José Maurício Nunes Garcia

Padre brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de José Maurício Nunes Garcia

José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) foi um padre e músico do Brasil colônia. Mulato e filho de escravos alforriados, José Maurício superou as barreiras legais e conseguiu ordenar-se padre.

Compositor sacro, foi nomeado mestre de capela da antiga Igreja de Nossa Senhora do Carmo da antiga Sé do Rio de janeiro.

Após a chegada da Corte Portuguesa ao Rio, em 1808, o príncipe Dom João (futuro Dom João VI) elevou a Igreja do Carmo à categoria de Capela Real e confirmou o padre Maurício no cargo de mestre da Capela.

José Maurício Nunes Garcia nasceu no Rio de Janeiro, no dia 22 de setembro de 1767. Filho de escravos alforriados, seu pai era mestre de campo e vivia do seu ofício de alfaiate.

José Maurício foi batizado na Freguesia da Sé, com o assento de batismo registrado no “livro dos brancos”, o que reforça a ideia de que algum grau de mobilidade social teria sido alcançado pela família.

Aos seis anos de idade perdeu o pai e ficou aos cuidados da mãe e de uma tia. Teve uma educação formal e estudou Gramática, Retórica, Filosofia Racional e Moral, além de Arte da Música, campo em que se destacou.

Estudou teoria musical com o mestre Salvador José, tinha uma bela voz, improvisava melodias e já tocava viola e cravo e se apresentava em festas familiares. Com 16 anos compôs sua primeira peça musical: “Tata Pulchra Es Maria”.

Ordenação

Em 1790, José Maurício deu entrada em um processo na Câmara Eclesiástica do Bispado do Rio de Janeiro, para que pudesse ordenar-se padre. Alguns meses depois, entrou com outra solicitação para que fosse “dispensado do defeito de cor”.

A abertura do processo ocorreu em janeiro de 1791. A barreira em relação ao sacerdócio de negros já existia em Lisboa desde 1640 e foi reforçada nas “Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia”, publicadas em 1720. O texto canônico decretava impedimentos para assumir a função de sacerdote os filhos e netos de hereges, judeus ou mouros, e ter parte de hebreu ou de qualquer outra nação “infecta” de negro ou mulato.

Apesar dos impedimentos, em 1792, José Maurício foi ordenado pelo provedor do bispado que alegou que o jovem tinha comprovado vocação, bons costumes e aplicação nos estudos. Em 1795, foi nomeado professor público de música e mantém um curso de música na sua própria casa.

Músico

A conjunção da carreira eclesiástica com o talento musical levou o padre Maurício a ser convidado, em 1798, para assumir a função de mestre de capela da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, antiga Sé, na época, o mais elevado posto de um músico brasileiro.

Cabia ao mestre de capela funções importantes como as de organista, regente e compositor da Catedral. Era responsável por organizar toda a parte musical das cerimônias religiosas realizadas na Sé pela Câmara da cidade. Era sua função preparar e contratar músicos para atuar na Igreja.

Mestre da Capela Real

Com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, em 1808, a antiga Sé foi transformada em Capela Real e o prestígio do Padre Maurício foi ampliado, pois o príncipe D. João era amante das artes musicais e confiou ao mestre o cargo para a Capela Real.

José Maurício Nunes Garcia
D. João ouve o padre José Maurício tocando cravo (Óleo de Henrique Bernardelli)

Em 1809, D. João lhe conferiu o título de “Cavaleiro da Ordem de Cristo”, uma das maiores honrarias concedidas pela monarquia portuguesa aos súditos que prestassem serviços relevantes à Coroa.

Nesse mesmo ano, compôs a Missa de São Miguel Arcanjo e a Missa de São Pedro de Alcântara, essa dedicada ao príncipe D. Pedro.

Em 1811, a carreira do sacerdote começou a declinar, com a chegada do músico português Marcos Portugal, e com ele um bom número de vozes e instrumentos, que passou a conduzir as funções musicais mais importantes da Capela Real. A partir de então, os eventos menos importantes eram de responsabilidade do antigo mestre.

Em 1816, foi o regente da música da missa pela elevação do Brasil a Reino Unido, celebrada na Igreja de São Francisco de Paula no Largo da Sé Velha. Em 1819 foi o regente do “Requien de Mozart” – em primeira exibição no Brasil.

Padre José Maurício manteve um curso de música na rua das Marreca, que funcionou durante vinte e oito anos. Seu aluno mais ilustre foi D. Pedro I e Francisco Manoel da Silva, autor da melodia do Hino Nacional Brasileiro.

Padre José Maurício recebeu de D. João VI, durante anos, uma pensão, que só foi suspensa em 1822, após a Proclamação da Independência.

Morte

Pouco antes de falecer, José Maurício apresentou-se ao tabelião para legitimar um dos seis filhos que teve – fato que não era incomum entre os sacerdotes do período colonial.

Batizado com o nome do pai, Nunes era formado em medicina. O sacerdote ainda gozava de algum prestígio e procurou transferir com certo sucesso para o filho. Em 1828 renunciou ao título de Cavaleiro da Ordem de Cristo em benefício do herdeiro predileto.

José Maurício Nunes Garcia morreu no Rio de janeiro, no dia 18 de abril de 1830.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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