Darcy Ribeiro

Antropólogo brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um antropólogo, sociólogo, educador, escritor e político brasileiro. Destacou-se por seu trabalho em defesa da causa indígena e da educação no país.

Darcy Ribeiro nasceu em Montes Claros, em Minas Gerais, no dia 26 de outubro de 1922. Seu pai, Reginaldo Ribeiro dos Santos era farmacêutico, e sua mãe, Josefina Augusta da Silveira era professora.

Iniciou seus estudos em sua cidade natal. Após concluir o ensino médio, ingressou na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, porém abandonou o curso.

Mudou-se para São Paulo e ingressou na Escola de Sociologia e Política graduando-se em 1946 no curso de Ciências Sociais, especializado em Antropologia.

Antropólogo e educador

Em 1947, Darcy iniciou o trabalho de etnólogo no antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Em 1950 escreveu Religião e Mitologia Cadiueu, baseado nas pesquisas de campo realizadas no grupo indígena habitante na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai.

Em 1952 passou a dirigir a seção de pesquisas do SPI. Em 1953 criou o Museu do Índio. Elaborou para a UNESCO um estudo do impacto da civilização sobre os grupos indígenas brasileiros no século XX.

Colaborou com a Organização Internacional do Trabalho na preparação de um manual sobre os povos aborígenes de todo mundo. Colaborou com a fundação do Parque Nacional Indígena do Xingu.

Em 1955, com a eleição de Juscelino Kubitschek para presidente da República, Darcy foi convidado para participar da elaboração das leis diretrizes para o setor educacional, quando trabalhou com o educador Anísio Teixeira.

Nessa época, deixou a direção do SPI e passou a integrar o corpo docente da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, quando criou o primeiro curso de pós graduação em Antropologia.

Lecionou Etnologia Brasileira e Língua Tupi na Faculdade Nacional de Filosofia, e Antropologia na Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas.

A partir de 1957, coordenou a divisão de estudos sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do MEC. Em 1958 ficou responsável pelo setor de pesquisas sociais da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo.

Em 1959 tornou-se membro do Conselho Nacional de Proteção ao índio. Realizou pesquisas de campo junto a grupos indígenas dos Estados de Santa Catarina, Maranhão, Mato Grosso e Goiás.

Junto com o Anísio Teixeira participou da defesa da escola pública por ocasião da discussão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Foi um dos organizadores da Universidade Nacional de Brasília (UNB), da qual foi reitor entre 1961 e 1962.

O exílio

Darcy Ribeiro deixou a reitoria da UNB para ser Ministro da Educação e Cultura, durante o Regime Parlamentarista do governo do presidente João Goulart (1962-1963)

Em janeiro de 1963, por ocasião do regime presidencialista, deixou o Ministério para assumir a chefia do Gabinete Civil da Presidência da República.

Darcy foi um defensor da democratização do ensino público e da qualidade do ensino para todos. Em 1964, com o golpe militar que derrubou Goulart, Darcy teve seus direitos políticos cassados e foi obrigado a se exilar fora do país.

Lecionou Antropologia na Universidade da República Oriental do Uruguai, em Montevidéu. Em 1968 os processos contra Darcy foram julgados e anulados pelo Supremo.

De volta ao Brasil, o clima acirrado entre a oposição e o governo culminou com a edição do Ato Institucional n.º 5. Logo em seguida Darcy foi mais uma vez preso e acusado de infringir a Lei de Segurança Nacional.

Após ser julgado e liberado, Darcy voltou a deixar o país, seguindo para a Venezuela. Em seguida, foi assessor do presidente Salvador Allende, no Chile e de Velasco Alvarado, no Peru.

Durante o exílio, escreveu as obras: O Processo Civilizatório (1968), Universidade Necessária (1969), As Américas e as Civilizações (1970), O Índio e as Civilizações (1970) e Teoria do Brasil (1972).

