Filipe Camarão

Indígena brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Filipe Camarão

Filipe Camarão (1591-1649) foi um indígena brasileiro, herói da Insurreição Pernambucana. "Capitão-Mor dos índios", "Dom Filipe", "Cavaleiro da Ordem de Cristo" e "Fidalgo", foram os títulos que recebeu do rei por lutar na defesa do território brasileiro contra o ataque dos inimigos.

Filipe Camarão, nome cristão do índio Poti, nasceu na Aldeia Velha de Igapó, na margem norte do rio Potengi, na capitania do Rio Grande (atualmente, Rio Grande do Norte), no ano de 1591. Foi catequizado e batizado pelo padre Dionísio Nunes, na Igreja de São Miguel do aldeamento Guajiru (atual município de Extremoz), no dia 4 de junho de 1612.

O índio Poti recebeu o nome cristão de Antônio Filipe Camarão. O primeiro em homenagem ao santo, o segundo ao rei de Portugal e Espanha, e o terceiro referente ao significado da palavra indígena Poti.

No mesmo dia do batizado, casou-se com Clara Camarão que esteve presente ao lado dele em numerosas batalhas contra os holandeses e permaneceram juntos por toda a vida. Educado pelos jesuítas, sabia ler e escrever português e um pouco de latim.

Quem foi Filipe Camarão para a história do Brasil?

O litoral brasileiro foi invadido inúmeras vezes por navios estrangeiros que vinham contrabandear o pau-brasil e destruir as primeiras vilas estabelecidas pelos portugueses.

Em 1597, época em que Filipe Camarão era ainda menino, os franceses foram expulsos da capitania do Rio Grande por uma expedição comandada por Manuel Mascarenhas, que conquistou a foz do rio Potengi e deu início à construção da cidade de Natal e do forte dos Reis Magos.

Filipe Camarão foi um herói em diversas reconquistas das terras pelos portugueses, muitas vezes lutando contra alguns compatriotas potiguares que foram evangelizados pelos holandeses que aqui se instalaram.

Filipe Camarão e a reconquista do Maranhão

Em 1614, o índio potiguar acompanhou o capitão Jerônimo de Albuquerque Maranhão na reconquista da capitania do Maranhão, onde os franceses haviam fundado a cidade de São Luís.

Felipe Camarão reuniu 200 dos seus melhores guerreiros que se juntaram aos 300 portugueses. Jerônimo de Albuquerque e seus comandados estabeleceram-se na baía de São Marcos, em frente a São Luís e logo fundaram o arraial de Santa Maria, em Guaxenduba, onde aguardaram o ataque dos franceses.

O ataque aconteceu em 19 de novembro de 1614. Mesmo com menor número de homens, a tropa de índios e portugueses saiu vitoriosa. Após a expulsão dos franceses da “França Equinocial”, iniciou-se a reconstrução de São Luís.  

Filipe Camarão e a reconquista da Bahia

A notícia de que a Companhia das Índias Ocidentais estava preparando na Holanda uma poderosa esquadra para atacar a Bahia, sede do Governo Geral, chegou ao Brasil bem antes de se realizar a invasão.

O governador, Diogo de Mendonça Furtado organizou uma resistência, porém a esquadra invasora só chegou em 9 de maio de 1624 encontrando a defesa desarmada e logo conquistou Salvador.

Salvador em 1624
Ilustração de Salvador em 1624

Três meses depois, a tática de atacar o inimigo por meio de emboscada foi empregada. Os guerrilheiros, entre eles, Filipe Camarão e André Vidal de Negreiros, comandados por Francisco Padilha, junto com um grande auxílio vindo de Portugal e da Espanha, obrigaram  os holandeses a se renderem.

Filipe Camarão e a Invasão de Pernambuco

Em 1630 os holandeses organizaram a invasão da capitania de Pernambuco, o maior centro açucareiro da colônia. No dia 14 de fevereiro, uma esquadra holandesa com mais de sessenta embarcações chegou ao litoral, trazendo cerca de 7 000 homens.

As tropas desembarcaram na praia de Pau Amarelo, avançaram em direção a Olinda, que foi tomada depois de muita luta. O governador Matias de Albuquerque preparou uma resistência no Recife, mas foi obrigado a se retirar para um local que ficava a seis quilômetros da cidade, o Arraial do Bom Jesus (hoje Sítio da Trindade, em Casa Amarela).

