Guerra Junqueiro

Poeta português
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Guerra Junqueiro

Guerra Junqueiro (1850-1923) foi um poeta, prosador, jornalista e político português. Foi um dos mais destacados escritores do Realismo, movimento literário que reproduz a ação social e política da segunda metade do século XIX.

Abílio Manuel Guerra Junqueiro, conhecido como Guerra Junqueiro, nasceu em Freixo de Espada à Cintra (Trás-os-Montes), Portugal, no dia 17 de setembro de 1850. Filho de rico negociante e lavrador fez seu curso preparatório na cidade de Bragança. Desde cedo, mostrou notável talento poético Em 1864 escreveu duas páginas do livro “Lira dos Quatorze Anos”. Em 1866 ingressou no curso de Teologia da Universidade de Coimbra.  

Vida Literária

Guerra Junqueiro iniciou sua carreira literária em Coimbra no jornal literário “A Folha”, dirigido pelo poeta João Penha. Em 1867, publicou o folheto “Vozes Sem Eco”. Em 1868, publica os livros “Batismo de Amor”, com a introdução escrita por Camilo Castelo Branco e “Lira dos Quatorze anos”. Nesse mesmo ano, desistiu da vida religiosa e ingressou no curso de Direito da mesma universidade.

Durante o curso de Direito, Guerra Junqueiro participou ativamente da vida literária, em um período de grande agitação, consequência do primeiro choque entre as duas gerações, a do Romantismo em declínio e o Realismo emergente, em 1865, polêmica que ficou conhecida como Questão Coimbrã. A poesia do Realismo português incorpora e divulga as ideias materialistas, positivistas e evolucionistas. Os poetas representativos desse período, além de Guerra Junqueira, são Antero de Quental e Cesário Verde.

Em 1870, Guerra Junqueira lança, no Porto, “Vitória da França”. Em 1873, após a proclamação da República na Espanha, lança o poema “A Espanha Livre”. Nesse mesmo ano conclui o curso de Direito. Em 1874, lança a obra “A Morte de D. João”. Em seus versos, de grande força satírica, critica a figura de D. João, o conquistador, e ataca com agressividade a mentalidade burguesa da época. Nessa época, muda-se para Lisboa e passa a colaborar, em prosa e verso para os jornais “A Lanterna Mágica” e o “Diário de Notícias”.

Vida Política

Em 1878, Guerra Junqueiro ingressa na vida política. Foi nomeado Secretário Geral do Governo Civil de Angra do Heroísmo. Em 1879 filia-se ao Partido Progressista, Nesse mesmo ano, é transferido para Viana do Castelo. Ainda em 1879, é eleito para a Câmara dos Deputados. Em 1910, com o advento da República, é nomeado Ministro de Portugal, em Berna, na Suíça, onde permaneceu até 1914, quando pede exoneração das funções de ministro.

Guerra Junqueiro faleceu em Lisboa, Portugal, no dia 7 de julho de 1923.

Fases e Características da Obra de Guerra Junqueiro:

  • A primeira fase da carreira poética de Guerra Junqueiro apresenta uma obra realista e agressiva. Em “A Morte de D. João” (1874), poema de grande força satírica, analisa e critica, em tom panfletário, a figura de D. João, o conquistador, e ataca com agressividade a mentalidade burguesa da época. Em “A Velhice do Padre Eterno”, censura a luxúria do clero e a decadência moral da Igreja, tentando revestir a obra de cunho científico, vigente na época. É dessa época, o poema, “Parasitas”:

Parasitas

No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.

  • Na segunda fase, o poeta volta-se para os valores espirituais, com uma poesia a serviço da salvação do homem. Reconcilia-se com a Igreja e cultiva a fé, a esperança e a caridade. Inspira-se nos motivos humildes e alimenta-se do lirismo, já a caminho da espiritualidade simbolista. Cria as obras-primas, como “Os Simples” (1892), “Pátria” (1896), “Oração ao Pão” (1902) e “Oração à Luz” (1903), como segue um pequeno trecho:

Oração à Luz

Claro mistério

Do azul etéreo!

Sonho sidéreo!

Luz!

Da terra dorida

Alento e guarida!

Fermento da vida,

Luz!

Eucaristia santa,

Vinho e pão que alevanta

Homem, rochedo e planta…

Luz!

Virgem ígnea das sete cores,

Toda abrasada de esplendores,

Mãe dos heróis e mãe das flores,

Luz!

Poemas de Guerra Junqueiro

  • Batismo de Amor (1868)
  • Vitória de França (1870)
  • A Musa em Férias (1871)
  • A Espanha Livre (1873)
  • A Morte de D. João (1874)
  • O Crime (1875)
  • A Velhice de Padre Eterno (1885)
  • Finis Patriae (1891)
  • Marcha do Ódio (1891)
  • Os Simples (1892)
  • Pátria (1896)
  • Oração ao Pão (1902)
  • Oração à Luz (1903)
  • O Caminho do Céu (1903)
  • Prometeu Libertado (1903)
  • Torre de Babel (1923)
Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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