Djamila Ribeiro

Ativista brasileira
Por Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Biografia de Djamila Ribeiro

Djamila Ribeiro (1980) é uma filósofa, ativista social, professora e educadora brasileira, uma importante voz contemporânea em defesa dos negros e das mulheres. Seu livro Pequeno Manual Antirracista, que trata do racismo estrutural enraizado no Brasil, recebeu o prêmio Jabuti em 2020.

Djamila Taís Ribeiro dos Santos nasceu em Santos, São Paulo, no dia 1 de agosto de 1980. Seu pai, José Ribeiro dos Santos era estivador, ativista do movimento negro e um dos fundadores do Movimento Comunista em Santos. Sua mãe, Erani Benedita dos Santos Ribeiro era empregada doméstica.

O debate sobre a questão racial sempre esteve presente na criação de Djamila. O próprio nome da escritora foi retirado de um jornal da militância negra dos anos 70 chamado Nornegro.  

Seus pais se separaram durante a adolescência de Djamila. Com 19 anos, Djamila começou a frequentar a Casa da Cultura da Mulher Negra, uma organização fundada por Alzira Rufino, que passou a ser referência para a ativista.

Djamila recebeu influência espiritual de sua avó, que frequentava o candomblé. O convívio com sua avó inspirou a autora a mais tarde escrever o livro autobiográfico: “Cartas Para Minha Avó”.

Enquanto sua mãe lutava contra um câncer, Djanira passou a trabalhar como ajudante de limpeza para pagar o curso de jornalismo que fazia em uma universidade privada. Em 2001 perdeu sua mãe e, no ano seguinte perdeu seu pai. Djamila cursou jornalismo até 2005, quando engravidou da filha Thulane.

Formação e ativismo

Djamila Ribeiro ingressou no curso de Filosofia na Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo em 2007, aos 27 anos. Concluiu a graduação em 2012 e o mestrado em Filosofia Política, com foco em teoria feminista, em 2015, na mesma instituição. 

Djanira começou a ganhar visibilidade nacional após escrever no portal Blogueiras Negras que discutia assuntos referentes às feministas negras, e após ser entrevistada em um programa na TV falando sobre feminismo negro, racismo e filosofia.

Trabalhou como colunista da revista CartaCapital e da Revista AzMina. Em 2015, escreveu o prefácio do livro “Mulheres, Raça e Classe” da filósofa norte-americana Angela Davis. Em maio de 2016 foi nomeada secretária-adjunta da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Em 2017, Djanira terminou seu relacionamento depois de 13 anos.

Djamila mantém um relacionamento com o produtor Bruno Tardelli, que segundo ela recebeu muitas críticas, por viver com um homem branco.

Djamila é uma figura importante no combate ao racismo

“O racismo estrutura a sociedade brasileira, e, assim sendo, está em todo lugar.”

Djamila traz à tona o racismo estrutural, que é herança dos tempos da escravidão e que condena, até os dias de hoje, a população negra a um determinado lugar social, com piores índices de desenvolvimento humano e fora dos espaços de poder. 

Os antigos escravos foram marginalizados socialmente e, até hoje, colhemos os frutos desse tempo. As mulheres negras, por exemplo, após a abolição, foram destinadas ao trabalho doméstico (e hoje observamos o impressionante número de 6 milhões de mulheres empregadas domésticas negras no país, tendo a profissão só sido regulamentada em 2013). 

Para a escritora, a miscigenação no Brasil foi romanceada, o que levou muitos ingenuamente a acreditarem que não havia racismo no nosso país. 

O desafio de Djamila é justamente mostrar o preconceito racial que se encontra entranhado na sociedade brasileira e ajudar, de alguma forma, a combatê-lo, dando ferramentas para o grande público (re)pensar a sua postura social. 

O seu trabalho acadêmico, político e intelectual vai no sentido de apresentar a história para os brasileiros e motivá-los a praticarem políticas antirracistas no dia a dia. 

Djamila também é militante da causa feminista

“A gente luta por uma sociedade em que mulheres possam ser consideradas pessoas, que elas não sejam violentadas pelo fato de serem mulheres.”

Foi através da Casa de Cultura da Mulher Negra, em Santos, São Paulo, que Djamila se encontrou como feminista. Ela trabalhou na Casa no final da adolescência e lá se familiarizou com a luta pelas mulheres. 

Para Djamila, precisamos urgentemente repensar o feminismo no contexto brasileiro uma vez que os números são assustadores no nosso país: a cada cinco minutos uma mulher é agredida e a cada onze uma mulher é estuprada. Os casos de feminicídio têm ganhado cada vez mais visibilidade demonstrando que a violência de gênero é uma realidade também contemporânea.

A luta da ativista é pela equiparação e pela equidade das mulheres, por exemplo, no mercado de trabalho. Trata-se também de uma batalha em nome da justiça social.

Djamila reconhece que o rótulo feminismo abarca uma série de grupos com ideologias muito distintas e sublinha que, no seu caso, o que lhe interessa é dar visibilidade e ajudar a reduzir a questão da injustiça e da desigualdade de gênero. 

Uma das suas publicações - Quem tem medo do feminismo negro? - aborda as singularidades da discriminação contra as mulheres num contexto onde o preconceito racial também está presente.

Carreira literária e prêmios

Em 2017, Djanira publicou seu primeiro livro “O Que é Lugar de Fala?”, o livro foi um dos finalistas do Prêmio Jabuti de 2018. Nesse mesmo ano, Djamila publicou seu segundo livro, Quem Tem Medo de Feminismo Negro?

Em 2019, Djamila recebeu o Prêmio Prince Claus na categoria Filosofia, oferecido pelo Ministério das Relações Exteriores da Holanda reconhecendo a sua luta ativista. Nesse mesmo ano, foi escolhida como “Personalidade do Amanhã” pelo governo francês.

Em 2020 recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas pelo livro Pequeno Manual Antirracista. Em 2021, Djamila publicou Cartas Para Minha Avó, um livro com histórias de sua vida.

Em maio de 2022 foi eleita para a Academia Paulista de Letras, para a cadeira 28, antes ocupada pela escritora Lygia Fagundes Telles.

As suas obras também foram traduzidas para fora do país.

Além dos livros publicados, Djamila criou o Selo Sueni Carneiro, que publicou livros de autores negros com preços mais acessíveis. 

Em termos editoriais, ela coordena a coleção Feminismos Plurais, da editora Pólen. 

Frases de Djamila Ribeiro

“É impossível não ser racista tendo sido criado numa sociedade racista. É algo que está em nós e contra o que devemos lutar sempre.”

“É importante estarmos em todos os lugares. Estarmos contra a maré, no lado da resistência. Precisamos encontrar estratégias e conversar com um número maior de pessoas.”

“Minha luta diária é para ser reconhecida como sujeito, impor minha existência numa sociedade que insiste em negá-la.”

“Não basta só reconhecer o privilégio, precisa ter ação antirracista de fato. Ir a manifestações é uma delas, apoiar projetos importantes que visem à melhoria de vida das populações negras é importante, ler intelectuais negros, colocar na bibliografia.”

“Não me interessa guardar para mim a reflexão se acredito na potência da transformação das mentalidades.”

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Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).
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