Com a invasão de Pernambuco pelos holandeses Filipe Camarão foi um dos primeiros voluntários a se apresentar ao superintendente da guerra e governador Matias de Albuquerque.

Filipe Camarão foi nomeado capitão dos indígenas, que por meio de guerrilhas, mantiveram os holandeses sitiados no Recife. Os holandeses incendiaram Olinda e permaneceram encurralados durante dois anos no Recife.

Honrarias recebidas por Filipe Camarão

Em 1633, o rei Filipe II da Espanha (Filipe I de Portugal), reconhecendo a bravura de Filipe Camarão e o valor de seus serviços, concedeu-lhe um brasão de armas com a patente de "Capitão Mor dos índios".

Em 1635 recebeu do soberano o tratamento de "Dom" e a comenda de "Cavaleiro da Ordem de Cristo", tornando-se "fidalgo". A realeza espanhola concedia títulos aos povos considerados inferiores e que lutavam à frente das batalhas, lhes dando um certo status social.

Domínio holandês

Com a traição de Calabar, que até então estava ao lado dos pernambucanos, o panorama da guerra se modificou. Os holandeses passaram a dominar Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

A resistência oferecida pelos guerrilheiro foi praticamente anulada. Os holandeses conquistaram Alagoas, Sergipe e o Ceará. A Bahia só não foi novamente tomada graças à resistência do governador, auxiliadas pelo conde Bagnolo e pelas forças do índio Filipe Camarão.

Em 1637, chegou a Pernambuco uma esquadra trazendo o governador do Brasil holandês Maurício de Nassau, que, logo ao chegar, criou condições e conquistou o mercado produtor de açúcar no Nordeste brasileiro.

Olinda foi reedificada, o Recife foi urbanizado e foram construídos palácios e pontes. Recife tornou-se a “Cidade Maurícia”, a capital da Nova Holanda, uma das cidades mais bonitas e importantes da costa atlântica.

Expulsão dos holandeses

A luta pela expulsão dos holandeses de Pernambuco teve início em 1645, um ano depois da partida do Conde Maurício de Nassau. O chefe da Insurreição Pernambucana foi João Fernandes Vieira, um dos mais ricos habitantes da região. Ao seu lado combateram Filipe Camarão, André Vidal de Negreiros e Henrique Dias.

Em 1648, quando pretenderam consolidar o domínio que há 18 anos exerciam sobre Pernambuco e que fora reconhecido por Portugal, os holandeses pediram perdão aos colonos e prometeram indenizar as terras que haviam ocupado.

Filipe Camarão, sem a aprovação do rei, enviou uma carta à Junta Governativa Holandesa, respondendo que os colonos pretendiam se defender com as espadas e que eram ridículos seus perdões e promessas.

Foi destinado para Filipe Camarão um ponto de concentração de suas tropas, a estância de Santo Amaro, de onde lhe era possível atacar o adversário em suas passagens do Recife para Olinda.

Com a vitória dos pernambucanos na batalha no “Monte da Tabocas”, as tropas se aproximaram do Recife e formaram o Arraial Novo do Bom Jesus.

Filipe Camarão
Ruinas do Arraial Novo (hoje, na Av. do Forte, Torrões, Pernambuco)

Com a tomada do engenho Casa Forte, as tropas dominaram a várzea do Capibaribe e estruturaram o cerco ao Recife, do qual Filipe Camarão participou ativamente.

Ele esteve presente com seus comandados também na primeira “Batalha dos Guararapes” em 19 de abril de 1648, mas adoeceu e se retirou para o Engenho Novo de Goiana onde morreu e não participou da retomada do Recife em 1654.

Antônio Filipe Camarão faleceu em Goiana, Pernambuco, no dia 24 de agosto de 1649. Seus restos mortais encontram-se na Imperial Igreja Nossa Senhora do Rosário, no bairro da Várzea.

Em 1955, a sede da Prefeitura de Natal, Rio Grande do Norte, recebeu o nome de “Palácio Filipe Camarão”, em homenagem ao índio que lutou em defesa das terras brasileiras.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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