Eça de Queirós

Escritor português
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Eça de Queirós

Eça de Queirós (1845-1900) foi um escritor português. Seu romance, "O Crime do Padre Amaro", lançado em 1875, foi o marco inicial do Realismo em Portugal - movimento artístico e cultural que criticava as velhas ideias do Romantismo.

Foi o único romancista português que conquistou fama internacional, naquela época. Foi duramente contestado por suas críticas ao clero e à própria pátria. A crítica social unida à análise psicológica aparece nos livros: O Primo Basílio, O Mandarim, A Relíquia e Os Maias. Eça foi também diplomata.

Infância e Formação

José Maria Eça de Queirós, conhecido como Eça de Queirós ou (Eça de Queiroz), nasceu no dia 25 de novembro, na cidade de Póvoa de Varzim, Portugal. Seus pais, o brasileiro José Maria Teixeira de Queirós e a portuguesa Carolina Augusta Pereira de Eça, casaram-se quatro anos após seu nascimento. Esse fato fez com que ocultassem o filho por muito tempo.

Eça passou sua infância e adolescência longe da família, sendo criado pelos avós paternos, na Vila do Conde, na Rua da Costa, até 1955. Em seguida, foi interno no Colégio da cidade do Porto.

Em 1861 ingressou no curso de Direito da Universidade de Coimbra, onde se formou em 1866. Nessa época, assistiu de longe os movimentos estudantis liderados por Antero de Quental e Teófilo Braga. Não participou da Questão Coimbrã (1865), como ficou conhecida a polêmica que passou a ser o marco divisor entre o Romantismo e o Realismo.

Conferência no Cassino Lisbonense

Depois de formado, Eça foi para Lisboa residir com os pais. Exerceu por algum tempo a advocacia. Em 1871 participou do grupo de jovens intelectuais formado, entre outros, por Antero de Quental, Ramalho Ortigão e Teófilo Braga que organizaram uma série de Conferências Democráticas, que seriam realizadas no Cassino Lisbonense, com o objetivo de estabelecer as bases da nova literatura.

O governo e a Igreja não viam com bons olhos toda essa agitação intelectual. Por isso, depois da quinta conferência, o Cassino foi fechado, mas o grupo conseguiu, foi o triunfo do Realismo português, que teve no prosador Eça de Queirós e nos poetas Cesário Verde e Antero de Quental seus nomes de maior destaque.

Eça de Queirós proferiu a conferência “O Realismo como nova expressão de arte”. Nela, abordou como tema, a oposição existente entre os valores da Escola Romântica e da Realista, revelando os aspectos contrastantes entre o sentimento e a razão.

Carreira Literária: fases e características

Eça de Queirós iniciou sua carreira literária no fim do curso de Direito, como romântico, caminhando para a prosa realista através de três fases:

A primeira fase teve início em 1867 com "Notas Marginais" - folhetins publicados na “Gazeta de Portugal” (postumamente reunidos em Prosas Bárbaras), que chamavam a atenção de seus companheiros, pela maneira como concebia o homem e o processo histórico. Nesse mesmo ano, dirigiu na cidade de Évora, o jornal de oposição “Distrito de Évora”.

Em 1869, como jornalista, assistiu à inauguração do Canal de Suez, no Egito, que resultou na obra O Egito, publicada postumamente. Depois, instalou-se em Leiria como administrador do Conselho.

Junto com o escritor, Ramalho Ortigão, publicou em folhetins a novela policial “Mistério da Estrada de Sintra” (1871). No mesmo ano, criaram os fascículos mensais “As Farpas”, nos quais publicavam críticas ferinas, mas sempre bem humoradas sobre a realidade portuguesa de seu tempo, como os seus costumes, instituições, partidos políticos e problemas.

Em 1872, Eça de Queirós ingressou na carreira diplomática ao ser nomeado cônsul em Havana. Em 1874 foi transferido para o consulado de Newcastle-on-Tyne, na Inglaterra. Afastou-se da realidade portuguesa, voltando à terra natal só por breves períodos.

segunda fase da obra de Eça de Queirós teve início em 1875, quando publicou o romance O Crime do Padre Amaro, inspirado na época em que esteve em Leiria. O romance representou o marco inicial do Realismo em Portugal. Nele, Eça faz uma crítica violenta da vida social portuguesa quando denuncia a corrupção do clero e a hipocrisia dos valores burgueses.

