José Mindlin

Bibliófilo e empresário brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de José Mindlin

José Mindlin (1914-2010) foi um bibliófilo, empresário e advogado brasileiro. Formou a maior e mais relevante biblioteca privada do país, com 45 000 volumes.

José Mindlin (1914-2010) nasceu em São Paulo, no dia 8 de setembro de 1914. Filho de imigrantes judeus russos que vieram para o Brasil e se instalaram em São Paulo. Herdou do pai a paixão pela cultura e pela arte. Teve contato desde cedo com estudiosos e escritores, como Mário de Andrade. Aos 13 anos entrou em um sebo em São Paulo e comprou seu primeiro livro: Discurso sobre a História Universal, de 1740, escrito pelo bispo francês Jacob Bossuet.

Aos 15 anos iniciou sua carreira como jornalista no diário O Estado de São Paulo. Mais tarde, ingressou no curso de Direito na Universidade de São Paulo, em seguida, fez um curso de extensão em Nova Iorque. Na universidade, conheceu sua futura esposa Guita Mindlin, especialista em restauração de livros e editora.

Na década de 40 assumiu a vice-presidência da Congregação Israelita de São Paulo e prestou auxílio aos judeus perseguidos por regimes fascistas em alguns países europeus. Sua atuação como advogado foi o início de seu grande passo como empreendedor, quando em 1949, junto com outros sócios, fundou a Metal Leve, fabricante de peças automotivas. Mindlin fez dela um exemplo de empresa nacional moderna. A Metal Leve chegou a ter 7 mil funcionários e duas fábricas nos Estados Unidos.

Em 1960, José Mindlin assumiu a presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP. Em 1965 construiu em sua casa o primeiro espaço para abrigar sua vasta biblioteca. Em 1975, com o país sob a ditadura militar, assumiu a Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. Atuou diretamente na publicação e reedição de títulos importantes da literatura nacional. Promoveu melhorias na Pinacoteca do Estado, no Arquivo Público e na Orquestra Sinfônica. No ano seguinte, enfrentou um duro golpe com a prisão e a morte nos porões da repressão do jornalista Vladimir Herzog, que ele próprio havia indicado para chefiar o jornalismo da TV Cultura. Irredutível, pediu demissão do cargo.

Em 1984, José Mindlin herdou a biblioteca do bibliófilo Rubens Borba de Moraes, ampliando assim seu rico acervo. Na década de 1990, parte de suas gravuras e de seus livros são apresentados em diversas mostras realizadas no Brasil e no exterior. Em 1995 passou a presidir a Associação de Bibliófilos do Brasil. Em 1996 recebeu o Título de Doutor Honoris Causa da Brown University. Nesse mesmo ano, o empresário vendeu a companhia Metal Leve, para a maior concorrente, a alemã Mahle, e passou a devotar em tempo integral à sua coleção.

Na casa espaçosa em que moravam, Mindlin e sua mulher, Guita (falecida em 2006), cuidaram por seis décadas da maior e mais relevante biblioteca privada do país, com 45 000 volumes. Entre as raridades figuram um volume da primeira edição de Os Lusíadas, de Luís de Camões (de 1572), os originais de Grandes Sertões: Veredas, de Guimarães Rosa e a primeira edição ilustrada dos Triunfos, de Petrarca, impressa em 1488 - o livro mais antigo da coleção.

José Mindlin realizou em vida o seu maior sonho, que era garantir o acesso da posteridade a seus tesouros. Em 2006, depois de quinze anos de luta contra entraves burocráticos, finalmente conseguiu a transferência da parte de seu acervo dedicada ao Brasil, com 25 000 volumes, para a Universidade de São Paulo. Nesse mesmo ano, foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras.

José Mindlin faleceu em São Paulo, no dia 28 de fevereiro de 2010.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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