Ferreira Gullar
Biografia de Ferreira Gullar
Ferreira Gullar (1930-2016), pseudônimo de José Ribamar Ferreira, foi um poeta, crítico de arte e ensaísta brasileiro. Abriu caminho para a "Poesia Concreta" com o livro "A Luta Corporal". Organizou e liderou o movimento literário "Neoconcreto". Recebeu o Prêmio Camões, em 2010. Em 2014, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.
Infância e Adolescência
Ferreira Gullar nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 10 de setembro de 1930. Cresceu em torno da quitanda que seu pai tinha em São Luís. Iniciou seus estudos em sua cidade natal.
Com 13 anos passou a se dedicar à poesia. Ingressou na Escola Técnica São Luís, onde queria aprender uma profissão. Com 18 anos desistiu da Escola Técnica.
Carreira Literária
Em 1949, Ferreira Gullar publicou seu primeiro livro de poesias, intitulado Um Pouco Acima do Chão. Em 1951 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde atuou como revisor de textos da revista O Cruzeiro.
Em 1954, Ferreira Gullar publicou A Luta Corporal, livro que o colocou entre os vanguardistas que tentavam explodir o verso e a linguagem. Aproximou-se dos concretistas Décio Pignatari e os irmãos Haroldo de Campos e Augusto de Campos.
Em 1956, depois de participar da primeira exposição de Poesia Concreta, realizada em São Paulo, organizou e liderou o grupo "Neoconcreto", no qual participaram artistas plásticos, sobretudo Lygia Clark e Hélio Oiticica.
Em 1959, um Manifesto Neocroncreto selou a dissidência de Gullar em relação ao trio paulista e ele se lançou na luta política. Converteu-se ao marxismo, militou no Centro Popular de Cultura e foi um dos fundadores do combativo Teatro Opinião.
No dia seguinte ao golpe de 1964, Gullar filiou-se ao Partido Comunista. Construiu uma expressão própria, abordando temas de interesse social, como guerra fria, corrida atômica, neocapitalismo, terceiro mundo etc.
É desse período Romances de Cordel (1962-67), que escreveu para o Centro Popular de Cultura da UNE, o longo poema sobre o Vietnã: Por Você, Por Mim (1968).
Exílio
Em 1969, Ferreira Gullar foi perseguido pela ditadura militar e foi detido junto com intelectuais e músicos, como Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Em 1971, depois de um tempo na clandestinidade, foi para o exílio, primeiro na União Soviética, depois no Chile, de Salvador Allende. Desalojado do Chile pelo golpe do general Augusto Pinochet, Gullar foi para a Argentina.
No exílio, Gullar publicou Dentro da Noite Veloz (1975), poemas sobre a morte de Che Guevara. Segue uma parte de um dos poemas:
Agosto de 1964
Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro-Leblom
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentira.O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógios de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu a compro a vista aos donos do mundo. (...)
Em 1976, Gullar publicou Poema Sujo, que foi escrito enquanto vivia no exílio em Buenos Aires e temia ser assassinado pelas forças da repressão. A obra está crivada de referências políticas com memorialismo. Segue uma parte do poema Leilão:
Leilão
-Quando dão? Quando dão?
-Quem dá mais? grita mais o leiloeiro.
Essa bengala de castão de ouro!
(Onde ainda sem levá-la o dono antigo?)
Essa arca colonial!
(Falam dedicatórias de retratos,
falam cartas de amor, a voz trancada.)
-Essa mobília de jacarandá! (...)
Retorno ao Brasil
Em 1977, Ferreira Gullar retornou ao Brasil já redemocratizado e enfrentou três dias de interrogatório. Tornou-se um crítico lúcido da esquerda, desiludido com a utopia socialista.
Teatro e Novela
Para o teatro, Ferreira Gullar escreveu, em 1966, em parceria com Oduvaldo Vianna Filho, a peça "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come". Em parceria com Arnaldo Costa e A.C. Fontoura, escreveu, em 1967, "A Saída? Onde Fica a Saída?".
