Padre Manuel da Nóbrega

Padre jesuíta
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Padre Manuel da Nóbrega

Padre Manuel da Nóbrega (1517-1570) foi um missionário jesuíta português, chefe da primeira missão jesuíta mandada para a América. Deixou valiosas notícias históricas sobre o Brasil Colonial nas cartas que enviava para a Companhia de Jesus em Portugal.

Padre Manuel da Nóbrega nasceu na vila de Sanfins do Douro no norte de Portugal, no dia 18 de outubro de 1517. Bacharelou-se em direito canônico e filosofia pela Universidade de Coimbra, em 1541. Três anos depois recebeu as ordens da Companhia de Jesus.

Companhia de Jesus

A Companhia de Jesus foi fundada por Santo Inácio de Loyola, em 1534, em Paris, e aprovada pelo papa Paulo III pela Regimini Militantis Ecclesiae, em 1540. Sua obediência à hierarquia da Igreja Romana era mantida cegamente.

Seus missionários estavam prontos a intervir quando sua presença fosse solicitada, com sua ação missionária em favor da Igreja. A Ordem dos Jesuítas se espalhou inicialmente pela Itália, Espanha e Portugal.

Chegada do Padre Manuel da Nóbrega ao Brasil

No dia 1 de fevereiro de 1549 saiu de Portugal uma armada transportando o primeiro Governador-Geral do Brasil, Tomé de Sousa, com ordens de Dom João III para estabelecer a capital da colônia na Capitania da Bahia.

Com o governador partiram várias pessoas encarregadas das mais diversas funções. Para chefiar os religiosos foi enviado o Padre Manuel da Nóbrega, com 32 anos de idade, que passaria a liderar não só os seis padres jesuítas que com ele viajava, mas todo o movimento da Ordem na colônia.

No dia 29 de março de 1549 a armada chegou ao litoral da Capitania e Tomé de Sousa desembarcou junto às ruínas da capela da Vitória, no sítio da povoação primitiva do Pereira (o donatário Francisco Pereira Coutinho fora trucidado e devorado pelos tupinambás em 1545).

Depois de um mês, acampados ao pé do morro de Santo Antônio, onde hoje está o porto da Barra, o grupo seguiu um pouco mais para dentro da baía, e escolheu o local que chamou Ribeira das Naus onde levantou o marco inicial da cidade de Salvador.

Primeiros núcleos dos jesuítas no Brasil

Dentro do quadrilátero cercado por uma muralha de pedra, o Padre Manuel da Nóbrega mandou edificar a capela de Nossa Senhora da Ajuda, que seria a primeira matriz da vila.

Com a instalação de uma escola, fora dos muros, criou o primeiro núcleo dos jesuítas no Brasil que iriam trabalhar na catequização dos índios. Manuel da Nóbrega e mais os padres que vieram com ele iniciam o trabalho de catequese dos índios e ao mesmo tempo tentou protegê-los dos colonos.

Os jesuítas desenvolvem ações de aproximação e contato com os índios, auxiliado por Caramuru. Aos poucos, Nóbrega vai conquistando a confiança e impondo regras de conduta, mas sem obrigar o índio a transformar seus hábitos da noite para o dia.

Em 1550, o Padre Manuel da Nóbrega esteve em Olinda, na Capitania de Pernambuco, para a instalação do colégio da Companhia. Observou que era grande o número de uniões ilegais entre colonos portugueses e índias.

Preocupado com os problemas morais, defendeu em carta às autoridades e aos seus companheiros da ordem religiosa a necessidade de que viessem de Portugal mulheres dispostas a se casar com os colonos no Brasil.

Como a catequese era difícil, Nóbrega escreveu ao superior da Companhia de Jesus de Portugal pedindo que enviassem um vigário geral e um bispo para impor autoridade sobre os padres indisciplinados que já estavam na colônia.

No dia 25 de fevereiro de 1551, o Papa Júlio III criou o Bispado no Brasil e designou como primeiro bispo Dom Pero Fernandes Sardinha, que chegou ao Brasil em 22 de junho de 1552.

