João I de Portugal

Décimo rei de Portugal
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de João I de Portugal

João I de Portugal (1357-1433) foi o décimo rei de Portugal, sendo o primeiro da Dinastia de Avis, a segunda dinastia de Portugal. O seu reinado durou 48 anos, entre 1385 e 1433.

Apesar de ser filho ilegítimo do rei, foi nomeado mestre da Ordem Militar de Avis com apenas seis anos de idade. Seu reinado foi marcado por um período de expansão, pela luta com os mouros, no Marrocos, e pelo descobrimento de novas terra, pelo mar. Foi cognominado “O de Boa Memória”.

João I de Portugal nasceu em Lisboa, no dia 11 de abril de 1357. Era filho ilegítimo do rei Pedro I de Portugal e de sua amante D. Teresa Lourenço, portanto, estava fora da linha de sucessão, e foi criado na casa de Lourenço Martins, um ilustre cidadão da cidade.

Posteriormente, foi entregue aos cuidados do mestre da Ordem de Cristo. Em 1363, com a morte de D. Martins Avelar, mestre da Ordem de Avis, João foi nomeado mestre da Ordem Militar de Avis. Foi educado pelo comendador-mor da ordem, passando a residir em Avis. O Infante aprendeu a arte da cavalaria e tornou-se um dos jovens mais cultos da ordem, desempenhando importantes papéis para a defesa do reino.

Em 1383, com a norte do rei Fernando I, seu meio irmão, filho de Pedro I, e da rainha D. Constança, a regência do trono caberia à viúva, Leonor Teles, conforme o Tratado de Salvaterra, até que sua filha Beatriz, casada com D. João I de Castela, viesse a ter um filho varão.

O fato de João de Portugal ter sangue real e de ser visto como líder provável do partido que se opunha à parceria Leonor Teles com Fernando, Conde de Andeiro, amante de Leonor, resultou na prisão do Infante, que mais tarde foi libertado com a ajuda do conde de Cambridge, chefe do contingente inglês em Portugal.

A oposição à regência de Leonor Teles e à influência do conde foi crescendo entre a nobreza, e em várias cidades e vilas eclodiram tumultos, dando início à uma guerra civil, que resultou na morte do Conde de Andeiro, assassinado pelas mãos do mestre de Avis.

Em dezembro de 1383, D. Leonor pediu ajuda a João I de Castela, a fim de garantir a continuação da regência. Teve início a guerra com Castela, comandada pelo próprio monarca. Em janeiro de 1384, Leonor Teles renunciou à regência, em favor da sua filha e do rei de Castela.

O tumulto então criado culminou na nomeação de D. João, mestre de Avis, como “Regedor e Defensor do Reino”. A reação imediata de D. João foi reorganizar as forças disponíveis para combater a invasão castelhana.

Em 6 de abril de 1384, em Atoleiros, atual concelho de fronteira, o exército chefiado pelo general Nuno Álvares Pereira venceu os castelhanos, que sofreram pesadas baixas. Em maio, o Porto resistiu ao ataque dirigido pelo bispo de Santiago de Compostela, do qual participaram nobres portugueses partidários de D. Beatriz.

Por fim, Lisboa foi cercada por terra e pela foz do rio Tejo, porém, contou com a ajuda da peste que atacou os castelhanos e dizimou grande parte do seu exército e de sua armada, resultando na retirada do invasor para Castela.

Rei de Portugal (1385-1433)

A posição do mestre de Avis saiu prestigiada dos confrontos bélicos contra Castela, e no dia 6 de abril de 1385, com a presença de representantes do clero, da nobreza, dos conselhos, e com a intervenção do jurisconsulto João da Regras e de Nuno Álvares Pereira, D. João foi aclamado rei de Portugal.

As campanhas militares continuaram com a vitória dos portugueses em Trancoso, em 29 de maio. Seguiu-se a vitória na Batalha de Aljubarrota, em 14 de agosto. A grande vitória conquistada em Aljubarrota foi assinalada com a construção do Mosteiro da Batalha, monumento que levou mais de cem anos para ser concluído. Outra obra de grande importância em seu reinado foi o Convento do Carmo, em Lisboa

João I de Portugal
Mosteiro da Batalha

Logo após a batalha, o rei desenvolveu intensa atividade diplomática com a Inglaterra. Em 1386 foi assinado o tratado de Windsor, reafirmando a aliança entre os dois reinos. A Inglaterra reconheceu a nova “Dinastia de Avis”. Nessa mesma época, acertou o seu casamento com a filha do duque, Filipa de Lencastre.

