Maria Madalena

Discípula de Cristo
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora

Biografia de Maria Madalena

Maria Madalena é a figura mais misteriosa do Novo Testamento. Em três evangelhos, ela é mencionada na crucificação e no sepultamento de Jesus. Nos quatro livros (Lucas, João, Mateus e Marcos), ela é testemunha da tumba vazia, símbolo da ressurreição de Cristo. E em dois deles foi a primeira a ver Jesus ressuscitado.

A Maria Madalena, sinônimo de luxuria e arrependimento surgiu apenas no século IV, com a ascensão da Igreja de Roma. Maria Madalena e Maria pecadora são a mesma pessoa segundo o Papa Gregório, estudioso dos Santos.

É quase consenso entre os pesquisadores, que “Madalena” identifica sua cidade de origem, “Magdala”, uma vila de pescadores localizada a 7 quilômetros de Cafarnaum, nas margens do Mar de Galileia que serviu de base para Jesus em sua vida adulta.

Madalena dos evangelhos canônicos

Os quatro evangelhos: Lucas, João, Mateus e Marcos, foram escritos em épocas diferentes. O mais antigo deles, seria o de Marcos. O relato dele teria servido de base para grande parte do de Mateus e Lucas. O de João teria sido escrito entre 90 e 110 da Era Cristã.

As descrições dos evangelhos sobre o mesmo episódio contradizem uma das outras. E isso acontece em importantes episódios sobre a vida de Maria Madalena.

O único evangelho que fala de Maria Madalena antes da crucificação de Jesus é o de Lucas: “Andava de cidade em cidade pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus. Madalena, junto a Joana, Suzana e outras mulheres serviam com seus bens a Jesus e seus discípulos, durante sua pregação na Galileia.”

O evangelista Lucas situa Maria Madalena entre as seguidoras de Jesus, tão discípula quanto os homens que o rodearam na célebre Santa Ceia.

É só no Evangelho de Lucas que surge algum indício de um passado muito intrigante: “Jesus teria libertado Maria Madalena de sete demônios”.

No livro de Lucas, ela e outras mulheres só ficam sabendo que Jesus voltou à vida por um recado de anjos. Quando eles vão levar a mensagem aos discípulos, nenhum deles acredita. Segundo Lucas, a primeira aparição de Jesus acontece para Pedro, o mais proeminente dos apóstolos, primeiro líder cristão em Roma.

No capítulo 7, Lucas descreve uma cena que aparece em todos os evangelhos: uma mulher vem urgir Jesus. Segundo ele, quem unge os pés de Jesus é uma “mulher da cidade, uma pecadora” – eufemismo para prostituta. A ação dela é de arrependimento e amor.

Em Marcos e Mateus, quem faz isso é uma figura anônima, que unge a cabeça de Jesus, como se fazia com líderes importantes.

Em João, a responsável pela unção feita nos pés de Cristo foi Maria, irmã de Marta e Lázaro – aquele a quem Jesus ressuscitou.

Maria Madalena
Marta e Maria Madalena (Caravaggio - 1598)

Segundo o relato do evangelista João, dentre todos os discípulos, Madalena foi a escolhida como a primeira testemunha da ressurreição de Cristo e a encarregada de dar a boa nova aos seus companheiros.

Os evangelhos são unânimes em afirmar que Maria Madalena permaneceu firme, com outras mulheres, junto à cruz durante a crucificação de Jesus e depois no sepultamento. Madalena ainda voltou ao sepulcro de Cristo no domingo de manhã, mas para sua surpresa, ela encontrou a tumba vazia.

João detalha que ao encontrar o sepulcro vazio Madalena se desespera e corre para chamar os discípulos, mas só dois a acompanham. Eles veem a tumba vazia, não entendem nada e voltam para casa.

