Augusto de Campos

Poeta brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Augusto de Campos

Augusto de Campos (1931) é um poeta, ensaísta, crítico de literatura e música e tradutor brasileiro, um dos criadores do movimento literário denominado Poesia Concreta, quando a poesia ganhava nova forma poética baseada na desintegração total do verso tradicional, uma reação contra a lírica discursiva e frequentemente retórica da geração de 45.

Augusto Luís Browne de Campos, conhecido como Augusto de Campos, nasceu em São Paulo, no dia 14 de fevereiro de 1931. Estudou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Carreira literatura

Em 1951, Augusto de Campos estreou na literatura com o livro “O Rei Menos o Reino”, no qual nota-se o contato com a melhor tradição lírica portuguesa: Sá de Miranda, Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa. Destaca-se o seguinte poema:

                    O Vivo

Não queiras ser mais vivo do que és morto.
As sempre-vivas morrem diariamente
Pisadas por teus pés enquanto nasces.
Não queiras ser mais morto do que é vivo.
As mortas-vivas rompem as mortalhas
Miram-se umas nas outras e retornam
(Seus cabelos azuis, como arrastam o vento!)
Para amassar o pão da própria carne.
Ó vivo-morto que escarnecem as paredes

Queres ouvir e falas.
Queres morrer e dormes.
Há muito que as espadas
Te atravessando lentamente lado a lado
Partiram tua voz. Sorris.
Queres morrer e morres.

Em 1952, junto com seu irmão Haroldo de Campos e o também poeta Décio Pignatari, formam o grupo “Noigandres”. Lançam a Revista de mesmo nome, cujo significado, do Provençal, é “antídoto do tédio” – uma espécie de plataforma dos jovens poetas que almejavam uma linha de pesquisa de novas formas.

Poesia Concreta

Coube a Augusto de Campos o lançamento do nome “Poesia Concreta”, em um artigo da revista, em 1955. É de sua autoria a primeira série sistemática de poemas concretos: “Poetamenos”, publicada no segundo número da revista.

Em 1956, Augusto, Haroldo e Décio, lançam oficialmente o movimento literário da “Poesia Concreta”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, que pregava o fim da poesia intimista, o desaparecimento do eu lírico, e propunha uma concepção poética baseada na geometrização e visualização da linguagem:

  Poesia concreta:                 

                      uma vez
                              uma fala
                                      uma foz
                        uma vez      uma bala
                uma fala      uma voz
        uma foz       uma vala
uma bala     uma vez
        uma voz
                uma vala
                        uma vez

A nova forma poética ganhou adesões e apoios, como também repúdios e comentários espantados, em face da desintegração total do verso tradicional, além de uma radical atomização das palavras.

Depois da Poesia Concreta, Augusto de Campos fez experiências a que chamou de “Popcretos”: montagens, a partir de recortes de jornal e revista. Em 1974, publicou com Júlio Plazza, “Poemóbiles” – poemas-objetos manipuláveis.

Com o grupo de poetas concretistas, Augusto de Campos participou de muitos debates no Brasil e no exterior. Em 1959, uma exposição internacional da arte concreta reuniu autores brasileiros e europeus em Stuttgart, na Alemanha. Em 1960, foi fundada a “Equipe Invenção” que organizou, em Tóquio, uma exposição de poetas concretistas brasileiros e japoneses.

Augusto de Campos traduziu duas obras-primas da poesia brasileira: “A Amada Esquiva” (To His Coy Mistress, Andrew Marvel (1621-1678) e “O Jaguadarte” ( Jabberwocky), Lewis Carroll (1832-1898). A obra “Não Poemas”, de 2003, recebeu o Prêmio do Livro do Ano, da Fundação da Biblioteca Nacional.

Obras de Augusto de Campos

Poesia:

  • O Rei Menos o Reino (1951)
  • Poetamenos (1953)
  • Equvocábulos (1970)
  • Colidonescapo (1971)
  • Poemóbiles (1974, com Júlio Plaza)
  • Caixa Preta (1975, com Júlio Plaza)
  • Expoemas (1985)
  • Mão (1990)
  • Clip (1997)

Tradução:

  • 10 Poemas de E.E. Cummings (1960)
  • Traduzir e Trovar (1968, com Haroldo de Campos)
  • Verso, Reverso, Contraverso (1978)
  • Mallarmé (1975, com Haroldo e Décio)

Ensaio:

  • Teoria da Poesia Concreta (1965, com Haroldo e Décio)
  • Sousândrade: Poesia (1966, com Haroldo de Campos)
  • Balanço da Bossa (1968)
  • Re-visão de Kilkerry (1970)
  • Guimarães Rosas em Três Dimensões (1970)
  • Reduchamp (1976)
  • Poesia, Antipoesia, Antropofagia (1978)
  • Pagu: Vida-Obra (1982)
  • A Margem da Margem (1989)
  • Os Sertões de Campos (1997, com Haroldo de Campos)
  • Música de Invenção (1998)
  • Não Poemas (2003)
  • Profilogramas (2011)
Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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