Político

Em 1976, Darcy Ribeiro retornou ao Brasil e lançou o romance "Maíra" surpreendendo a crítica. Em 1979, com a anistia, foi reintegrado à Faculdade do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, filiou-se ao Partido Democrático Trabalhista (PDT)

Em 1982 foi eleito vice-governador do Rio de Janeiro na legenda de Leonel Brizola. Empossado em 1983, acumulou o cargo de Secretário Estadual da Cultura.

Coordenou o Programa Especial de Educação e implantou os Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto revolucionário que dava assistência em tempo integral, incluindo atividades recreativas e culturais.

Idealizado por Darcy Ribeiro, foram instalas 200 salas do CIEP nas áreas do sambódromo do Rio de Janeiro, local projetado para os desfiles das escolas de samba durante o carnaval.

Em 1990, Darcy Ribeiro foi eleito senador pelo Rio de Janeiro, pelo PDT, no mesmo pleito que reelegeu Leonel Brizola. Em 1991 licenciou-se do seu mandato no Senado para assumir a Secretaria Estadual de Projetos Especiais de Educação.

Em 1992 voltou ao Senado e votou favoravelmente para a abertura do impeachment do presidente Fernando Collor. Posteriormente, dedicou-se à elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional.

Foi responsável pela criação e pelo projeto cultural do "Memorial da América Latina" - centro cultural, político e de lazer. Projetou a Universidade Estadual do Norte Fluminense, voltada para a formação de cientistas, inaugurada em 1994.

Após ser aprovada pelo Congresso Nacional em dezembro de 1996, a LDB foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique, e em homenagem ao senador, foi batizada de Lei Darcy Ribeiro. Durante esse ano, Darcy manteve uma coluna semanal no jornal Folha de São Paulo.

Títulos e honrarias

Darcy Ribeiro recebeu os títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne, da Universidade de Compenhague, da Universidade do Uruguai e da Universidade de Brasília, em 1995.

Em 1992, Darcy foi eleito para a cadeira n.º 11, da Academia Brasileira de Letras. É patrono da cadeira n.º 28 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

O Povo Brasileiro

O último livro de Darcy Ribeiro foi lançado em 1995 com o título O Povo Brasileiro - a Formação e o Sentido do Brasil, o autor faz uma síntese de trinta anos de pesquisas.

O livro aborda a história da formação do povo brasileiro, trata das matizes culturais e da formação étnica  dos brasileiros.

Família e morte

Darcy Ribeiro foi casado com a antropóloga Berta Gleizer Ribeiro, de 1948 a 1975, coautora de alguns de seus trabalhos sobre os indígenas. Posteriormente, casou com Cláudia Zarvos. Não teve filhos.

Darcy Ribeiro faleceu em Brasília, no dia 17 de fevereiro de 1997.

Frases de Darcy Ribeiro

“Se nossos governantes não fizerem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construírem presídios”.
“Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”.
“Presente passado e futuro? Tolice. Não existem. A vida é uma ponte interminável. Vai-se construindo e destruindo. O que vai ficando para trás com o passado e a morte. O que está vivo vai adiante”.
“Às vezes se diz que nossa característica essencial é a cordialidade, que faria de nós um povo por excelência gentil e pacífico. Será assim? A feia verdade é que conflitos de toda a ordem dilaceraram a história brasileira, étnicos, sociais, econômicos, religiosos, raciais etc. O mais assimilável é que nunca são conflitos puros. Cada um se pinta com as cores dos outros”.

Obras de Darcy Ribeiro

  • Culturas e línguas indígenas do Brasil (1957)
  • A política indigenista brasileira (1962)
  • O Processo Civilizatório (1968)
  • A Universidade necessária (1969)
  • Os índios e a civilização (1970)
  • As Américas e as Civilizações (1970)
  • Os brasileiros – Teoria do Brasil (1972)
  • Configurações histórico-culturais dos povos americanos (1975)
  • O dilema da América Latina (1978)
  • Nossa escola é uma calamidade (1984)
  • América Latina: a pátria grande (1986)
  • O povo brasileiro (1995)

Romances

  • Maíra (1976)
  • O Mulo (1981)
  • Utopia Selvagem (1982)
  • Migo (1988)

Ensaio

  • Ensaios Insólitos (1979)
Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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