Outras batalhas foram travadas, mas em 1389 portugueses e castelhanos assinam uma trégua, até o definitivo estabelecimento da paz em 1411, com o tratado de Ayllón.

Estabelecida a paz, D. João preparou-se para a expansão territorial do país. Em 1415 ocorreu a tomada de Ceuta, a primeira conquistada aos mouros fora da Europa. Chegaram à ilha de Porto Santo em 1418, à ilha da Madeira em 1419, e depois à ilha dos Açores, em 1427, bem como seu povoamento e ainda a exploração da costa africana.

Casamento e filhos

Para fortalecer a aliança Luso-Britânica, chegou a Portugal, D. Filipa de Lencastre, prometida ao rei João I de Portugal. Filipa nasceu na Inglaterra e pertencia à alta nobreza. Era neta do rei Eduardo III da Inglaterra, e filha de João de Gaute, primeiro duque de Lencastre, e da sua primeira mulher, a duquesa D. Branca. Era irmã de Henrique IV.

Ao chegar em Portugal, Filipa alojou-se no Porto, nos Paços do Bispo, onde ela e o rei se viram pela primeira vez. Depois do primeiro encontro, João enviou-lhe joias e outros presentes.

No dia 2 de fevereiro de 1387, João I de Portugal casou-se com Filipa de Lencastre, que manteve sempre ligações com a Inglaterra o que ajudou a estreitar as relações entre os dois países.

Desse casamento nasceram oito filhos, que educou em estilo inglês. Pela formação brilhante, seis chegaram à idade adulta, foram glorificados na obra de Camões e passaram para a História como a Ínclita Geração:

  • Branca (1388-1389) morreu com cerca de 1 ano de idade;
  • Afonso (1390-1400) morreu com 10 anos de idade;
  • Duarte I de Portugal (1391-1438) foi rei de Portugal, poeta e escritor;
  • Pedro (1392-1449) duque de Coimbra. Foi regente durante a menoridade do seu sobrinho, o futuro rei Afonso V. Foi cavaleiro da Ordem da Jarreteira. Morreu na Batalha de Alfarrobeira;
  • Henrique (1394-1460) Duque de Viseu, O Navegador;
  • Isabel (1397-1471) casou-se com Filipe III, Duque da Borgonha;
  • João (1400-1442) avô de Isabel de Castela;
  • Fernando (1402-1443) o Infante Santo.

D. Filipa morreu de peste negra nos arredores de Lisboa, pouco antes de partir para uma expedição a Ceuta, no dia 18 de julho de 1415, com cinquenta e seis anos.

Apesar de seu casamento ter sido descrito como feliz, D. João não fugiu à tradição das amantes. Com a amante Inês Pires, filha de Pêro Esteves, nasceram D. Afonso (1377-1461), futuro duque de Bragança, e D. Beatriz (1388-1439), mais tarde condessa de Arundell, na Inglaterra.

Uma das lendas associadas ao seu apego às mulheres é a Sala das Pegas, uma das salas do Palácio de Sintra. Dela se diz que D. Filipa surpreendeu seu esposo beijando uma dama da corte.

A política de casamentos levada por seus descendentes permitiu que os diversos monarcas da Europa fossem descendentes de João I. Além de reis de Portugal, foram reis da Espanha, França e imperadores do Sacro Império.

Últimos anos e sucessão

Em 1420, seu filho Henrique, o navegador, tornou-se administrador da Ordem de Cristo, a partir de então as velas das embarcações passaram a usar a Cruz de Cristo.

O reinado de João I de Portugal durou 48, foi o mais longo da Monarquia Lusa. Faleceu no dia 13 de agosto de 1433, mas por uma questão dinástica, a data foi alterada para 14. Seus restos mortais estão na Capela do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.

D. Duarte, não seria o herdeiro da coroa portuguesa, mas a morte do irmão mais velho fez dele o sucessor de D. João I.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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