Fernando I de Portugal

Nono rei de Portugal
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Fernando I de Portugal

Fernando I de Portugal (1345-1383) foi o nono rei de Portugal, o último da Dinastia de Borgonha. Reinou durante 16 anos, de 1367 e 1383. Foi autor de uma das mais importantes leis portuguesas, a das sesmarias, que acabou com a propriedade improdutiva.

Fernando I de Portugal nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 31 de outubro de 1345. Era filho do rei D. Pedro I de Portugal e da rainha D. Constança, filha de D. João Manuel, príncipe de Vilhena, duque de Penafiel, e de D. Constança, infanta de Aragão, filha do rei D. Jaime II.

D. Constança vivia abalada com a traição do marido, que cortejava D. Inês de Castro, sua dama de companhia. Começou a ter problemas de saúde, aliado ao falecimento do seu filho Luís, em 1344. Cinco anos depois, em 1349, D. Constança morreu de parto no nascimento de sua filha Maria.

Órfão aos quatro anos de idade, Fernando foi criado por uma ama de confiança. O pequeno infante vivia em Lisboa, nos paços reais do avô, o rei D. Afonso IV de Portugal, sendo educado como príncipe que, um dia, haveria de subir ao trono de Portugal.

Reinado

Com a morte do rei, D. Pedro I de Portugal, em 18 de janeiro de 1367, D. Fernando I, com vinte e um anos, assumiu o tono. Era um jovem belo e valente, amante das caçadas e das mulheres, recebeu o cognome de o Formoso.

Fernando herdou um cofre real com mais de oitocentas mil peças de ouro, quatrocentos mil marcos de prata, além de muitas peças de grande valor. Foi lhe atribuída a instalação do tesouro real e dos arquivos do reino na torre mais alta do Castelo de São Jorge, a Torre do Tombo.

Guerras Fernandinas

Fernando I era bisneto de Sancho IV de Castela por parte de sua avó paterna, Beatriz, e assim, envolveu-se em três guerras com o reino de Castela, reclamando para si a Coroa de Castela.

A primeira guerra se deu em 1369, após a morte de D. Pedro I de Castela, primo direto de Fernando, que foi morto por Henrique de Trastâmara, irmão bastardo de Pedro, que se declarou rei como Henrique II de Castela.

Com o apoio dos fidalgos partidários de D. Pedro, D. Fernando tentou entrar em Castela. Em nome da ambição, inicialmente invadiu a Galícia e no ano seguinte atacou Cádis, pelo mar, e bloqueou Sevilha.

Em consequência, Henrique II atravessou o Minho, entrou em Portugal, tomou Braga, Bragança, Vinhais e Miranda. Porém, essas conquistas foram interrompidas, pois o rei mouro de Granada atacou a Andaluzia, o que obrigou Henrique a partir em socorro de sua fronteira meridional.

Em 1371, D. Fernando I foi obrigado a pedir a paz e assinou um acordo com a intervenção do Papa Gregório XI e do rei da França. O “Tratado de Alcoutim” foi assinado, e incluía o alargamento da fronteira de Portugal para o norte e para o leste, e o casamento do monarca português com D. Leonor de Castela, filha de Henrique II. Casamento este que não aconteceu.

A segunda guerra começou quando D. Fernando apoiou o direito de João de Gaunt, duque de Lancaster, de assumir a coroa de Castela. Filho do rei inglês Eduardo III, tinha o direito adquirido com o casamento, em 1371, com Constança de Castela, filha de Pedro I, e com o respaldo das alianças feitas com a coroa de Aragão e com o rei mouro de Granada.

Em represália, Henrique II entrou pela fronteira de Beira em uma campanha que chegou até Cascais e depois em Lisboa. Os castelos foram saqueados e queimados.

A paz entre Portugal e Castela só foi assinada em 1373, com o “Tratado de Santarém”, onde a corte portuguesa estava instalada. Nele, o Reino de Portugal se obrigava a aliar-se à Castela e à França na Guerra dos Cem Anos, contra a Inglaterra, enviando auxílios, e expulsando os exilados castelhano e ingleses, que tinham lutado ao lado do rei.

D. Fernando pagou uma volumosa indenização e prometeu em casamento a sua meia-irmã, D. Beatriz, a Sancho de Albuquerque, irmão de Henrique II. Após o acordo, D. Fernando tratou de organizar o reino e mandou construir novas muralhas em Lisboa, Évora e em Porto, o que deram origem às “Muralhas Fernandinas”.

Fernando I de Portugal
Muralha Fernandina do Porto

Com a morte de Henrique II, João de Gaunt reclamou novamente seus direitos, mas o novo rei de Castela, filho de Henrique II, assumiu o tono com o título de João I de Castela.

O rei de Portugal, em missão secreta, preparou-se para receber as tropas inglesas na Península Ibérica. Porém, o novo rei de Castela invadiu a fronteira. Durante a guerra, grande parte da frota portuguesa foi destruída em uma batalha naval. Finalmente, em 1382 chegou ao fim a última guerra entre Portugal e Castela, pelo “Tratado de Elvas”.