Junto com Dias Gomes, em 1968, escreveu "Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória". Para a televisão, colaborou para as novelas Araponga em 1990, Irmãos Coragem, em 1995 e Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1998.
Prêmios
Ferreira Gullar ganhou diversos prêmios de literatura, entre eles, o Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Ficção de 2007, com "Resmungos".
Em 2010, recebeu o Prêmio Camões, prestigiosa distinção para escritores de língua portuguesa, mas por medo de avião, faltou a cerimônia de entrega.
No mesmo ano, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, da UFRJ. Em 2011, recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia.
Últimos Anos
Nos seus últimos anos, Ferreira Gullar se dedicou a escrever ensaios e artigos para a Folha de S.Paulo.
Em 2010, há poucas semanas de completar 80 anos, publicou Em Alguma Parte Alguma, uma coletânea de poemas. Com 59 poemas compostos nos últimos dez anos, o livro se divide em quatro partes:
- A primeira reúne indagações a respeito da poesia e seu lugar no dia a dia e no ano a ano de quem a escreve.
- A segunda expõe a perplexidade do poeta em face de um universo talvez cientificamente compreensível, mas a rigor inconcebível por nossa mente.
- Na terceira, Gullar discute poeticamente as aparentes contradições entre figurativo e abstração, figura e fundo.
- A quarta e última apresenta dois poemas longos, um memorialístico, sobre uma viagem ao Chile, onde esteve exilado nos anos 70.
No dia 9 de outubro de 2014, Ferreira Gullar foi eleito para a cadeira n.º 37 da Academia Brasileira de Letras.
Em dezembro desse mesmo ano realizou a exposição "A Revelação do Avesso" quando apresentou 30 quadros feitos a partir de colagens com papel colorido, que foram produzidas como passatempo. A mostra foi acompanhada por um livro com fotos da coleção completa e também com poemas do autor.
Família
Ferreira Gullar foi casado com Tereza Aragão e em seguida com a também poeta Claudia Ahimsa. Teve três filhos: Luciana, Paoli e Marcos Gullar.
Ferreira Gullar faleceu no Rio de Janeiro, no dia 4 de dezembro de 2016, em consequência do agravamento de uma pneumonia.
Obras de Ferreira Gullar
- Um Pouco Acima do Chão, poesia, 1949
- A Luta Corporal, poesia, 1954
- Teoria do Não-Objeto, ensaio, 1959
- João Boa-Morte, Cabra Marcado pra Morrer, poesia, 1962
- Quem Matou Aparecida?, poesia, 1962
- Cultura Posta em Questão, ensaio, 1964
- Se Corre o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, teatro, 1966
- A Saída? Onde Fica a Saída?, teatro, 1967
- Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória, teatro, 1968
- Por Você, Por Mim, poesia, 1968
- Vanguarda e Subdesenvolvimento, ensaio, 1969
- Dentro da Noite Veloz, poesia, 1975
- A Luta Corporal e Novos Poemas, poesia, 1976
- Poema Sujo, poesia, 1976
- Antologia Poética, poesia, 1977
- Augusto dos Anjos ou Vida e Morte Nordestina, ensaio, 1977
- A Vertigem do Dia, poesia, 1980
- Sobre Arte, ensaio, 1983
- Barulhos, poesia, 1987
- Poemas Escolhidos, 1989
- Indagação de Hoje, ensaio, 1989
- O Formigueiro, poesia, 1991
- Argumentação Contra a Morte da Arte, ensaio, 1993
- Rabo de Foguete-Os Anos no Exílio, memórias, 1998
- Muitas Vozes, poesia, 1999
- Rembrandt, ensaio, 2002
- Relâmpagos, ensaio, 2003
- Um Gato Chamado Gatinho, poesia, 2005
- Resmungos, poesia, 2007
- Em Alguma Parte Alguma, poesia, 2010
- Autobiografia Poética e Outros Textos, 2016
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