Sancho II

Quarto rei de Portugal
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Sancho II

Sancho II de Portugal (1209-1248) foi o quarto rei de Portugal, da Dinastia de Borgonha, a primeira dinastia de Portugal. Seu reinado se estendeu por 25 anos, de 1223 a 1248. Recebeu o cognome de “o Capelo”, por ter usado o hábito de frade franciscano enquanto criança. Era também conhecido como o Piedoso.

Sancho II herdou o trono com profundas tensões com a nobreza e o clero, que pretendiam recuperar as mordomias perdidas no reinado de seu pai Afonso II, e com suas tias, que queriam conquistar os privilégios que haviam recebidos por herança de seu pai Sancho I.

Sancho II nasceu no Paço Real de Alcáçova, em Coimbra, no dia 8 de setembro de 1209. Era o filho mais velho do rei Afonso II e de sua esposa Urraca de Castela, filha do rei Afonso VIII de Castela e de Leonor da Inglaterra. Era descendente de Afonso VI de Leão, portanto era prima de 5.º grau de Afonso II de Portugal.

Sancho ficou órfão de mãe em 3 de novembro de 1220. Com a morte de seu pai em 25 de março de 1223, herdou o trono de Portugal com apenas 13 anos de idade sem ter qualquer preparação para governar.

Em testamento deixado por Afonso II, o governo do reino deveria ser entregue a um conjunto de ricos homens, entre eles o chanceler Gonçalo Mendes, o mestre Vicente e o mordomo-mor Pedro Anes da Nóvoa, até o herdeiro atingir a maioridade, pois a época estabelecida era a partir de 14 anos de idade.

Reinado de Sancho II

Sancho II recebeu de herança um reino com sérios problemas e disputas pelo poder principalmente junto a nobreza e o clero, que pretendiam recuperar as mordomias perdidas no reino de seu pai, e com suas tias, que queriam conquistar os privilégios que haviam recebidos por herança de seu pai Sancho I.

Ao longo do reinado ocorreram profundos conflitos sociais. As frequentes guerras privadas de caráter feudal refletiam as rivalidades entre as famílias nobres. Os abusos e os roubos realizados por bandos de cavaleiros, geralmente integrados por nobres de segunda categoria, contra comunidades rurais e igrejas ou mosteiros, roubando bens e cometendo violência, contribuíram para agravar a situação

A insegurança e a anarquia chegaram a um nível insuportável, diante da incapacidade do rei para impor ordem e justiça. Por outro lado, as desavenças entre Sancho II e os altos dignatário eclesiásticos não deixaram de se multiplicar.

Conflito com as tias

O conflito com suas tias, as infantas Teresa, Sancha e Mafalda, que segundo testamento do rei Sancho I, deveriam, sob o título de rainhas, receberem a posse dos castelos de Montemor-o-Velho, Alenquer e Saboia, respectivamente, como também exercerem poder absoluto sobre as vilas e seus rendimentos, gerou uma luta que atravessou o reinado de seu irmão Afonso II.

O rei Afonso II se recusou a cumprir o testamento do pai, pois ia de encontro à política de centralização do reino de Portugal, o que impediu as infantas de receberem os títulos e os rendimentos que teriam direito.

Em 1223, Sancho II resolveu o problema com as tias concedendo-lhes os rendimentos dos castelos, nomeando os alcaides escolhidos por elas e pedindo-lhes apenas que renunciassem ao título de rainhas, assim estabelecendo a paz no reino, porém, Sancho II teria planejado uma ofensiva com o objetivo de retomar estes castelos em 1231.

Conflito com o Clero

As conflituosas relações de Sancho II com o clero também tiveram origem nas desavenças ocorridas durante o reinado de seu pai. O casamento de Afonso II não foi pacífico, pois o bispo do Porto recusou participar das comemorações, uma vez que os noivos eram parentes.

Outro ato que desagradou o clero e provocou contestação do bispo de Braga foi a ordem de Afonso II de reconhecer e registrar os donos das terras para evitar que estas fossem tomadas pela nobreza e pelo clero.  