Madalena permanece no local e Jesus aparece e lhe pergunta “Por que choras?”. Ela só o reconhece quando ele a chama pelo nome. Ele pede que Madalena vá aos apóstolos contar sobre a ressurreição. É dela a frase: “Eu vi o Senhor”.

O relato de uma mulher adúltera apedrejada e absolvida quando Jesus diz “atire a primeira pedra quem não tem pecado”, que aparece no Evangelho de João, não está comprovado que fizesse referência a Maria Madalena.

Maria Madalena
Madalena Penitente (Ticiano - 1560)

Em 591, o Papa Gregório I teria se referido a Maria Madalena como a junção das três mulheres diferentes: a pecadora, que unge os pés de Jesus, da mulher de Magdala, que liberta de sete demônios, e de Maria de Betânia, irmã de Lázaro e Marta. A partir de então, o culto a Maria Madalena floresceu em todo o mundo.

Maria Madalena, segundo a tradição francesa, evangelizou a Provença e, depois de passar os últimos trinta anos de vida em uma caverna nos Alpes, morreu na cidade francesa de Aix. Na tradição ocidental, acompanhou São João o Evangelista a Éfeso, na moderna Turquia, onde morreu e foi enterrada.

Em 2016, a Igreja Católica consagrou Maria Madalena como evangelista. O Papa Francisco transformou a data de Maria Madalena, 22 de julho, à categoria de festa litúrgica. O Papa ainda resgatou o título de “Apóstola dos Apóstolos”.

Evangelhos apócrifos

Quando a Igreja começou a unificar o cristianismo, escolheu entre os manuscritos mais antigos aqueles que seriam considerados oficiais, inspirados por Deus. Aos textos que ficaram fora do crivo da Igreja se dá o nome de apócrifos.

É nesses textos que se encontra uma Maria Madalena diferente. Ela serve de porta voz dos discípulos junto a Jesus, uma figura que entende os ensinamentos melhor que os demais seguidores. Aparece também como uma mulher bem mais íntima de Jesus do que os evangelhos canônicos dão a entender.

Uma versão original do “Evangelho de Maria” teria sido escrita entre 125 e 175 da era cristã - e não por ela, foram descobertos em 1945, na aldeia egípcia de Nag Hammadi.

Nas 19 páginas que restaram do manuscrito, Jesus aparece dando as últimas instruções para seus discípulos, ordenando que preguem sobre o Reino dos Céus. Maria Madalena aparece abraçando a todos e garantindo que a graça de Jesus vai protegê-los.

Um trecho indica a sabedoria de Maria que os discípulos não tinham. Em um trecho Pedro diz: “Por que deveríamos escutar essa mulher?”. Levi sai em defesa de Maria dizendo que Jesus a amava mais do que a todos eles.

O mesmo tipo de declaração foi descrito no Evangelho de Filipe escrito nos anos 200 da Era Cristã, quando ele defende que Jesus foi casado com Madalena. Ela é citada, pela primeira vez, entre outras duas Marias da vida de Jesus: “Andavam com o Senhor três Marias. Uma, sua mãe, outra sua irmã e a outra sua companheira”.

Filmes

Madalena já apareceu em mais de 30 filmes - quase sempre como uma linda mulher, sedutora. Em A Última Tentação de Cristo, obra de Martin Scorsese lançada em 1988, ela é vivida pela atriz Barbara Hershey. Que encarna a figura da prostituta - e, num devaneio épico quando Jesus está na cruz, é vista como esposa dele e grávida de seu filho.

Em A Paixão de Cristo, de 2004, Mel Gibson traz uma Madalena, vivida por Monica Bellucci, coberta de lama. Em entrevista da época, Gibson afirmou: "eu joguei lama nela e quanto mais lama eu jogava mais bonita ela ficava".

Leia também: Mulheres extraordinárias da Bíblia e seus importantes papéis na fé cristã

Dilva Frazão
É bacharel em Biblioteconomia pela UFPE e professora do ensino fundamental.
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