Josué de Castro

Médico e pesquisador brasileiro
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Josué de Castro

Josué de Castro (1908-1974) foi um médico, pesquisador e professor brasileiro. Pesquisou os problemas da fome e da miséria no Brasil. Realizou conferências e estudos sobre a fome em vários países. Foi professor em diversas universidades no Brasil e da Universidade de Vincennes, na França.

Josué Apolônio de Castro nasceu no Recife, Pernambuco, no dia 5 de setembro de 1908. Filho de Manoel Apolônio de Castro, proprietário de terras, e de Josefa Carneiro de Castro, professora, de família de classe média vinda do sertão do Estado.

Josué fez seus primeiros estudos em casa, com sua mãe. Foi aluno do Colégio Carneiro Leão e depois ingressou no Ginásio Pernambucano. Foi para o Rio de Janeiro estudar Medicina na Faculdade Nacional de Medicina do Brasil, onde permaneceu durante seis anos.

Em 1929, já formado, voltou para o Recife, preocupado com as condições de saúde da população. Encontrou a cidade num período de agitação política pela campanha da Aliança Liberal e pela Revolução de 30.

Pesquisador

Inicialmente manteve-se longe da militância político-partidária. Desenvolveu trabalhos de pesquisas em bairros operários da capital pernambucana, privilegiando os problemas ligados à alimentação e habitação.

Seus estudos o levaram a descobrir que a fome era uma verdadeira catástrofe social. Era contra a afirmação de alguns estudos que admitiam que a fome é decorrente das condições físicas, climáticas e étnicas.

Josué concluiu que o problema da região e do país não era climático nem étnico, mas social, que resultava das estruturas econômicas e sociais impostas no período colonial e mantidas nos períodos Imperial e Republicano.

Concluiu que as camadas situadas na base da pirâmide estavam inferiorizadas porque moravam mal, comiam mal ou não comiam e não tinham acesso aos serviços essenciais.

Em 1932, publicou o livro "Condições de Vida das Classes Operárias do Recife". Era professor de Fisiologia na Faculdade de Medicina do Recife.

Após a Revolta Comunista de 1935, Josué transferiu-se para o Rio de janeiro, lecionou Antropologia na Universidade do Distrito Federal e realizou trabalhos em missões do governo federal.

Em 1936, publicou o livro "Alimentação e Raça". Em 1939 foi convidado oficial do governo italiano para realizar conferências nas universidades de Roma e de Nápoles, sobre "Os Problemas de Alimentação Humana nos Trópicos".

A partir de 1940, Josué de Castro passou a trabalhar no Serviço de Alimentação e de Previdência Social (SAPS) e fundou a Sociedade Brasileira de Alimentação.

Foi convidado oficial de vários países para estudar os problemas de alimentação e nutrição, esteve na Argentina em 1942, Estados Unidos, em 1943, República Dominicana e México, em 1945 e França em 1947.

Geografia da Fome

Em 1946, Josué publicou o livro "Geografia da Fome", que estuda o problema da fome no Brasil, onde demonstra que as causas da fome são sociais e não naturais.

Na obra ele divide o território brasileiro em cinco Regiões. Em duas delas há incidência de fome endêmica e nas outras de fome epidêmica.

Na Amazônia, por exemplo, a fome decorria sobretudo da incapacidade do homem de explorar os recursos naturais e também da maneira de exploração imposta na área durante a fase da borracha priorizando a exportação.

O Nordeste úmido foi vítima da colonização que destruiu o ecossistema para substituí-lo pela cultura da cana-de-açúcar, impedindo a produção de alimentos necessários à população.

No sertão semiárido, observa-se que nos anos em que há chuvas normais, a população se alimenta, havendo a ocorrência de fome quando o ano é de seca, a produção agrícola não se realiza, o gado morre e a população é forçada a migrar à procura de alimento.

Campanha Mundial Contra a Fome

Em 1951, Josué foi eleito presidente do Conselho da Food and Agricultural Organization (FAO), passando a viajar por vários países e visualizar os problemas da fome, sobretudo nos países subdesenvolvidos.

Como presidente da FAO, Josué de Castro lançou a campanha mundial contra a fome e propôs a criação de uma reserva mundial contra a fome, contrariando os interesses dos grupos econômicos nacionais e internacionais.

A Geopolítica da Fome

No livro “A Geopolítica da Fome” (1952) Josué transfere o seu raciocínio para a escala mundial, constatando que o subdesenvolvimento é uma consequência do processo de colonização.

Explica que o processo de colonização, através do qual os países ricos, colonizadores, reorganizaram o território dos países colonizados em função dos interesses próprios.

Político

Após a redemocratização, Josué de Castro foi eleito deputado federal por Pernambuco, pelo Partido Trabalhista Brasileiro, de 1954 a 1958 e de 1958 a 1962.

No parlamento, Josué apoiou os projetos de reformas da base e a posse de João Goulart na presidência da República, quando Jânio Quadros renunciou.

Apoiou o reatamento das relações diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética e apoiou a Revolução Cubana. Aprovava a campanha em favor da reforma agrária.

Em 1962, foi designado embaixador do Brasil na Conferência Internacional de Desenvolvimento, em Genebra, na Suíça. Compreendendo que sua ação a partir daí deveria se fazer no plano internacional, Josué renunciou o seu mandato de deputado e se mudou para Genebra.

No entanto, em 1964, o presidente João Goulart foi deposto por um golpe militar, chefiado pelo general Castelo Branco e Josué teve seus direitos cassados, perdendo o cargo de embaixador.

Exilado, Josué de Castro mudou-se para Paris, onde foi nomeado professor de Geografia da Universidade de Vincennes, onde desenvolveu pesquisas e viajou para diversos países da Europa, África e América Latina, que procuravam seu apoio.

Josué de Castro faleceu em Paris, França, no dia 24 de setembro de 1974. Seu corpo foi transladado e sepultado no Rio de Janeiro.

Frases de Josué de Castro

Metade da humanidade não come; e a outra não dorme, com medo da que não come.

A fome é a expressão biológica de males sociológicos.

Grupos inteiros de populações se deixam morrer lentamente de fome, apesar de comerem todos os dias.

O "progresso social" não se exprime apenas pelo volume da renda global ou pela renda média per capita, que é uma abstração estatística.

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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