Um ano depois, em 2 de abril de 1383, foi celebrada a paz quando D. Fernando I propôs ao monarca João I de Castela que se casasse com sua filha Beatriz. O enlace foi acordado através do “Tratado de Salvaterra de Magos”.

Nesse período de guerras, as relações com a Igreja foram marcadas pelo “Cisma do Ocidente”, com a existência de dois Papas, Urbano VI, em Roma, e Clemente VII, em Avinhão, França. Essa grave divisão no Catolicismo tinha consequências nos alinhamentos das principais monarquias da Cristandade ocidental, como França e Castela a apoiarem o papa de Avinhão, e a Inglaterra a tomar partido pelo de Roma.

D. Fernando hesitou inicialmente e foi mudando a sua posição de acordo com as alianças político-diplomáticas que ia estabelecendo. Em 1378 apoiou Clemente VII, para em seguida, fazer aliança com a Inglaterra e reconheceu Urbano VI como papa legítimo. Estas mudanças lhe valeram o cognome de O Inconstante.

Política interna

Embora dedicado às guerras e com enormes despesas, o rei Fernando I tentou superar a crise econômica mediante a criação de impostos sobre o comércio. Promulgou leis que incentivaram o progresso da Marinha, do Exército, da agricultura e do comércio exterior.

A “Lei das Sesmarias” (1375) – que visava recuperar a agricultura, tornava obrigatório o cultivo das terras abandonadas sob pena de serem repatriadas, fomentou a lavoura portuguesa e a produção de alimentos.

O rei incentivou a construção de navios e criou a “Companhia das Naus”, um seguro para os donos das embarcações com mais de cinquenta toneladas que, mediante uma contribuição, teriam direito de recorrer ao fundo para substituir os navios afundados ou pirateados.

Durante o reinado de D. Fernando I alargaram-se as relações mercantis com os numerosos mercadores de diversas nacionalidades, como relatou o escrivão e cronista-mor do Reino de Portugal, Fernão Lopes.

Casamento e filhos

D. Fernando prometeu casar com D. Leonor de Castela diante do acordo de paz assinado em 1371. Porém, este acordo foi quebrado pelo rei que preferiu casar com Leonor Teles. O casamento com Leonor Teles estabeleceria uma aliança com um dos mais poderosos membros da alta nobreza, João Afonso Telo, tio da rainha, conde de Barcelos e Ourém.

D. Leonor já era casada com João Lourenço da Cunha, com quem teve um filho. Para casar com Fernando I, obteve a anulação do casamento, realizado quando estava com 15 anos, alegando razões de parentesco.

O escândalo foi grande e o povo reagiu manifestando-se contra o casamento de Fernando I com Leonor Teles, mas o rei reprimiu violentamente os protestos. Em 15 de maio de 1372, o casal fugiu de Lisboa e casou-se secretamente no Mosteiro de Leça do Balio. No ano seguinte nasceu Beatriz, que mais tarde se casou com o rei D. João I de Castela, colocando o país em risco.

Consta que D. Fernando teve uma filha nascida de uma relação anterior, D. Isabel, senhora de Viseu, casada com Afonso Henriques, conde de Gijón e Noronha.

Morte e sucessão

Com a morte de Fernando I, em 22 de outubro de 1383, pouco antes de completar 38 anos, a dinastia de Borgonha chegava ao fim. Leonor Teles assumiu a regência e passou a viver com o conde Andeiro, João Fernandes Andeiro, um fidalgo espanhol que o povo acusava de ser seu amante ainda em vida de D. Fernando.

No mesmo ano, realizou-se o casamento da infanta Beatriz, com João I de Castela, de acordo com o tratado de Salvaterra. Beatriz perdeu os direitos ao trono português em benefício do futuro João I de Portugal, irmão de Fernando I, filho bastardo de D. Pedro e de D. Teresa Lourenço.

Diante das tensões, o conde Andeiro foi morto pelas mãos de D. João, mestre de Avis, que corria risco de vida, em 6 de dezembro de 1383. Em janeiro de 1384, Leonor Teles renunciou a regência, em favor de sua filha e do rei de Castela.

As reações contra a aclamação de João I de Castela e de sua mulher D. Beatriz como reis de Portugal causou grande tumulto na população, em alguns nobres e na burguesia. Respondendo aos apelos de grande parte dos portugueses, D. João, mestre de Avis, foi aclamado Regedor e Defensor do Reino.

Em 1384 o rei de Castela invadiu Portugal na tentativa de anexar o território às suas posses. O mestre de Avis defrontou-se com o exército castelhano perto da fronteira, e os derrotou nas batalhas de Atoleiros e Aljubarrota.

No fim do conflito, D. Leonor Teles foi levada para Castela e enclausurada no Convento de Tordesilhas, em Valladolid, onde veio a falecer. Em 6 de abril de 1385, nas cortes de Coimbra, João I de Portugal, mestre da Ordem Militar de Avis, foi aclamado rei de Portugal.

D. Fernando, que havia falecido em 22 de outubro de 1383, foi sepultado no Convento de São Francisco, em Santarém, conforme deixado em seu testamento. Em 1875, seu túmulo foi levado para o museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa.

Fernando I de Portugal
Túmulo de Fernando I de Portugal

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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