Lélia Gonzalez

Intelectual e ativista negra brasileira
Por Laura Aidar
Formada em Comunicação

Biografia de Lélia Gonzalez

Lélia Gonzalez foi uma importante intelectual e ativista brasileira. Considerada a primeira mulher negra a se dedicar aos estudos de raça e gênero no Brasil, Lélia desenvolveu forte pesquisa e militância na área.

Assim, tornou-se indispensável para refletir sobre o papel da mulher negra na sociedade brasileira, bem como o próprio movimento negro, trazendo sempre uma perspectiva popular e humana.

Nascida em Belo Horizonte (MG) em 1 de fevereiro de 1935, Lélia veio de uma família humilde. Filha de pai negro e ferroviário, e mãe indígena e empregada doméstica, teve 17 irmãos (entre eles o futebolista Jaime de Almeida).

Mudou-se para o Rio de Janeiro com a família ainda criança, em 1942. Nessa época seu pai já havia falecido.

Conclui os estudos básicos em 1954, na tradicional instituição carioca Colégio Pedro II. Seus primeiros trabalhos foram como empregada doméstica e babá, o que já nos dá uma dimensão de sua vivência como integrante da base da pirâmide social, ocupada principalmente pelas mulheres negras.

Mesmo com dificuldade, conclui sua formação acadêmica em História e Filosofia pela Universidade do Estado do Guanabara (atual UERJ).

Lecionou em escolas públicas, finalizando mais tarde o mestrado e o doutorado em estudos antropológicos e políticos com viés para as questões de gênero e de etnia.

Foi professora na PUC-RJ e deu aulas para o ensino médio, contribuindo para a formação de pessoas com pensamento crítico e voltado para a luta social.

Na década de 70 passa a ministrar aulas em Cultura Negra na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

Sua atuação abarcou diversas áreas, participando de coletivos e movimentos como o Movimento Negro Unificado, o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), o Coletivo de Mulheres Negras N'Zinga e o Olodum.

Além disso, também esteve envolvida com a política partidária e foi integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) nos anos 80.

Escreveu ainda muitos artigos para jornais e revistas.

Lélia Gonzalez faleceu em 11 de julho de 1994, aos 59 anos, no Rio de Janeiro (RJ).

A importância de Lélia Gonzalez

O legado que Lélia Gonzalez deixou é enorme e essencial na construção filosófica, teórica e prática de movimentos antirracistas e feministas com posicionamento alinhado à luta de classes.

Com uma retórica de fácil entendimento e apoiada em argumentos sólidos, a pensadora conseguiu difundir suas ideias de maneira eficaz e objetiva.

Apesar de inspirar-se nos movimentos negros que despontavam nos EUA, Gonzalez esteve atenta às especificidades da América Latina. Por isso cunhou termo Amefricanidade, para se referir à questão dos negros e negras em solo latinoamericano.

Para se ter ideia dai importância de Lélia Gonzalez, podemos nos lembrar da fala de outra ativista negra importantíssima, Angela Davis, quando esteve no Brasil em 2019:

"Eu sinto que estou sendo escolhida para representar o feminismo negro. E por que aqui no Brasil vocês precisam buscar essa referência nos Estados Unidos? Acho que aprendi mais com Lélia Gonzalez do que vocês aprenderão comigo. "
(Angela Davis)

Principais livros

  • Festas populares no Brasil. Rio de Janeiro, Índex, 1987
  • Lugar de negro (com Carlos Hasenbalg). Rio de Janeiro, Marco Zero, 1982
  • Por um Feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2020 (livro póstumo)

Frases e citações de Lélia Gonzalez

"A gente não nasce negro, a gente se torna negro. É uma conquista dura, cruel e que se desenvolve pela vida da gente afora. Aí entra a questão da identidade que você vai construindo. Essa identidade negra não é uma coisa pronta, acabada. Então, para mim, uma pessoa negra que tem consciência de sua negritude está na luta contra o racismo. As outras são mulatas, marrons, pardos etc."

"Os companheiros de movimento reproduzem as práticas sexistas do patriarcado dominante e tratam de excluir-nos dos espaços de decisão."

"Ao reivindicar nossa diferença enquanto mulheres negras, enquanto amefricanas, sabemos bem o quanto trazemos em nós as marcas da exploração econômica e da subordinação racial e sexual. Por isso mesmo, trazemos conosco a marca da libertação de todos e todas. Portanto, nosso lema deve ser: organização já!"

"É importante ressaltar que emoção, a subjetividade e outras atribuições dadas ao nosso discurso não implicam na renúncia à razão, mas, ao contrário, num modo de torná-la mais concreta, mais humana e menos abstrata e/ou metafísica. Trata-se, no nosso caso, de uma outra razão."

"Estamos cansados de saber que nem na escola, nem nos livros onde mandam a gente estudar, não se fala da efetiva contribuição das classes populares, da mulher, do negro do índio na nossa formação histórica e cultural. Na verdade, o que se faz é folclorizar todos eles."
 

Laura Aidar
Formada em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.
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