma farmácia, foi atrás do emprego, pois preferia uma vida independente da tutela do médico de Miraí. Curioso, aos poucos Ataulfo conseguia decifrar as receitas e aproveitava a oportunidade para aprender a manipular os remédios. Muito dedicado, logo assumiu a responsabilidade do laboratório.
Terminado o trabalho, Ataulfo ia para casa, no bairro do Rio Comprido, pronto para participar da roda de samba. O antigo repentista que acompanhava o pai, logo demonstrou sua paixão pelo samba.
Carreira Musical
Ataulfo aprendeu a tocar violão e já tinha um cavaquinho. Organizou um conjunto que tocava nas festinhas do bairro. Promovido à função de prático de farmácia, em 1928, com 19 anos, casou-se com Judite. No ano seguinte nasce Adélia, sua primeira filha. Nessa época, conhece a jovem Carmem, amiga das filhas do seu patrão, que mais tarde se tornaria a famosa cantora Carmem Miranda.
O domingo era o dia das reuniões da turma do Rio Comprido, que formara o bloco Fale Quem Quiser, e Ataulfo tornou-se diretor de harmonia. Ao mesmo tempo, fazia suas primeiras composições.
Em 1934, foi convidado para uma visita aos estúdios da RCA Victor, onde foi recebido pelo diretor Mr. Evans, um americano entusiasmado com a música brasileira. Ataulfo, de cavaquinho em punho, começou a cantar suas músicas. Na gravadora, encontrou Carmem Miranda, que já gravara algumas músicas e decidiu gravar uma música de Ataulfo. A escolhida foi Tempo Perdido que por ser uma música nostálgica não fez sucesso, mas lançou o nome de Ataulfo.
Primeiras gravações
Após a primeira gravação, Ataulfo resolveu se dedicar exclusivamente à música. O sucesso veio, em 1935, com Saudade do Meu Barracão, gravada por Floriano Belham. Em seguida vieram: Menina Que Pinta o Sete, gravada pelo Bando da Lua.
Em 1936 surgiram Saudade Dela, na voz de Sílvio Caldas, a valsa A Você, com Carlos Galhardo, o samba Quanta Tristeza, também com Galhardo, cantor que se tornou o maior lançador de músicas de Ataulfo nos anos que se seguiram.
Ataulfo escreveu várias músicas com diversos parceiros, mas em 1938 criou o samba Errei, Erramos, gravada por Orlando Silva, outro grande lançador de suas músicas.
Em 1941, Ataulfo, com poucos recursos vocais, mas afinado e com muita bossa, resolveu gravar Leva Meu Samba, uma experiência muito bem sucedida, que resultou em um contrato com a Odeon.
Leva Meu Samba
Leva meu samba,
Meu Mensageiro.
Dê esse recado
Para o meu amor primeiro.
Vai dizer que ele é
A razão dos meus ais.
Não, não posso mais...
Em 1942, preocupado em lançar uma música para o carnaval, recorreu às três quadras que Mário Lago levou para ele musicar, fez a melodia e modificou os versos quase que completos, ao ponto de Mário Lago reclamar. No fim, surgiu Ai, Que Saudade da Amélia. Amélia era a lavadeira de Aracy de Almeida, segundo o autor. O disco surgiu na voz de Ataulfo e despontou como sucesso para o carnaval de 1942.
Ai Que Saudade da Amélia
Nunca vi fazer tanta exigência,
Nem fazer o que você me faz.
Você não sabe o que é consciência,
Não vê que eu sou um pobre rapaz.
Você só pensa em luxo e riqueza,
Tudo o que você vê, você quer.
Ai meu Deus, que saudade da Amélia,
Aquilo sim é que era mulher de verdade...
Com pouco recurso vocal, Ataulfo criou o grupo Academia do Samba, para acompanhá-lo na gravação. Logo depois, com a inclusão de vozes femininas, foi transformado em Ataulfo Alves e suas Pastoras. Com elas, lançou vários sucessos. Para o carnaval de 1944, a mesma dupla, Ataulfo e Mário Lago se uniram para lançar mais um sucesso, o samba Atire a Primeira Pedra.
Atire a Primeira Pedra
Covarde sei que me podem chamar,
Porque não calo no peito essa dor.
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor...
A música gravada por Orlando Silva foi um sucesso imediata, ganhou diversos prêmios, como "O samba mais cantado no carnaval de 1944".
Década de 50
A preocupação de revitalizar o samba, desbancado pela invasão dos ritmos estrangeiros resultou no show O Samba Nasce do Coração, na boate Casablanca, na praia Vermelha, em 1955, quando Ataulfo lançou mais um dos seus sucessos: Pois é:
Pois é
Pois é, falaram tanto que desta vez
A morena foi embora
Disseram que ela era a maioral
E eu é que não soube aproveitar
endeusaram a morena, tanto, tanto
Que ela resolveu me abandonar...
Década de 60
Em 1961, Ataulfo participou da caravana que Humberto Teixeira organizou para divulgar a música brasileira na Europa. Levava em sua bagagem: Mulata Assanhada e Na Cadência do Samba.
Numa boate em Estocolmo, Ataulfo emocionou-se no momento em que estava ensaiando e ouviu algumas vozes cantando: Nunca vi fazer tanta exigência.... Senti um nó na garganta, disse Ataulfo.
Em 1967 Ataulfo lançou o samba Laranja Madura, que mereceu inúmeras gravações e conquistou de imediato o público.
Em 1969, fez nova viagem ao exterior, Desta vez representou o Brasil no 1.º festival Internacional de Arte Negra, realizado em Dakar, no Senegal.
Ataulfo Alves faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de abril de 1969, após uma cirurgia para tratar de uma úlcera no duodeno que trazia há vinte anos.
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