Logo surgiram desavenças entre o bispo e o padre Manuel da Nóbrega. O bispo queria que os índios abandonassem suas práticas e se comportassem como europeus civilizados, porém Nóbrega achava que os índios deveriam se comportar como cristãos, sem que deixasses de todo os seus costumes.

Considerando prejudicada a sua obra, Nóbrega resolveu deixar a Capitania da Bahia. No final de 1552, se aproximando o término do mandato do Governador Geral, ele resolve percorrer as capitanias e seguiu para o sul levando com ele o Padre Manuel da Nóbrega.

Em 1553, quando Manuel da Nóbrega chegou à Capitania de São Vicente admirou-se com a bela paróquia da vila. Permaneceu na capitania, e com a chegada do novo governador Duarte da Costa, Tomé de Sousa retornou para Portugal.

Fundação da Vila de São Paulo

Entre os acompanhantes do novo governador estavam José de Anchieta e outros jesuítas. Algumas semanas após a chegada, Manuel da Nóbrega distribuiu os padres pelos colégios que começaram a se espalhar.

Desejando expandir a missão colonizadora para o sertão, o Padre Manuel da Nóbrega convenceu os portugueses a não permanecerem apenas na faixa litorânea e em 1554 transpôs a serra do Mar, juntamente com José de Anchieta e outros padres, onde se instalaram.

Contando com a ajuda de João Ramalho, um náufrago português que vivia com a índia Bartira, os jesuítas conseguiram a ajuda dos índios carijós.

A construção de um barracão de taipa, junto a uma aldeia de índios deu-se no dia 24 de janeiro. No dia 25 de janeiro de 1554, dia da conversão de São Paulo, Apóstolo, ao cristianismo, celebrou-se a primeira missa. Nascia então a Vila de São Paulo.

No mesmo ano, por instrução de Manuel da Nóbrega, José de Anchieta e outros doze missionários fundaram o Colégio de São Paulo de Piratininga.

A invasão dos franceses

Em 1555 os franceses se instalam na baía da Guanabara. Em 1557, Mem de Sá, o novo Governador Geral, obtém uma vitória frente aos invasores, mas não consegue expulsá-los do solo brasileiro.

Em 1562, os índios tamoios estimulados pelos franceses atacam a vila de São Paulo, mas com a ajuda das tribos vizinhas e dos colonos a vila é reconquistada.

No dia 21 de abril de 1563, Nóbrega e Anchieta, partiram de São Vicente em missão pacificadora e rumaram para Iperoig (atual Ubatuba). Porém, Anchieta foi mantido refém pelos tamoios e Nóbrega acompanhado de dois caciques retornaram para São Vicente para negociar com os portugueses e os tupiniquins.

Após meses de negociações o tratado de paz foi celebrado. Porém, a paz durou pouco. Em 1565 intensificaram-se as lutas no Rio de Janeiro, quando Estácio de Sá, sobrinho do governador tentava aportar na baía da Guanabara.

Manuel da Nóbrega e Anchieta conseguiram recrutar muita gente e reforçar a armada de Estácio. Os combates se acirraram até a vitória portuguesa, com os tamoios subjugados e os franceses expulsos em 18 de janeiro de 1567.

O Padre Manuel da Nóbrega e José de Anchieta voltaram para São Vicente. As escolas que estavam localizadas em Piratininga, São Vicente, Santos e Vitória permaneceram sob a jurisdição administrativa e eclesiástica de Nóbrega.

No Rio, Nóbrega assumiu a reitoria do colégio, e Anchieta tornou-se seu auxiliar. Foram recebidos, em meados de 1567, por Mem de Sá, que logo reuniu muita gente para auxiliar na construção do colégio, que finalmente foi instalado.

O Padre Manuel da Nóbrega faleceu no Rio de Janeiro no dia 18 de outubro de 1570. Foi então substituído por José de Anchieta.

Cartas do Padre Manuel da Nóbrega

  • Diálogos Sobre a Conversão do Gentio (1557, primeira prosa da literatura brasileira)
  • Cartas do Brasil (1549-1570)
  • Tratado Contra a Antropofagia (1559)
  • Caso de Consciência Para a Liberdade dos Índios (1567)
Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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