Em 1878, Eça de Queirós foi transferido para o consulado de Bristol, também na Inglaterra. Nesse mesmo ano, publicou O Primo Basílio, no qual coloca como tema o adultério, focalizando a decadência da família burguesa de seu tempo.

O Primo Basílio - uma história de sedução e hipocrisia (síntese)

O romance “O Primo Basílio” ilustra bem a posição crítica de Eça de Queirós diante da sociedade lisboeta de seu tempo. Luísa e Jorge são casados e vivem uma vida confortável e rotineira. Luísa ociosa e sonhadora, recebe a visita de seu primo Basílio, com quem havia namorado antes de conhecer o marido.

Basílio aproveita a ausência de Jorge, que está viajando a trabalho, e seduz a prima. Passam a se encontrar, mas não conseguem evitar que o caso seja percebido. A empregada da casa, Juliana, apanha do lixo alguns rascunhos de cartas que comprometem Luísa e passa a chantageá-la.

Nessa altura, Basílio já foi embora de Lisboa e Jorge voltou. Luísa desespera-se, não sabendo o que fazer para sair dessa enrascada. Com a ajuda de um grande amigo, consegue recuperar as cartas. A empregada morre e Luísa, esgotada, adoece gravemente.

Jorge fica sabendo de tudo, mas resolve perdoá-la. Ela, porém, não se recupera e falece. Basílio, por seu lado, ao saber da morte de Luísa, lamenta apenas a perda de uma mulher que poderia ser um bom passatempo para ele, quando tivesse que voltar a Lisboa.

Em 1885, Eça visitou o escritor francês Émile Zola, em Paris. Casou-se em 1886, com 40 anos, com Emília de Castro Pamplona Resende, jovem de família aristocrática. O casal teve dois filhos: Maria e José Maria.

O Primo Basílio - Crítica de Machado de Assis sobre a obra

Em 1878, quando Eça de Queirós publicou o livro O Primo Basílio, e esse começou a ser comercializado nas livrarias do Rio de Janeiro, foi um sucesso de público – os leitores se encantavam com o estilo realista da escrita.

Machado de Assis, porém, fez uma crítica implacável sobre o romance, condenando a “reprodução fotográfica e servil” da realidade que o colega português teria herdado do francês Émile Zola. Na verdade, como não aprovava o tom de erotismo do romance, Machado aproveitou para negar um apoio à Escola Literária do Realismo – para ele, a única personagem coerente do livro era a chantagista Juliana.

A terceira fase da carreira literária de Eça, teve início em 1888, ano em que foi nomeado cônsul em Paris, época em que publicou Os Maias, quando o autor se abstrai da sátira contundente e da ironia caricatural da família ou da sociedade burguesa, para conduzir-se à uma trilha construtiva.

Eça de Queirós
Eça de Queirós em sua casa em Neuilly na França

O escritor abandona os elementos realistas e lança-se ao cultivo de princípios moralizantes, deixando transparecer que o valor da existência reside na simplicidade. É desse momento: A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras, o conto Suave Milagre e as biografias religiosas.

Public.

Casamento e morte

Em 1885, Eça visitou o escritor francês Émile Zola, em Paris. Casou-se em 1886, com 40 anos, com Emília de Castro Pamplona Resende, jovem de família aristocrática. O casal teve dois filhos: Maria e José Maria.

Eça de Queirós faleceu em Neuilly-sur-Siene, França, no dia 16 de agosto de 1900.

Frases de Eça de Queirós

Os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam na cidade.

A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação.

O amor eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam.

Quando não se tem aquilo que se gosta é necessário gostar-se daquilo que se tem.

O maior espetáculo para o homem será sempre o próprio homem.

Obras de Eça de Queirós

Primeira fase:

  • Prosas Bárbaras, póstuma (1905)
  • Mistério da Estrada de Sintra (1871)

Segunda fase:

  • O Crime do Padre Amaro (1875)
  • O Primo Basílio (1878)
  • O Mandarim (1879)
  • A Relíquia (1887)

Terceira fase:

  • Os Maias (1888)
  • A Ilustre Casa de Ramires (1900)
  • A Correspondência de Fradique Mendes (1900)
  • A Cidade e as Serras, (1901)

Literatura de viagem:

  • Uma Campanha Alegre, (1891)
  • Cartas da Inglaterra (1903)
  • Ecos de Paris (1905)
  • O Egito (1926)
Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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