Com o propósito de sanar as profundas tensões deixadas por seu pai, Sancho II resolveu parte do problema com o clero pagando um alto valor ao bispo de Braga, e assim garantiu do papa a absolvição de Afonso II, que havia sido excomungado.

Desde o início do reinado verificaram-se choques graves com o arcebispo de Braga e com os bispos de Lisboa, Porto e Guarda. As queixas eram contra o desrespeito dos funcionários régios face aos direitos e as prerrogativas da Igreja.

Logo no início do reinado, Sancho II interveio junto ao papa para que fosse anulada a interdição do reino, aplicada durante o reinado de seu pai. Em 1225, o papa Honório III emitiu uma bula de confirmação do reino de Portugal.

Para agravar a situação, em 1226 a expedição militar organizada pela Coroa para a conquista da cidade muçulmana de Elvas, reconheceu o sabor da derrota, fato que levou o rei a ser recriminado e responsabilizado pelo insucesso.

Conquistas Territoriais

Mais preocupado com o reino, Sancho II deu atenção à reconquista de Península Ibérica, conquistando dos muçulmanos importantes terras no Alentejo e no Algarve. Com o apoio das ordens religiosas-militares que desempenharam papel na direção da reconquista, Elvas foi finalmente ocupada por Sancho II em 1229.

Sancho II
Sancho II

Além de Elvas, seguiu-se a tomada de Juromenha no mesmo ano. Foram sucessivamente incorporadas Moura e Serpa (1232), Beja e Aljustrel (1234), Mértola (1238), Cacela (1240), Alvor (1241), Tavira e Paderne (1242). A maior parte destas localidades foi doada à poderosa Ordem de Santiago. A vila de Crato foi doada à Ordem do Hospital.

Casamento

Sancho II casou-se em fevereiro de 1241 com D. Mércia Lopes Haro, filha de um dos mais importantes fidalgos da Espanha, Lopes Dias de Haro. Foi dama da corte da rainha D. Berengaria, mãe de D. Fernando III de Castela.

Descendente direta, por via da mãe de D. Afonso Henriques, como esposa de Sancho II, teve no primeiro momento, fortes obstáculos, pois não agradava à nobreza, nem ao clero e muito menos ao povo. Ficou conhecida como a rainha maldita, que nada de bom trouxe ao reino, nem gerou um filho para a sucessão.

Excomunhão e deposição de Sancho II

Com as crescentes crises entre a Igreja e a Coroa, os prelados recorreram ao papa, que ameaçou o rei caso ele não observasse os privilégios do clero. Sancho II acabou por ser excomungado por Gregório IX em 1238.

As tensões no seio da nobreza levaram o infante D. Afonso, irmão do rei, a partir para a França, até tornar-se vassalo do rei Luís IX e a casar com a viúva condessa de Bolonha, em 1239.

No dia 24 de julho de 1245, o novo papa Inocêncio IV emitiu a Bula “Grandi non emmerito” que justificava a perda da devoção à Santa Sé e a negligência da justiça, destituindo Sancho II e nomeando o seu irmão Afonso, então conde de Bolonha, como regente do reino.

No dia 6 de setembro, por iniciativa do papa, D. Afonso reuniu-se em Paris com altos dignitários eclesiásticos e alguns membros da nobreza portuguesa e jurou respeitar e defender os direitos da igreja e foros, como também observar os bons costumes.

Afonso abdicou de suas terras francesas e chegou a Lisboa nos últimos dias de 1245 e deparou-se com a guerra civil em curso. Aos poucos foi eliminando as forças que apoiavam o rei. Sancho II, já deposto, ainda contava com o apoio de uma parte da nobreza e também com o apoio de Fernando III de Castela e Leão.

Os exércitos comandados pelo Infante Afonso, filho de Fernando III, acabaram por abandonar as incursões que realizavam no norte do território português e voltaram para o seu reino, em 1247, o que permitiu que o conde de Bolonha saísse vitorioso.

Exílio, morte e sucessão

O Infante Afonso de Castela, levou consigo o rei deposto, que se exilou em Toledo, onde acabou falecendo no dia 04 de janeiro de 1248.

Após a morte de Sancho, seu irmão Afonso III passou a intitular-se rei de Portugal.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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